Estamos assistindo, como tem acontecido, ano após ano, às queimadas espontâneas – ou criminosas –, pelo Brasil afora. Nosso planeta é muito pequeno e frágil, para que achemos que esses acontecimentos são aceitáveis. Já a arte, seja como instrumento de denúncia, ou cantando as belezas da natureza, em toda a sua originalidade, mostra-se solidária, trazendo, por meio de suas diversas formas de expressão, a prova de tal fragilidade.
Em 2007, quando expus a coleção “IN Natura”, com suas árvores gigantes em aço cortado a laser, recebi ao final da mostra – que foi montada nos jardins do Museu Oscar Niemeyer pelo período de três meses –, uma carta do cobrador de ônibus que ficava dentro da “Estação Tubo”, então, recentemente instalada na frente do museu. Nela, o observador atento teceu comentários sobre o que considerou ser a importante mensagem da exposição. Em uma página de caderno, que foi arrancada para que me fosse entregue, o autor deixou sua mensagem, dizendo que se não cuidássemos do nosso planeta e da natureza, as únicas florestas que nos restariam seriam aquelas criadas pelos artistas, como aquela floresta de aço.
Em homenagem a esse observador, vou falar de outros dois escultores, com obras muito diversas e olhares bem diferentes para a natureza, que é sua fonte de inspiração. Um deles é Frans Kajcberg, cujo Espaço, criado em sua homenagem em Paris, tive a oportunidade de conhecer (por imagem) essa semana. No local, tive algumas obras minhas expostas, levadas pela Casa Bonita, para uma pequena mostra que fez parte do evento de arte e design da Maison & Objet deste ano. O outro artista é Andy Goldsworthy.
Frans Krajcberg, que teve aqui em Curitiba um espaço permanente no jardim Botânico da cidade, composto de uma grande quantidade de suas obras, nasceu na Polônia, em 1921, e faleceu aqui no Brasil, em 2017. Naturalizado brasileiro, encontrou em nosso país uma natureza exuberante, que muito o impressionou, e criou uma obra reconhecida internacionalmente por ser, como ele mesmo dizia “um grito da natureza”. Foi fotógrafo, gravador, pintor e escultor. Chegou ao nosso país em 1948, quando, depois de passar pelo Rio de Janeiro, fixou residência em Viçosa, no litoral sul da Bahia, onde construiu sua famosa casa sobre um tronco de árvore. Fotografou desmatamentos e queimadas e utilizou troncos de madeira calcinados, assim como raízes, caules de palmeiras, associados a pigmentos minerais, para criar suas esculturas e falar da ecologia, sempre em defesa das florestas, dos territórios indígenas e da vida no planeta.
O outro artista, que cria sua obra junto à natureza, é Andy Goldsworthy, um inglês que utiliza uma imensa gama de materiais retirados da natureza como pedras, penas, gelo, argila, folhas, galhos, troncos de madeira, entre outros, para criar, buscando a integração de suas criações com o ambiente. Como o resultado de seu trabalho é perecível, sua produção é por ele fotografada antes que desapareça, absorvida pela própria natureza de onde se origina. Sua intenção não é deixar sua marca na natureza e, sim, interagir com ela, construindo suas esculturas no local onde encontra os recursos para produzi-las, deixando clara a sua fragilidade. As obras podem ser vistas em exposições de fotografias ou em livros, que são a maneira que ele encontra de documentar e compartilhar seu trabalho com o mundo. Nascido em 1956, Goldsworthy vive na Escócia.
Com olhares tão diferentes para a nossa frágil natureza, os dois artistas, que se utilizam de elementos físicos por ela oferecidos, produzem obras muito diversas. Cada um busca dentro de si a expressão maior e mais verdadeira de como se deixam impressionar por ela, que os rodeia e, fortemente influenciados pelos locais, climas e ambientes onde viveram, e vivem, cada um produz sua arte, única e reconhecida como tal.
Viva a natureza! E viva a originalidade que dela se alimenta. Ser artista é buscar, com sua linguagem única, enriquecer o mundo do qual participa, denunciando suas mazelas ou mostrando suas belezas, de forma a alertar o espectador, habitante às vezes desavisado, sobre a fragilidade de nosso pequeno planeta Terra.
(Imagem da abertura: “Árvore das frutas”- Elizabeth Titton-2008- Parque das Cataratas do Iguaçu – Foto de Marcos Böhler)
Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.
1 Comentário
Mais um belo texto! Sim viva a natureza! Viva a arte! E que possamos compreender que fazemos parte dela.