Ele chegou! A estação mais temida…por mim. Queria ser como os assustadores ursos, que hibernam durante todo o período e, ao final, saem, magrinhos, de suas cavernas quentinhas, imagino eu, prontos para voltar às atividades da vida, sempre surpreendentes, a cada novo ano.
Sou brasileira, nascida no “país tropical”. Imaginem que, quando minha mãe de intercambio (AFS 1968/9) de Los Angeles, hoje com cento e quatro anos de idade, veio me visitar, tive que encarar o vexame de lhe apresentar neve! Imaginem só…neve!!!. Ela, ficou muito triste ao ver as plantas dos jardins tropicais todas queimadas, mas minhas crianças, que eram pequenas, adoraram e curtiram muito a experiência. Já eu, quando estava lá em Los Angeles, fui acampar na montanha com as meninas escoteiras. Minha primeira atividade foi correr, da maneira que deu, com neve até os joelhos, para construir um boneco de neve. Para surpresa minha, foi muito demorado e congelante. Eu queria fazer um boneco do meu tamanho, como eram os da “Luluzinha” e do “Bolinha”, com gorro e nariz de cenoura. Quase morri congelada, ia amontoando neve sobre neve, mas o boneco nada de crescer. Finalmente, quase no fim do dia, terminei! Compartilho aqui com vocês as imagens.
Neves e aventuras à parte, acho o inverno muito triste, sobretudo pelas árvores sem folhas e os dias nublados. Dizia uma amiga, que gostava de ver as pessoas mais bem vestidas nessa época. Outra, no entanto, me segredava que não tira as meias de lã, os chinelos e o velho roupão quentinho – tudo muito pouco atraente! De minha parte, no ano passado comprei um agasalho, que mais parece um saco de dormir. Longo, fofo, quentinho e ainda com gorro (só faltaram as pantufas), que já encomendei esse ano, também de nylon, acolchoadas, de cano longo – ao menos em casa estarei protegida!
Muitos de vocês devem se lembrar da propaganda de sucesso das Casas Pernambucanas, em 1962, com um elemento assustador batendo à porta, ao que a dona de casa perguntava: ”Quem é?” E o elemento, branco como a neve, respondia: “É o frio!”. A seguir, a dona de casa cantava o jingle: “Não adianta bater, eu não deixo você entrar, as Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar.” Lá se vão mais de sessenta anos e ele, o frio, continua a bater na nossa porta.
Tenho que reconhecer que hoje é menos cruel. Na infância íamos a pé para o colégio e as poças de água pelas quais passávamos no caminho eram cobertas por camadas de gelo. Na hora do recreio, jogar vôlei era uma tortura. Os dedos pareciam que iam se quebrar de encontro à bola. Nada de ar condicionado, ou aquecedor, mas tinha o chá da tarde, fervendo, servidos pelas irmãs, de enormes bules de metal para as cumbuquinhas (sem alça, à la francesa) de louça refratária. Brancas, grandes e pesadas que segurávamos com as duas mãos para aquecê-las, eram acompanhadas de generosas fatias de pão com manteiga, acondicionadas em grandes cestos…Deu saudades!
As geadas, há que se reconhecer, também que eram bonitas! Tudo branquinho, não como a neve, que pesa e toma conta, mas com extrema delicadeza, colocando um certo brilho sobre as coisas, como cristais nos contos de fada. Saíamos nós, as irmãs, em meio à bruma das manhãs geladas, com luvas, falando e bafejando bastante para ver quem soltava mais “fumaça”, que saia de nossas bocas, que riam e nos divertiam com tão pouco!
Assim é a vida! Sempre surpreendendo. Dos assustadores ursos, em suas cavernas de inverno, passamos, nesses novos tempos, a temer um novo bicho feroz: o aquecimento global. Mas isso é tema para outras conversas.
(Imagem de abertura: “Neve de 1975” – Acervo de Paulo José da Costa)
Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.
Uau, que lindo texto, adorei, voltei ao passado aos invernos da minha infância em Campinas que se resumia a muito vento, dias nublados, muita garoa, engim tudo muito cinza.. Como eu fazia aniversário em pleno inverno, para não me deprimir eu acordava , olhava pela janela e dizia: que dia lindo, adoro cinza! é uma cor leve, diáfana como a bruma.. e enquanto as pessoas ao meu redor reclamavam eu pensava: um presente só para mim!!
Entao para mim, o inverno é e sempre será um presente!!
Obrigada Beth, por esses momentos de doces lembranças!