Planta originária da África, nascida às margens do vale do rio Nilo, o lindo papiro é hoje uma espécie muito cultivada para ornamentar jardins, principalmente aqueles que tem água, já que são plantas aquáticas. Além da sua beleza, a planta trouxe aos egípcios, por volta do ano 3000 a.c., a oportunidade de ter um novo suporte para a escrita, que até então era feita sobre pedras, ou placas de argila. Com muitas outras utilidades, descobertas por causa de suas fibras resistentes, o papiro também se prestava à confecção de cordas e, a partir delas, barcos e cabanas.
A própria palavra “papel” vem do latim papyrus. Mas para nós, as irmãs, que quando pequenas passeávamos livremente pela vizinhança em busca de rosas e outras plantas – nos ricos jardins de antigamente – que inspirassem as nossas brincadeiras, tinham outro significado. Era uma espécie perfeita para ser penteada e trançada. Com longos fios, seus “cabelos verdes” eram ideais para as nossas brincadeiras. E isso, muito antes do nascimento da Barbie, que trouxe para as meninas os longos cabelos loiros de nylon. Chegamos até a costurar olhos e boca de tecido às folhas do papiro, na parte que se unia ao caule, formando uma cabeça. Corpo? Não precisava! Podíamos imaginar, o que importava era a vasta cabeleira, sempre disponível e que se deixava manipular, resistindo às tranças e rabos de cavalo presos com barbantes, fitas ou elásticos, tudo sem reclamar!
Também naqueles tempos, fomos, por um breve período, uma “trupe” de teatro amador organizada pelo papai. Indiferente à reclamações que tínhamos sobre os papéis que representávamos, fizemos nossa primeira apresentação pública no palco da Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus e, em outra ocasião, no colégio das Irmãs Sacramentinas (amigas da mamãe), que se dedicavam à educação de meninas desassistidas, cuja escola ficava no bairro do Tarumã.
Qual não foi minha surpresa quando, muitos anos mais tarde, em visita ao Centro Universitário UniBrasil, constatei ser o mesmo local onde antes estavam as Sacramentinas. Fiquei contente em saber que aquele lugar continua a ser local de construção de pessoas e de educação. Além dos trinta cursos de Graduação e inúmeros de Especialização, Mestrado, Doutorado e ensino à Distância, a sociedade educacional – fundada em 1998, por um grupo de professores da Universidade Federal do Paraná, que tem como presidente o professor Dr. Clèmerson Merlin Clève – também possui um interessante acervo de artes plásticas.
Foi em visita ao espaço da universidade que conheci seu acervo, do qual tenho a honra de fazer parte. Em seus bem cuidados jardins, encontram-se a “Árvore dos passarinhos” e um exemplar das “Árvores do Bosque”, instalados justamente ao lado de uma touceira de papiros. Fiquei feliz com a companhia! Em outra oportunidade, em mais uma iniciativa cultural da UniBrasil, fui convidada a criar um troféu para homenagear a “Mulher Paranaense 2018” em suas diversas áreas de atuação. Unindo o útil ao agradável, criei o troféu “Papiro”, que traria às homenageadas uma lembrança do reconhecimento de sua importante atuação em prol da cultura e da educação, além de remeter aos tempos do início da criação do papel, que, ainda hoje, podemos dizer ser um dos suportes da escrita, já que existem os livros, embora a escrita tenha passado a acontecer também nas telas dos computadores e outros dispositivos eletrônicos.
E dessa forma, o papiro foi, pouco a pouco, fazendo parte da minha história. Além da beleza e riqueza que gerou em outras culturas, também trouxe à nossa infância muitos momentos de alegria e imaginação, vindo a se tornar, mais tarde, objeto de meu trabalho.
Ilustração de abertura: Papiro. Foto: Hay Graphiks,2024
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2 Comentários
Que delícia de ler! Há uma sutileza e beleza na descrição da infância que sinto-me próxima a você trançando os cabelos verdes.
Tudo isso nos faz ver o processo e dedicação do seu trabalho.
Muito obrigada Katia, por seus comentários. Você tem razão, é do acúmulo de experiências e vivências que brita a arte.