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elizabeth titton

As fábulas

07/05/2024
fábulas

Parecem estar fora de moda os coelhos e tartarugas, formigas e cigarras, raposas e cegonhas. Os animais que costumavam proporcionar, em suas formas humanizadas e com suas vidas e aventuras, as histórias que nos davam a oportunidade de ao final encontrarmos “a moral da história”, têm andado meio esquecidos com tantos apelos bem mais contemporâneos e formas mais tecnológicas de se contar histórias. Essas ricas e divertidas sagas, muitas vezes dramáticas, são ricas metáforas da nossa vida.

Vololy e Pedro (2024)

Com um neto de cinco anos que gosta muito de livros, de contar e ouvir histórias, ando sempre atenta à literatura infantil. Tem muita coisa boa sendo produzida! Sempre gostei muito de livros infantis, tenho minha própria coleção. Pelas livrarias, obras lindamente ilustradas nos deixam sem saber o que escolher, levando em consideração a idade, os interesses de cada um. Por outro lado, muita coisa bonita, a um segundo olhar, perde totalmente a razão de ser: imagens vazias e textos dispensáveis.

Nem sempre acerto! Comprei um livro de mágicas para iniciantes, mas esqueci de verificar se na casa da criança tinha os materiais necessários para realizar os truques. Faltaram dados, barbantes e até mesmo o próprio baralho. Foi então, numa segunda visita (Florianópolis), que conseguimos, com muita alegria e surpresa, realizar alguns truques. Quer coisa melhor do que surpreender ou enganar os adultos? Ao conseguir, o guri gritou de espanto por ter conseguido o resultado no qual nem mesmo ele acreditava. Mas… depois vem o trabalho de praticar para não errar na hora “H”. Nada na vida é fácil! Nem para os mágicos!

”Esopo”, Diego Velázquez -1640, Museu do Prado

Em outra oportunidade, acertei em cheio: mitologia grega para crianças. Pedi às cegas, pela internet! Imagine só, para quem está na idade das aventuras e dos medos, ir conhecendo personagens estranhos e poderosos habitantes do Olimpo e arredores. Os favoritos de Pedro foram o Minotauro, que recebeu dele muita atenção e vários desenhos por suas características físicas e por ter seu próprio labirinto. Outro mito que o atraiu, foi o Ciclope, monstro de um olho só que habitava uma caverna. Quando ele vem aqui em casa, quer sempre que eu leia o livro dos Trolls, personagens nórdicos que habitam as florestas escuras e geladas.

Já tinha falhado outras vezes, por exemplo, quando levei um livro de fábulas ilustradas por Chagall, totalmente para adultos, mas fui salva pela beleza e colorido das ilustrações. Dessa última vez, com a ajuda da Louise, encontramos na Livraria da Vila um exemplar das fábulas de Esopo (filósofo e escritor grego a quem se atribui esse gênero literário e que viveu na Grécia antiga e faleceu em 562 a.C.). Ricamente ilustrado por diversos artistas de épocas diferentes, o presente foi um sucesso! A partir dos textos lidos e relidos, com comentários sobre a “moral da história” ainda terminamos por desenhar, cada um, seus personagens preferidos.

”A raposa e as uvas”, Sérgio Cardoso e Adalberto Silva -Rio,1953. Documentação FUNARTE Rio de Janeiro – foto Carlos Rio

Lembro-me, com saudades, de Sérgio Cardoso atuando no Guairinha como Esopo na peça de Guilherme Figueiredo, dirigida por Bibi Ferreira, “A raposa e as uvas” (final dos anos 50). Não me esqueço de seu andar e sua postura (por muito tempo brincávamos de imitar o andar do ator nessa peça), mas sobre tudo, nunca me esqueci da própria fábula da “Raposa e as uvas” e sua moral da história.

Os animais são de grande interesse para as crianças e utilizar suas características e modus vivendi para veicular mensagens é sempre muito eficiente. Cria oportunidades de filosofar junto com a criança além de enriquecer seu universo de referências e metáforas para vida.

(Imagem de abertura: “A raposa e as uvas” gravura colorida – 1900, de Georges Fraipont (1873-1912)

 

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