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TITTON-CABECA-COLUNA

Caminho

25/03/2025
caminhos

Caminho, primeira pessoa do verbo caminhar se confunde com a rota que escolho seguir. Escolho? Dizem que sempre há uma escolha sobre o caminho a ser seguido. Escolho seguir o caminho da intuição. A escolha anterior, para essa coluna, seria o caminho da mulher, comemorado no mês de março, mas, por serem tempos de mudança, achei que seria um caminho árduo e pedregoso, com partes íngremes e muitos vales até areias movediças. Desisti! Vou apenas seguir o caminho.

O caminho é prenúncio de partida ou de chegada; é também uma possibilidade ou um chamado.
“Vem tal como estás: não demores em preparar-te.

Se as tuas tranças se desmancham, se não está bem reto o repartido dos teus cabelos, nem estão atadas as fitas do teu espartilho – que importa?

Vem, tal como estás: não demores em preparar-te.”

Em “O Jardineiro”, de Tagore, tantos são os caminhos e tantos os chamados que eu não resisto em seguir, como abelha ou pássaro, atraídos pela flor. Eles, atraídos pelo perfume ou pela cor, cumprindo o seu destino de polinizadores, sem escolha, sendo a escolha cabível: apenas outra flor. Mas o caminho… invisível para nós, para eles é o chamado da natureza? Ou por ela determinado?

A natureza do nosso ser é caminhar. Dotados de pernas e de pensar, não somos como as pedras, por exemplo, que podem lá ficar, ao léu, dependendo de um caminhar alheio. Diferente delas, as pedras, somos frágeis, feitos de pele e osso; há que se caminhar em busca de abrigo, junto a elas, as pedras, para nos protegermos. Nutrir esse frágil corpo exige mais caminhar e com elas, as pedras, fazer fogo e matar. Mas ainda, além da pele, dos ossos e do pensar existe algo que move esse ser a desenhar nas pedras, nas grandes paredes de pedra, a deixar traçado o seu caminho, o seu trajeto, moldando na pedra a sua forma, de forma a eternizar esse corpo tão frágil e passageiro.

Passageiro dos caminhos da vida, constrói rotas e mapas, arquiteta soluções para as questões que cria ao caminhar e poemas para, com as palavras, descrevê-los, como Olavo Bilac:

“Benedicite”

“Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto
E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez aos beijos do sol, o oiro brotar do trigo;

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

E o que soltou ao mar a quilha e ao vento o pano,
E o que inventou o canto e o que criou a lira,
E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano…

Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!”

Caminho pelos caminhos que escolho ou que me são legados. Caminho, criando novos ou seguindo os já traçados. Caminho pelo tempo que me foi determinado, realizando os talentos que me foram dados.

(Ilustração de abertura: “Meu caminho”- fotografia -2024- Elizabeth Titton.)

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

2 comentários em “Caminho”

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