A resposta a essa pergunta pode parecer simples, ou muito complexa, dependendo do olhar que teremos sobre ela.
Vamos, hoje, pensar a partir do ponto de vista de quem cria e não daquele que usufrui. O chamado artista, nem sempre um profissional, seria aquele que sente a necessidade de se expressar, se comunicar, se colocar no mundo utilizando-se de meios que permitam expor seu olhar único e novo sobre o mundo e seus elementos, ou até mesmo sobre os do além mundo.
Tarefa difícil. Expressar-se, nem tanto, mas, se comunicação é coisa muito difícil, transmitir ideias, significados é um objetivo árduo a ser conquistado. Depende de tantos pressupostos! Sobretudo os culturais, de várias espécies, tais como geração, origem entre tantos outros. Antoine de Saint-Exupéry nos fala de sua frustração ao ser mal interpretado, em uma de suas primeiras experiências, quando criança, tendo desenhado uma jiboia que havia engolido um elefante. A comunicação entre o autor e o seu público não se dá automaticamente e isso pode vir a frustrar os dois ou a enriquecer o universo de cada um.
Acredito que existam dois momentos principais na criação da obra de arte, igualmente importantes: um, quando se abre as comportas do inconsciente e se deixa rolar o que vier, ou seja, as sensações, sentimentos e indagações. O outro, quando se busca dar forma ao que comumente denominamos inspiração e, aí, é necessário o conhecimento, a lógica, o domínio de métodos e processos técnicos.
No primeiro caso, os processos criativos se dão de formas muito diversas. Por vezes, acontecem de forma rápida, em outras, os processos são muito longos.
Considero a liberdade um dos elementos fundamentais da criação. O olhar ingênuo da descoberta, a visitação ao mundo dos sonhos, a ignorância dos processos tradicionais, o abando do pensamento lógico em benefício dos mergulhos no inconsciente são algumas das necessidades ou dos processos que trazem o novo ao criador. “A criação do novo não é conquista do intelecto, mas do instinto de prazer agindo por uma necessidade interior. A mente criativa brinca com os objetos que ama.” (Carl Jung)
No segundo momento, o da materialização da ideia, surgem as novas grandes questões tais como a escolha dos meios para dar forma ao conteúdo conquistado. Como colocar no mundo palpável uma ideia que às vezes é apenas uma faísca. Esse é, então, o momento da ciência, do conhecimento, talvez da experiência, ferramentas necessárias ao árduo processo da realização.
“O ato de pôr meu trabalho no papel, de pôr a mão na massa, como se diz, é para mim inseparável do prazer da criação. No que me diz respeito, não consigo separar o esforço espiritual do esforço físico e psicológico; para mim eles estão no mesmo nível e não obedecem nenhuma hierarquia.” (Igor Stravinsky).
Quando os dois momentos são bem-sucedidos e intimamente ligados, surge o que denominamos arte que, nesse caso, seria a materialização de uma criação como forma de expressão do ser humano na sua busca de existir perante o mundo e perante o outro.
Crédito da ilustração:
Autor: Antoine de Saint-Exupéry.
Obras: ” Jiboia fechada” e” Jiboia aberta”. Da obra O Pequeno Príncipe publicada originalmente em 1945 nos Estados Unidos.
Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.