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O arco-íris

14/05/2024
arco-íris

Onde moro atualmente, não me é permitido observar arcos-íris com frequência, por causa das árvores. Encantadora visão que gera arte – seja na poesia, música, fotografias ou mitos, talvez por parecer misterioso – esse personagem colorido, que não nos deixa encontrar seu início ou fim, aparece e desaparece do nada, sempre nos remetendo à infância e, feito de cores, traz alegrias e cria sonhos.

Quando ganha uma caixa de lápis de cor, a criança desenha o arco-íris usando as cores que mais gosta, sem necessariamente seguir a sequência observada no céu. Já mais velha segue as sete cores estabelecidas por Isaac Newton (físico, figura chave da revolução científica, 1643-1727) como uma analogia às sete notas musicais, por motivos didáticos. A ciência afirma que a quantidade de cores do arco-íris é infinita, por ser um espectro da luz branca. Mas, como humanos que somos precisamos classificas as coisas, ficou decidido que as cores do arco seriam basicamente sete, começando com o vermelho, passando para o laranja, o amarelo, o verde, o azul, o anil e o violeta.

Dispersão cromática – Decomposição da luz branca – fonte: Mundo Educação

Classificar e organizar fica meio sem jeito, diante das fantasias que os efeitos óticos meteorológicos podem nos proporcionar. Na mitologia norueguesa, o arco-íris é a ponte entre a casa dos deuses e a dos homens. Na Bíblia, ele é sinal da aliança entre Deus e os homens. Em promessa a Noé, depois do dilúvio, lhe foi dito que jamais haveria outra enchente igual para destruir toda a forma de vida sobre a terra. Já o Leprechaun, da mitologia irlandesa, promete um pote de moedas de ouro ao final do arco, guardado por duendes e elfos nos bosques e florestas. Cada cultura, encantada por sua beleza e por aparecer contra o céu, cria suas histórias, em geral ligadas às divindades e ao espiritual.

Na música, um ícone da nossa cultura ocidental, a canção “Somewhere Over the Rainbow” – trilha sonora do filme “O Mágico de OZ” (1939), com música de Harold Arlen e letra de Yip Harburg e cantada por Judy Garland – transmite esperança frente às adversidades, promete um lugar distante, onde há paz e alegrias, as quais vale a pena se seguir buscando, não importando as dificuldades pelas quais se possa passar.

”Arco- Íris” sob o céu de Curitiba-Foto Hay Graphiks

Na arte brasileira, inúmeros foram os poetas e compositores que se inspiraram em suas cores, como Cecília Meireles, com seus poemas sobre a infância, e o Grupo Fundo de Quintal, que fez muito sucesso com “Arco-Íris”, na composição de Moraes Moreira, Glorinha Gadelha e Sivuca. Até nosso poeta, Paulo Leminski, entrou nessa dança, sugerindo o nome para a canção “Ponha um arco-Íris na sua moringa”, de Paulo Diniz e Odibar (1970). Na minha opinião, é na composição de Fabrizio De André, Guido Morra, Toquinho e Vinícius de Moraes, “Aquarela” (trilha sonora de “Carrossel”), que o imaginário infantil das gerações recentes se tem feito cantar, nela que é uma metáfora do simbolismo do arco-íris, com suas cores e suas esperanças.

Dentre tantas artes, a fotografia é uma das que melhor consegue captar, e fixar, definitivamente, esse momento: a repentina aparição. O fotógrafo, esse hábil mágico, rouba e retém a imagem desse personagem fugidio e astuto que nos surpreende e encanta com sua beleza fugaz. Leveza, transparência, cor e inspiração são elementos que povoam a nossa infância e são tão bem representados por esse arco fantástico, que surge dos componentes misteriosos do nosso rico mundo de realidades e fantasias, que são, então, presos ao papel por meio do olhar do fotógrafo.

De gotículas de água e refração da luz, nasce o arco-íris e, com ele, os mitos fantásticos, magnificamente representados por expressões artísticas, sonhos e memórias infantis.

“Arca de Noé”-capa do disco design de Elifas Andreato. Site Companhia das Letras

(Imagem da abertura: “Arco-Íris”- Fazenda Santo Antônio do Tesourão, Campos Gerais, PR- Foto Hay Graphiks)

 

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