Perceber é estar no mundo.
Perceber o mundo envolve todo o nosso ser, todos os nossos sentidos. Mas, hoje, eu gostaria de falar sobre olhar. Em sua obra “O Olho e o Espírito”, de 1963, o filosofo francês Maurice Merleau-Ponty observa que “O olho vê o mundo, e o que falta ao mundo para ser quadro, […] o olho é aquilo que foi comovido por um certo impacto do mundo, e que o restitui ao visível pelos traços da mão. Seja qual for a civilização em que nasça, […] desde Lascaux até hoje, pura ou impura, figurativa ou não, a pintura jamais celebra outro enigma a não ser o da visibilidade”.
Quando abro a janela pela manhã, posso estar acordado ou sonâmbulo em relação ao mundo que se descortina diante de mim. Posso estar vendo, mas não estar percebendo. O que seria perceber, então? Derivada do latim per+capio significa “apoderar-se de”, “obter”. Para que a percepção aconteça, é necessário que façamos uma escolha, que desejemos capturar para dentro de nós aquela parte do mundo que a janela aberta nos apresentou. É preciso que haja uma consciência para que nos apoderemos dela. Ao percebermos, organizamos e interpretamos as sensações que recebemos dos estímulos exteriores e interiores.
E por que isso tudo importa?
Por que escolho uma obra de arte para colocar na parede da minha casa? Ou uma escultura?
Suponho que sejam pedaços de um universo criados por uma pessoa que percebeu algo, guardou, roubou para si, transformou em obra sua, pelas suas próprias escolhas e experiências de seu mundo vivido e devolveu para nós. E eu, por que as escolho? Por que falam à minha alma? Relembram minhas próprias experiências, sentimentos? Vivências e sensações gravadas no inconsciente? Quanta riqueza!
Quando percebemos, estamos vivendo! Quando trazemos outros pedaços de mundo para nós, ampliamos esse nosso universo. Quando vamos ao museu, cinema, a uma peça de teatro, ou outro local onde acontecem manifestações artísticas, estamos nos dispondo a enriquecer nosso ser, estamos nos expondo e escolhendo vivenciar toda a diversidade da manifestação do outro, pois o artista que ali se mostra, também é exposto por sua obra. É uma troca entre a arte, seu criador e o observador. É um momento de comunicação de almas que se dá pelo olhar, através da tão propalada janela da alma.
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