O que existe entre o artista e o objeto que ele busca criar? Digo objeto no sentido mais amplo, não coisa, e sim o destino de seu esforço para produzir o inédito, aquilo que não existe em nenhum outro lugar fora de seu ser.
Acredito na importância do entorno. As influências recebidas, as impressões de que foi alvo. Coisas que o impressionaram e não impressionaram outros, o que me leva a pensar num livro que me alertou para o fato de que o “livre arbítrio” não tem na vida, ou na criação, o peso que eu supunha. Em algum lugar dentro daquele que cria já estão gravadas, talvez, memórias imemoriais que o guiam por determinados caminhos rumo ao seu destino, assim como quando vi pela primeira vez a máscara de argila modelada.
Por que dentre tantas imagens e formas surgiram, no meu caminho, como personagens principais, folhas, flores, pássaros e árvores? Os bosques e jardins que me rodeiam permeiam a minha alma e, como “eras” selvagens, brotam de mim pelas mãos, pelos pensamentos e intuição, materializando-se em plantas de bronze cheias de rebarbas perigosas que precisam permanecer nelas, ou mesmo, em árvores de nuvens e estrelas por onde circulam, alvoroçados, pássaros pontudos de aço enferrujado.
No meu caso, bem antes do objeto da criação já existia a paixão pelo estético e pelo simétrico. Talvez viesse das artes que habitavam a nossa casa, ou dos livros disponíveis nas estantes pela casa, mas acho que não! Creio que já viajava vinda dos antepassados longínquos… quem sabe… Posso, no entanto, afirmar que entre o sujeito que cria e o objeto de sua representação existe um misterioso fascínio que vai aos poucos se revelando à medida que a materialidade se se dá, como quando escolhe os materiais de que vai se utilizar para a sua realização. Nesse momento, a técnica, nem tão charmosa, exige o seu espaço e impõe o seu domínio, já que sem ela o sujeito da criação não chega ao seu destino.
Da natureza de infinita riqueza e indescritíveis detalhes até a obra final, desenrola-se a magia do humano que eu, de fato, não poderia explicar.
Deixo aqui para você, leitor, a tarefa de mergulhar em seu universo interior e, quem sabe, ressurgir banhado pelo encantamento da própria descoberta!
(foto de Celso A. Oliveira)
Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.