Maestro

Uma plateia de duas mil e oitocentas pessoas assistiu emocionada ao concerto de abertura da temporada 2023 da Orquestra Sinfônica do Paraná, no domingo 19 de março, às 10h30, no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (Guairão). No programa: Abertura Sinfônica de Rogério Krieger (in memoriam), Concerto para piano e orquestra nº2 em dó menor, Op.18 e Sinfonia nº2 em mi menor, Op.27 de Rachmaninov, comemorativo aos 150 anos do compositor. Ao piano o premiado jovem e talentoso Cristian Budu.

Afastada das apresentações da Sinfônica em suas manhãs de domingo, pelo insuportável mal comportamento da plateia, decidi arriscar. Cheguei cedo, já havia comprado meu ingresso pela internet, encontrei as portas do teatro abertas recebendo atenciosamente seus visitantes. Sem lugar marcado, escolhi uma poltrona de onde pudesse ver o teclado do piano. Abri o celular, busquei no Google informações sobre o solista e sobre as obras. Quanto ao maestro, já renomado, preferi aguardar para descobrir, no ato.

Avisos iniciais informam que não é permitido comer na sala ou utilizar celular durante o espetáculo. Comento isso, porque é de fundamental importância que a plateia esteja em harmonia com os artistas que se apresentam. Saliento a importância do comportamento do público, porque acredito que o palco seja sagrado. É ali que, por poucos ou muitos minutos (raramente horas), apresentam-se os artistas – bailarinos, atores, músicos, pessoas que dedicaram uma vida a um instrumento, ou ao domínio do corpo para revelar, na leveza e harmonia de seus movimentos magia da dança ou da pantomima, criadas por compositores, diretores, coreógrafos que também dedicaram suas próprias vidas a criar encantamento. Aqueles que têm a sorte de encontrar a oportunidade de mostrar seu trabalho diante das concorridas programações dos teatros são aqueles que nos honram e nos presenteiam com seus trabalhos de uma vida!

É sob essa perspectiva que falo do Maestro Roberto Tibiriça, em sua primeira apresentação como diretor musical e maestro eleito da “Nossa orquestra”, como ele fez questão de salientar, em seus simpáticos agradecimentos iniciais. Alegre, gentil, educado com os músicos e com a plateia, trajando um terno simples e elegante, regeu lindamente tanto a orquestra quanto a plateia. Com seus movimentos harmoniosos e claros, usando da batuta por vezes com ênfase e outras com parcimônia, transformou a sala do teatro num templo de arte e emoção.

Ao final do espetáculo, após efusivo aplauso do público, desci as escadas, em estado de graça, fiquei encostada no canto da porta principal do lado externo aguardando minha irmã. Ao observar o movimento da saída percebo o solista Cristian Budu que, vestindo uma camiseta azul e portando uma mochila parece pedir uma informação a um dos membros da orquestra que ali se encontrava, mistura-se ao público e se retira, sozinho. Alguns momentos mais tarde percebo o maestro que sai do teatro, discretamente. Levava uma pasta onde, imagino, guarde seus tesouros, partituras anotadas e a batuta. Dirige-se, a passos rápidos, ao hotel onde se hospeda do outro lado da praça.

Fiquei imersa em meus pensamentos me perguntando que sentimentos estariam invadindo o corpo a alma e a mente daquela pessoa tão poderosa, tão especial, que aos olhos de um transeunte desatento poderia parecer um home comum!

Seja bem-vindo, maestro!

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(Fotos gentilmente cedidas pela imprensa da Fundação Teatro Guaíra/Maringas Maciel)