Nunca tive especial interesse por pedras. Lembro-me que meu irmão estudou sobre as pedras, no colégio e comentava em casa. Mesmo assim, nunca chamaram a minha atenção. Gosto de paralelepípedos, esses granitos de que são forradas as ruas mais antigas. Fiz em minha casa um caminho dessas pedras, ele me encanta! Pedras no bolso… toda criança tem, seus ricos achados! Dei ao Pedro, meu neto, uma caixa especial para colocar as dele, gostou muito do presente.
Para muitos, as pedras são extremamente valiosas, como para Drumond, por exemplo:
“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra…”
(“No meio do caminho” -1967 – Carlos Drumond de Andrade).
Acho que as pedras são assim mesmo, umas após as outras, se repetindo pelos caminhos, sem formato ou cor muito definidos. Claro que existem as “preciosas”, as que tornamos valiosas como os diamantes que, trabalhados, viram os cobiçados brilhantes, tão desejados pelas mulheres e eternizados pela música “Diamonds are Forever”, de John Barry (interpretada por Shirley Bassey) e pelas famosas joias da atriz Elizabeth Taylor.
Trouxemos para casa, certa vez, de uma viagem a Ouro Preto, uma escultura em pedra sabão que, ainda hoje, está por aqui, no jardim de casa. Mudou de lugar algumas vezes, quando na última vez, acabou cedendo espaço para a “Cheia de si” (1998), escultura em bronze de minha autoria (premiada na Mostra de esculturas da Casa João Turim – hoje parte do acervo do Museu Osacar Niemeyer), do tempo em que estudava fenomenologia e conheci as expressões “En soi” e o “Pour soi”. “Tristesse”, por sua vez, como acabo de batizá-la, veio de Minas de caminhão, um tempo mais tarde, por ser bem pesada. Não sei se pensativa, se triste, ou se chorando, ela, a pedra mulher, fica lá… no meio das plantas, nos intrigando.
Fui, por muito tempo, no Pró-Criar e na Escola de Música e Belas Artes, professora de escultura em pedra, mas nunca me interessei em produzir a minha própria obra nesse material – imagino que por não se prestar muito à minha linguagem. Um clássico da escultura, as obras em pedra são impressionantes. As minhas favoritas são a “Pietà” de Michelangelo (1499), de uma delicadeza ímpar, muito menor do que eu imaginava, o que percebi quando a vi pessoalmente na Basílica de São Pedro, no Vaticano, pouco tempo após ter sido restaurada depois de ter sido atingida por um vândalo, na época. A outra escultura em mármore de minha preferência, também representando uma mulher, é “O Êxtase de Santa Tereza”, obra de Bernini (1598-1680), que retrata a experiência mística de Santa Tereza de Ávila e encontra-se, hoje, em Roma na Capela Cornaro da Igreja de Santa Maria della Vittoria.
Algumas obras, como as esculturas em bloco egípcias, esculpidas na pedra, muitas delas com inscrições, por algum motivo, chamaram a minha atenção e foram inspiração para a criação da cerâmica de minha autoria “Mãe natureza” (1989), hoje no acervo da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
Os caminhos de pedra, ou as pedras dos caminhos, sejam elas reais ou virtuais, fazem parte das nossas vidas, já que são elementos tão importantes da nossa natureza. As pedras que colecionamos, as que adornam nossos corpos, ou os espaços em que vivemos, ficam ali, inertes, onde as colocamos, até que, por alguma circunstância, como aqui, ao escrever essa coluna, percebamos que elas estão muito mais presentes em nossas vidas do que poderíamos imaginar.
[Ilustração de abertura: “O Êxtase de Santa Tereza”- Gian Lorenzo Bernini – (1647-1652) – Mármore – Igreja de Santa Maria Della Vittoria – Roma; “Pietà”- Michelangelo Buonarotti – 1499 – Mármore – 174x195cm – Basílica de São Pedro – Vaticano.]
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