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HojePR

O poeta

07/03/2023

Seria o poeta aquele que se deixa comover pela beleza do quotidiano que não vemos?

 

Saudade

Uma chuva forte e quente

Ainda cheia de sol desfolhou de repente

tôdas as rosas da roseira.

 

Vêde

como as pétalas brilham sobre a terra verde:

parecem uma sombra côr-de-rosa

luminosa.

 

Agora de vez em quando

de cada folha caem gotas silenciosas

na terra sobre as pétalas de rosas.

 

As folhas estão chorando

com saudade das rosas.

 

Poema em “Tôda a Poesia” (Tomo IV) – Guilherme de Almeida, Livraria Martins Fontes Editôra S.A 1922-1923.

 

Estou aqui na varanda, nesse domingo de uma manhã calma, curtindo a minha nova rede e me inspirando para conversar com vocês sobre como a arte comove a nossa alma, penetrando em nós pelos nossos ouvidos, olhos, arrepiando nossa pele até transformar nosso pensamento e nossas vidas!

 

Certo dia, fui surpreendida pelo agradecimento de uma pessoa, um empresário que muito admiro, que disse que ao ter conhecido as minhas esculturas e participado de seu processo, teve a vida transformada, enriquecida. Disse que, depois dessa experiência, suas viagens nunca mais foram as mesmas, teve seus olhos sensibilizados para a arte das ruas, dos museus (que antes não visitava). Descortinou-se para ele e sua família um novo mundo, mágico, de riquezas que, antes, para ele não existiam porque não tinha olhos para ela… a arte.

 

Essa é a mesma comoção que leva milhares de pessoas aos shows de música. No levou para ver, ouvir, sentir, emocionar, cantar, vibrar, viver “Love of my life” do Queen e a tantos outros, mesmo aqueles que não nos tocam por não falarem a nossa linguagem ou não termos vivenciado as experiências sobre as quais falam ou cantam.
O que importa é termos consciência do mundo, estarmos atentos às suas belezas, nos deixarmos comover pela simplicidade, pela tristeza das folhas da roseira que teve suas rosas despetaladas pela chuva. Deixe-se comover!

 

Imagem: “Folha” bronze fundido, 1980. Foto de João Urban. Coleção particular.

 

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