O sol é uma estrela, e quando olho para o céu, à noite, fico pensando se cada estrela que vejo tem um sistema de planetas girando ao seu redor. Pelos parcos conhecimentos que tenho sobre o assunto, acredito que essa ideia esteja mais para total imaginação do que para a realidade científica, mas acho um pensamento divertido.
Os astros e as artes têm, entre si, profunda ligação. Na nossa cultura, sobretudo as estrelas, talvez por estarem bem longe e serem brilhantes, ou por serem enigmáticas, para nós, os leigos, são temas de poesia, contos, filmes e outros tantos processos de criação artística. No livro, “O pequeno príncipe”, que tanto gosto de citar, as estrelas são personagens de primeira grandeza. Uma delas, onde habita o menino, mesmo sendo muito pequena, torna-se grande ao seu olhar, por guardar todos os seus tesouros.
No “Livro dos símbolos: reflexões sobre imagens arquetípicas”, da Editora Taschen, estrelas são os terceiro e quarto temas que nele aparecem. Falando das estrelas, citam Van Gogh, em carta ao irmão Theo: ”Quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio à noite para pintar as estrelas” (Arles, setembro de 1888). Aliás, ele pintou sois e estrelas como ninguém.
Geralmente em contraposição, por estarem em lados opostos em relação à Terra, o sol e a lua são personagens em uma infinidade de obras de arte e mitos sobre a criação da terra. No entanto, para alguns povos do Xingu, conforme descobrimos em sua mitologia, o sol e a lua são irmãos gêmeos. Esse tema me inspirou a escrever um conto, ainda não publicado, bem como uma escultura e gravuras, produzidas nos anos 80, onde os “irmãos”, feitos em cerâmica policromada, são unidos pelos cabelos feitos de fios de piaçava.
Na Astrologia, o estudo que associa a posição dos astros à vida das pessoas, o sol é o rei, o centro de onde emanam todas as energias. Os signos do zodíaco são também chamados de signos solares. Em Curitiba, o astrólogo, professor Hilário Berlanda fez, algumas vezes, meu mapa astral, que, aliás, considerei muito importante naquele momento da minha vida. A astróloga Barbara Abramo, estudiosa muito respeitada e atuante nacionalmente – com quem tive breve contato quando sua saudosa mãe, museóloga, historiadora e crítica de arte Radha Abramo escreveu uma apresentação para a minha exposição “In Natura”, em 2007 – também, por meio da internet, faz e analisa os mapas da vida brasileira, em seu dia-a-dia, bem como nos seus momentos mais tumultuados.
As constelações, por sua vez, sendo conjuntos de estrelas que formam desenhos nos céus, têm sido, de muitas maneiras, guias astronômicos da humanidade, desde sempre. E o que dizer dos horóscopos, que nelas se baseiam! Quem não gosta de dar uma olhadinha no horóscopo do dia, ou do novo ano, para saber um pouquinho de si, das finanças ou do ser amado? Em minha casa, o livro “Os astros comandam o amor”, de Linda Goodman, foi sempre consultado com enorme curiosidade ao início de algum relacionamento. Levado mais ou menos a sério, todos queriam saber das possibilidades que os astros e os signos de cada um revelariam para o futuro desse novo encontro.
Carl Jung (1875-1961), em sua obra “O homem e seus símbolos”, finalizada pouco antes de sua morte, falando da importância dos sonhos, diz: “Por existirem muitas coisas fora do alcance da compreensão humana é que frequentemente utilizamos termos simbólicos como representação de conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente. Esta é uma das razões por que todas as religiões empregam uma linguagem simbólica e se exprimem através de imagens”. Daí, a importância da arte, com sua linguagem própria. Jung considera o mito uma forma autônoma de pensamento e de organização cognitiva do mundo. Visto dessa maneira, podemos compreender melhor as mitologias dos povos, que contam tantas histórias, como as do surgimento do mundo e da humanidade, por meio de seus vários personagens, como o fizeram, lindamente, os gregos, de onde partiu tanta arte, criada para ilustrar ou tentar explicar as nossas origens, em grande parte inspiradas nas estrelas.
Hoje, aceitamos nossas origens como sendo provenientes da explosão de várias supernovas, as estrelas gigantes que, em um dado momento, explodem e geram, das pequenas partes resultantes dessa explosão, os planetas. Assim sendo, como dizem alguns, somos pó de estrelas. Penso na lindeza que é termos o fogo e a luz como o lugar de onde viemos, embora tantas vezes nos comportemos como seres rastejantes, vindos das travas e de “buracos negros” e não da luz. Mas, essa é uma outra história para ser contada em outro dia!
(Imagem de abertura: “Noite estrelada”- Vincent Van Gogh, 1889 – óleo sobre tela – 73,7×92,1 cm – acervo do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.)
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