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02/05/2024



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Máscaras

 Máscaras

Vejam que interessante! Querendo falar de Menotti Del Picchia, autor brasileiro, premiado, atuante no grupo modernista de 22, encontrei em “Memórias” de Ivam Cabral “Como conheci o Paulo Autran”. Delicioso texto que vale a pena ser lido na íntegra. Datado de 26 de março de 2012, o autor nos conta sobre episódios da vida artística curitibana dizendo o seguinte:

 

“[…] na mesma época (anos 80), Marina Machado – uma atriz já veterana e que brilhava na cena Curitibana – que começava a despontar no cenário teatral da cidade, fundaram [sic] um grupo, o Máscaras. E surgiram fazendo algum barulho. Já no primeiro espetáculo, ‘Máscaras’, do Menotti Del Picchia, causaram alvoroço, arrebatando todos os prêmios daquele ano […]”.

 

 

Máscaras sempre me fascinaram, assim como a poesia, e foi em “Máscaras”, de Menotti Del Picchia, que encontrei inspiração para uma de minhas primeiras esculturas. O encantamento de Colombina pelo olhar sonhador de Pierrô e pelo beijo doce de Arlequim resultou em uma escultura em bronze que compartilho com vocês e que participou, no MASP, em 1981, da mostra “100 anos de escultura no Brasil”. Para surpresa e deleite meus, estava disposta ao lado de uma escultura de autoria do próprio Menotti Del Picchia!

 

“As Máscaras

O teu beijo é tão doce, Arlequim…

O teu Sonho tão manso, Pierrô…

Pusesse eu repartir-me

Encontrar minha calma

Dando a Arlequim meu corpo…

E a Pierrô, minha alma!

Quando tenho Arlequim,

Quero Pierrô tristonho,

Pois um dá-me prazer,

O outro dá-me o sonho!

Nessa duplicidade o amor se encerra:

Um me fala do céu…outro fala da terra!”

 

Máscaras, desde sempre, fizeram parte da nossa existência. Já na pré-história, quando foram documentadas em desenhos rupestres, passando pelas celebrações religiosas de povos originários de várias partes do mundo, sendo elementos fundamentais em cerimônias pagãs de várias origens, até chegar ao teatro grego. Na comédia e na tragédia gregas, tinham a dupla função de representar os personagens e de amplificar suas vozes, de forma a se ouvir melhor o que era dito. Mas foi na Comédia del Arte que nosso autor se inspirou. Diferentemente do teatro grego, ela nasceu na Itália no século XV. A forma teatral popular e itinerante tinha seus personagens representando basicamente três grupos sociais: os patrões, os criados e os enamorados. Arlequim, Pierrô e Colombina estavam entre os principais personagens nesse tipo de apresentações, que delineavam aspectos do caráter popular tal como o espertalhão, o covarde, o apaixonado, entre outros. Os espetáculos tinham como característica a improvisação e viajavam de cidade em cidade falando das fanfarronices do povo.

 

Foi por esses e outros caminhos que Menotti Del Picchia nos trouxe os apaixonantes personagens mascarados. Dentre suas obras, a mais popular foi Juca Mulato. Publicada em 1917, uma de suas primeiras, lançou o autor no mundo literário e no nosso imaginário, gerando entre nós mais e mais desejo de produzir arte.

 

Somos gratos.

 

(Imagem de abertura: Obra “Máscaras-Homenagem a Menotti Del Picchia”, bronze-1981. Minha autoria. Fotografias de Dico kremer)

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

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