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Barbie

29/08/2023
barbie

Resolvi assistir “Barbie”, o filme, devido às opiniões controversas sobre ele, inclusive as dos que não o assistiram. Não vou fazer uma crítica do filme, vou comentar as impressões que ele me causou e por que caminhos me levou.

 

O cinema, como arte, faz parte de minha vida desde muito pequena. Desde o Cine Clube do Colégio Santa Maria, onde assistimos “Deus e o diabo na terra do sol”, “Citizen Kane”, quando se discutia o significado de “Rosebud”, “L’année dernière à Marienbad”, entre tantos outros filmes que assistíamos repetidas vezes para tentar captar o ‘significado’. Do mesmo tempo, a sala com piso de tábuas, onde batíamos os pés quando ‘chegava a Cavalaria’.

 

Eu, que ia ao cinema quase que semanalmente, desde a pandemia não entro em uma sala. Inaugurei com “Barbie”! Nos primeiros minutos, achei que não ia aguentar e ia sair (coisa muito rara de me acontecer), mas fui resistindo e fiquei até o final. Muito barulho, muito agressivo, muita cor! Foi a primeira sensação.

 

Houve momentos engraçados, muitos dos quais para o espectador com referências, como, aliás, acontece nas artes: quanto mais conhecimento você tem, mais pode aproveitar as metáforas, citações e menções sutis a outros autores e assuntos. Assim foi com “Barbie”, desde a destruição dos bebês, no início do filme, menções à “terra de Malboro” e, durante todo o tempo, música e imagens davam o tom da história. Achei muito sutil a importância dada aos pés da boneca, realmente feitos para o uso de salto alto.

 

Se a Matel tentou resgatar a Barbie, tida e havida como o símbolo da futilidade, acho que não conseguiu, embora tenha feito grande esforço. Para a menina que ganhava a boneca, o que interessava era o lindo cabelo, já que as crianças adoram pentear as bonecas, a possibilidade de trocar as roupas – imagina, ela tinha seu próprio guarda-roupa, sapatos, brincos e anéis!!!!!! A profissão nunca importou muito. O que a profissão trazia, era uma maior variedade de complementos, o que era ótimo. No geral, era uma profissional fútil, cheia de roupas e acessórios. A casa, a banheira e as coisas que ela tinha não eram conquistas suas e sim coisas a se comprar.

 

Minha geração não teve Barbie, tivemos os bebês de borracha. O meu “Robertinho” tinha uma mamadeira que acompanhava, porque ele fazia xixi. Tinha um buraquinho na boca, onde se colocava o bico da mamadeira com água e, um tubo interno, levava a água até o buraquinho que tinha embaixo, por onde ela saia. Nesse quesito, era mais moderno que a Barbie…

 

Boneca estranha

 

Minha mãe dizia que eu tinha bonecas “pra jogar pra cima”. Arranquei muitos braços e pernas para ver como eram por dentro. A linda boneca importada, que ganhei aos 5 anos, e que ao andar mexia a cabeça para um lado e para o outro, foi uma das maiores vítimas da minha curiosidade. Foi, também, minha companheira nas brincadeiras de Tarzan nas “dunas” de terra que existiam no terreno da Praça do Japão, antes da sua construção. A boneca abria e fechava os olhos, tinha cílios, um lindo cabelo dourado, longo vestido de organdi e seda salpicado de dourados. Seria, talvez, a precursora da Barbie?

 

O Ken, como realmente afirma o filme, nunca teve importância para a Barbie, pois meninas nessa idade não se importam com meninos e, como ele não era um brinquedo de menino, nunca teve muito espaço.

 

Enfim, a apresentação do mundo como um mundo dos homens, em minha opinião, teve seu valor e achei bem colocada. No mais, um filme psicodélico, como comentou minha filha, Louise, que me acompanhou nessa aventura. Deve ter surpreendido muita gente!

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

 

(Crédito imagem/abertura: Warner Bros.)

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