Você já comprou uma obra de arte? Já desejou ter uma? O que seria? Uma tela? Uma escultura, uma fotografia, um desenho? Quando você quis, pela primeira vez, levá-la para casa, para viver com ela, talvez, para sempre? Se você é jovem, talvez nunca! Pode ser que já conviva ou tenha convivido com ela(s) na casa da família, talvez não, talvez já tenha saído de casa para estudar e more em um apartamento provisório, talvez uma república ou talvez já tenha se apaixonado por uma obra de arte. Talvez em visita a um museu, naquela viagem ou intercâmbio, e tenha comprado um “poster” dela. Quem sabe? O mais certo é que se ainda não aconteceu, algum artesanato brasileiro (que, aliás, é riquíssimo), ou mesmo estrangeiro, você deve ter guardado com carinho em uma prateleira com as suas lembranças mais queridas!
Entre aqueles que já se apaixonaram por uma obra, ou mais de uma, estão os colecionadores, pequenos ou grandes, que embora não produzam a arte com suas próprias mãos, têm no coração, ou na alma, a necessidade de conviver com a arte, de diariamente se encantar com ela, de se sentir aconchegado, ou simplesmente admirar a criação em si, em suas cores, suas formas próprias e únicas, que um dia fluíram da alma de alguém até uma tela, uma pedra ou um metal, tendo mais tarde encontrando morada na casa ou coração de outro alguém.
Esse encontro do objeto como desejo é fascinante e, muitas vezes, não passa de um encontro fugaz que, embora não se torne uma união, por algum motivo, talvez banal, talvez intransponível, deixa marcas eternas. Comigo aconteceu uma vez, nos anos 80, quando ao visitar a Galeria Acaiaca, na praça do Relógio aqui em Curitiba, me deparei com uma obra de Waldemar Kurt Freisleben, pintor, crítico de arte e professor, nascido em Curitiba, em 1899, onde também morreu, em 1970. Era uma pintura de duas meninas, ou duas bonecas, se bem me lembro. Via-se os rostos até o peito ou a cintura. Eu não tinha dinheiro para adquirir a obra e guardei essa imagem na memória, mas nunca me esqueci dela. Imagino que, se a encontrasse hoje, seria o mesmo encantamento. Aliás, se alguém a conhecer, me avise por favor!
“Figura” (Escultura de Calabrone. Fechada. Anos 70)
Existiram, no entanto, outros desejos que foram realizados e cujo encontro resultou em companhia permanente. Um desses encontros foi com uma pequena escultura em bronze de Domenico Serio Calabrone, escultor radicado em São Paulo (nascido em 1928, em Aieta, na Itália, e falecido em São Paulo, em 2000). Era um múltiplo, com uma tiragem de 82 peças, sendo que a minha era a oitava. Esse encontro se deu por ocasião de uma de minhas visitas curiosas à Galeria Ida e Anita, que ficava no Shopping Batel. Suas dedicadas e corajosas proprietárias, e amigas, que já não estão mais entre nós, muito contribuíram para grandes encontros entre as artes e seus amantes. Também, na mesma galeria, houve o encontro com a fabulosa coleção, trazida por elas, de artistas ingênuos Iugoslavos.
As galerias de arte são, na maioria das vezes, as responsáveis por tais encontros. Dedicam-se a aproximar a arte das pessoas. O que muitas vezes atrapalha possíveis contatos entre os objetos de arte e nossos possíveis desejos são o medo e o preconceito, como acontece em tantas outras áreas de nossas vidas. Grande parte das vezes, as pessoas deixam de entrar em um museu ou uma galeria de arte por achar que “tem que entender de arte”, o que não é verdade, pois são espaços onde se pode fruir a beleza e se surpreender com as criações da alma humana.
Sugiro que ouse entrar nas galerias de arte, visite, sem compromisso, os museus. Enriqueça-se, desfrute das emoções que podem ser despertadas nesses espaços, conheça – já que ninguém ama o que não conhece – e, quem sabe, um dia… encontre o seu objeto do desejo.
(Imagem de abertura: “Figura”. Escultura de Calabroni-bronze- múltiplo. Aberta)
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2 Comentários
Que maravilha! Agradeço ter compartilhado com a gente esse encontro. Que seu desejo frutifique!!!!!!
Boa tarde.
Maravilhoso texto seu Elisabeth Titton.
Tudo a ver com comigo, pois conheci seu trabalho, suas obras de arte, através de um livro que ganhei, e sendo assim passei a ser um apaixonado pelo seu trabalho maravilhoso.
Quem sabe um dia consigo ter o privilégio e alegria de poder ter uma em minha casa, bem perto de mim né?
Um abraço.
Prof. Júlio
Belo Horizonte/MG