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02/05/2024



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MUIRAPIRANGA… a árvore que não existe

 MUIRAPIRANGA… a árvore que não existe

Poucas pessoas no mundo conhecem a Muirapiranga, árvore Amazônica de madeira avermelhada que, por sua qualidade e dureza, é utilizada para a confecção de instrumentos.

 

Nos pergunta o filósofo George Burkley se a árvore cai na floresta sem que existam seres humanos presentes para ouvir o som da sua queda, tal som existe?

 

As florestas, sempre tão discutidas e pouco preservadas no mundo e no Brasil, existem para nós como uma realidade? Nós, seres urbanos, em nossa maioria apenas as conhecemos por sua representação. A floresta real não é por nós vivenciada. Chega a nós pelas mídias. Talvez por isso não sejamos tocados por todos os apelos contra a devastação e eliminação da vida silvestre, já que temos a impressão de que nunca dependemos dela para nossa sobrevivência.

 

Ilustração botânica de Joseph Swan

 

O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty, em sua obra Fenomenologia da Percepção, discute, entre outras questões, como percebemos o mundo em nossa volta, como o nosso conhecimento das coisas nos vem do aprendizado do mundo real, de experiências reais diante das coisas em si para, depois, criarmos os modelos que simplificam e representam o real.

 

Segundo ele: “As representações científicas segundo as quais eu sou um momento do mundo são sempre ingênuas e hipócritas, porque elas subentendem, sem mencioná-la, essa outra visão, aquela da consciência, pela qual antes de tudo um mundo se dispõe em torno de mim e começa a existir para mim. Retornar às coisas mesmas é retornar a esse mundo anterior, ao conhecimento do qual o conhecimento sempre fala, e em relação ao qual toda a determinação científica é abstrata, significativa e dependente, como a geografia em relação à paisagem – primeiramente aprendemos o que é uma floresta, um prado ou um riacho”.

 

Com o advento e desenvolvimento das tecnologias que levam as imagens, em tempo real, a todos os lugares e à população em geral, por um lado, tomamos ciência imediata da existência – bem como da destruição – das florestas e, por outro, a tecnologia nos apresenta essa floresta como um filme, como histórias de mundos que nunca vivemos e não temos a mínima experiência, subentendendo-se que haja um conhecimento que de fato não existe.

 

Como estamos cada vez mais dentro de nossas cabeças, nossos celulares, computadores, vivemos segundo o conceito que temos das coisas, num mundo virtual com resultados pouco reais das nossas ações – ou não ações.

 

Será que a natureza existe para nós? Ou vivemos da sua representação?

 

As esculturas que ilustram esse texto, pertencem à mostra de minha autoria denominada Muirapiranga e representam a floresta de árvores fantásticas que só existiram na minha imaginação e que por meio dessa mesma tecnologia que nos afasta do mundo real foram trazidas à materialidade do aço de forma que o público possa vivenciar e perceber a natureza imaginada. A mostra Muirapiranga quer discutir o fato de que estamos todos cegos para a natureza real, para a árvore real, para as florestas reais.

 

(Primeira ilustração : Mostra Muirapiranga – Elizabeth Titton- Funarte, S.P.-2019. Foto: Padu Palmério)

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

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