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TITTON-CABECA-COLUNA

Paisagem

22/04/2025
paisagem

Achei bem difícil definir esse termo. Seria paisagem tudo aquilo que está diante dos nossos olhos? O mundo, ou a parte dele que se descortina num dado momento em que o percebemos? Ou como diz o fotógrafo:” Pode ser um pequeno recorte, belo, escolhido de um todo possivelmente feio”. Ela pode ser interna ou externa; representar a natureza, o urbano. Ou até, talvez, os mais inimagináveis devaneios?

“Cara de paisagem”, uma expressão usada para descrever uma expressão facial de alguém que se desliga do assunto em questão, demonstrando total desinteresse em compartilhar dele, mostrando-se ausente. É como se estivesse ali, inerte, simplesmente presente, existindo, assim como uma paisagem que não interage com o espectador. Tudo o que o espectador pode concluir, ou inferir da paisagem, é de sua total responsabilidade, de onde poderíamos concluir que não há paisagem sem observador e que ela, a paisagem, só existe aos olhos e através dos olhos dele.

 

"Rua Barão do Rio Branco 23/07/22" - Carlos Emiliano de França- Croquis- aquarela.
“Rua Barão do Rio Branco 23/07/22” – Carlos Emiliano de França- Croquis- aquarela.

Assim sendo, vamos ver o que cada espectador nos apresenta como paisagem do nosso mundo. Inicialmente, escolhi para ilustrar nossa conversa uma intrigante obra de David Hockney, uma de suas várias paisagens, com cores vibrantes, composta de trinta telas e datada de 2007. A obra me encantou pela verticalidade das linhas de árvores sequenciadas, seguidas por levíssimos galhos que nos transmitem delicadeza e claridade ao mesmo tempo que contrastam e se harmonizam nas cores complementares do vermelho e verde, presentes também – já de maneira mais robusta – na horizontalidade dos jardins de onde surgem, assim como as construções que compartilham. A partir de então, passam a existir duas paisagens: a que o pintor viu e retratou e a minha, de observadora, que a percebi segundo meu próprio entendimento.

 

"Sem Titulo" - Paulo Dias - óleo sobre eucatex .
“Sem Titulo” – Paulo Dias – óleo sobre eucatex

Como vivemos rodeados de “Paisagens” fica claro o porquê de serem motivo constante nas artes. É preciso, no entanto, ter tempo para fruí-las, para que passem a existir. Há que se dar a elas toda a atenção merecida, o tempo necessário para que se apresentem. Como nos diz Saint-Exupéry:” Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que fez a tua rosa tão importante”. A paisagem também não se mostra a qualquer um, é preciso ter “olhos de ver”.

Seja no campo, ou nos ambientes urbanos, como aqueles buscados pelos “urban sketchers”, os desenhistas caçadores de paisagens, cujos olhos atentos encontram tesouros, como poderemos ver aqui, um de autoria de Carlos Emiliano de França, uma vista da rua Barão do Rio Branco (Curitiba, 23/07/2022 – Croquis Urbano Curitiba). Difícil escolha, dentre tantos croquis que nos trazem a beleza dos momentos que França dedicou, desfrutou e conosco compartilhou.

Existem também as paisagens imaginárias, aquelas que povoam nossos pensamentos e que, assim como os sonhos, podem ser em preto e branco ou coloridas, realistas ou totalmente surreais, com seus personagens fantásticos, muitas vezes também presentes o mundo exterior.

 

"Sem Título" - Paulo Dias - acrilica sobrte tela - 80x121cm.
“Sem Título” – Paulo Dias – acrilica sobrte tela – 80x121cm

Apresento aqui, dois momentos de diferentes épocas da produção do artista Paulo Dias: A paisagem bucólica de um óleo sobre Eucatex, recorte de uma paisagem do campo paranaense, onde as largas pinceladas do artista transmitem a paz e a tranquilidade da vida no momento em que seu olhar pairou sobre o campo, a floresta e os animais vivendo suas vidas no pasto. Por outro lado, em acrílica sobre tela, existe também a paisagem imaginária, leve e colorida que povoa a mente do artista em seus momentos de vida interior, quando tem os olhos voltados para dentro e não para o mundo externo. Nessa paisagem, tudo é possível! Misturam-se elementos reais com formas oníricas, brincando com a imaginação.

Toda vez que descrevo uma paisagem, estou criando, através da minha interpretação, uma nova paisagem: a de um mundo visto e recortado pela artista e novamente recortado por mim, a observadora, que com o seu olhar, completa a obra, ou no caso, a paisagem.

(Ilustração de abertura: “Arvores maiores perto de Warter” David Hockney – 2007 – óleo sobre telas – 4,57×12,19m -Tate Gallery. Foto Prudence Cuming Associates.)

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

1 comentário em “Paisagem”

  1. Querida ELIZABETH,

    Ler seus textos é quase como ler uma poesia.
    Renova o olhar e os sentimentos.
    As imagens, tão rigorosamente escolhidas é como dizem “A cereja do bolo”, ou nesse caso seria o bolo? Enfim, um deleite.

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