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TITTON-CABECA-COLUNA

Arte e escrita

31/12/2024
arte

Comemorando, hoje, a minha centésima coluna “Arte importa?”, aqui no HojePR e HojeSC, devo dizer que é uma coisa jamais imaginada por mim. É uma dessas surpresas que a vida e os amigos queridos nos presenteiam. Algumas vezes fáceis, mas, em geral, bem difíceis, os textos foram se sucedendo, de semana em semana, na busca de novos assuntos sobre esse tema de vital importância – que é a arte –, para compartilhar com vocês, sempre apoiada pelos meus parceiros de revisão e ilustração.

100- segunda ilustração-thumbnail_COLUNA_100-O Teatro e a Semana de Arte Moderna de São Paulo
“A Semana de Arte Moderna de São Paulo” – Capa do livro de Henrique Oscar – palestra proferida em evento comemorativo ao 60° aniversário da Semana de Arte Moderna de 22.

Quando se fala em escrever, logo me vem à cabeça a velha questão da “forma x fundo”, expressão que chamou a minha atenção pela primeira vez aos nove anos de idade, quando fazia um curso de teatro na Biblioteca Pública do Paraná (1958), ministrado por Henrique Oscar. Henrique Oscar da Silva Araújo (1925-2003), crítico teatral, autor e professor, assinou a coluna de teatro do jornal carioca Diário de Notícias entre 1950 e 1970. Vocês poderão pensar, “nossa, que menina precoce”! Nada disso! Levada por meu pai, que ao me fazer sentar na primeira fila do auditório, nas cadeiras Móveis Cimo do auditório da biblioteca, me deu uma caneta e um caderninho para fazer anotações. Perplexa, devo ter ficado desenhando e, se bem me lembro, tentando entender do que se falava, porque não tinha a menor ideia do que anotar e nem do porquê fazê-lo. Porém, dentre as coisas ouvidas que enriqueceram a minha vida, a partir desse evento, ficou a expressão “Forma e Fundo” e o nome de Adonias Filho (1915-1990), membro da Academia Brasileira de Letras, considerado o principal crítico literário do Brasil, a quem ele, o renomado palestrante, tantas vezes se referiu na ocasião. Forma e fundo, tema que nunca esqueci e que, na minha vida, foi sempre importante, tanto no pensamento quanto na criação e ensino da arte.

Imagem do livro "Ulysses" (1914-1921) - de James Joyce - publicado em 1922.
Imagem do livro “Ulysses” (1914-1921) – de James Joyce – publicado em 1922.

A escrita é composta por símbolos, caracteres, criados pelo homem na intenção de registrar e manter, através do tempo, o pensamento e atividades humanas. Esteve, desde o início, ligada ao desenho. Inicialmente, os registros deixados nas cavernas, na pré-história, não configurando escrita, tentavam comunicar o que os sumérios, na Mesopotâmia, mais tarde, por volta de 3500 a.C., conseguiram. Com o surgimento da escrita cuneiforme foi encerrada a Pré-História e iniciado o período da História. Outros sistemas foram criados, como os hieróglifos, pelos egípcios. Os fenícios desenvolveram o primeiro alfabeto. Os chineses, com seus milhares de símbolos, criaram uma escrita diferente da nossa, com caracteres que representam palavras, frases ou até ideias. As escritas representam os tipos de pensamento, alguns mais holísticos e outros mais lineares, como o alfabeto que usamos, herdado dos gregos e romanos.

Qual a melhor “forma” de transmitir, na escrita, o importante conteúdo, o tal “fundo”, através dos tempos? Na literatura a “forma” é rainha, os escritores ficam em busca da melhor maneira de transmitir a pretendida essência, sempre com a maior originalidade, clareza ou mesmo “complexidade”, como no caso de “Ulisses”, de James Joyce (1922), considerado um dos maiores romances do século XX, um clássico da literatura mundial. Eu, que nunca me aventurei por águas tão profundas, sou fã da literatura infantil, muitas vezes, de poucas palavras e muita ilustração, como em “A parte que falta”, de Shel Silverstein.

"A Parte que Falta Encontra o Grande O" - Shel Silverstein -1981- Harper & Row.
“A Parte que Falta Encontra o Grande O” – Shel Silverstein -1981- Harper & Row.

Aqui, no aniversário da coluna, “Arte importa?”, revendo alguns textos, percebo o passeio, sem muito compromisso com a forma, buscando compartilhar, basicamente, minhas experiências pessoais no mundo das artes e da criação em geral, tentando trazer a vocês, com a informalidade de uma conversa, em nossos encontros semanais, o que considero vital na vida do ser humano que é a arte, seja ela, na forma que for. Nesta data, especial para mim, deixo um sincero agradecimento ao público leitor que, generosamente nos tem acompanhado, especialmente àqueles que semanalmente comentam os textos, seja em função da forma ou do fundo, dando a mim, um importante feedback, do significado da arte em nossas vidas.

(Ilustração de abertura: Inscrição cuneiforme (detalhe) – aproximadamente 25 séculos – encontrada no leste da Turquia.)

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

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