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Para que serve a arte? (Parte 2)

08/08/2023
arte

“Subindo o Rio”, óleo sobre tela de autoria de Marcelo Schimaneski

 

Na semana passada, comentei sobre o significado da arte para o artista, o criador.

 

Hoje passaremos para o outro lado, o do fruidor, daquele que, possivelmente, segundo Merleau-Ponty, completa a obra, criando algo novo a partir da obra observada. Então, pergunto: algo novo é sempre criado a partir de uma obra que foi percebida, vivenciada, amada a ponto de ser adquirida?

 

O que me leva a adquirir uma obra de arte para ter em minha vida, sob o meu constante olhar? No meu caso específico, são muitas razões diferentes. Olhando agora para as obras que tenho em meu entorno, vejo que, na maioria das vezes, são obras que trazem um questionamento, uma possibilidade, uma dúvida. São obras que me levam a algum lugar, diferente da minha sala e do computador diante do qual me sento agora. Obras das mais diversas técnicas, que me transportam pelo tempo. Sou levada por sentimentos provocados por lembranças a um lugar desconhecido, um rio e sua população ribeirinha, por exemplo. Esse que ilustra a abertura da coluna de hoje, foi adquirido quando fui membro de um dos raros júris de salão de artes plásticas do qual fui membro. Fiquei encantada pela luminosidade que transbordava da obra, não só percebida nas cores, mas também no espírito do local e a singeleza de seus personagens, tudo muito harmonioso; quando entro nele, fico feliz, não importa quão nublado e frio esteja o dia na nossa Curitiba.

 

Fotografias, gravuras, aquarelas, cerâmicas, gobelins, não importa muito a técnica; gosto de todas. Algumas obras são herdadas e me transportam à infância, à casa de onde vieram e os momentos nela vividos. Outras são fruto de encontros fortuitos e paixões à primeira vista, daquelas que não se explica, como a foto do cão e o caranguejo.

 

“Pássaro”, solda, de autoria de Cláudio Alvarez. “Mulher reclinada”, bronze fundido de autoria de Eliceane Sena

 

As tridimensionais variam ainda mais, desde o violinista de porcelana inglesa, que já dei a meu filho e fica aqui em cima do piano (esperando meu neto Pedro crescer um pouco), ao pássaro feito a partir de uma colher, ou o batedor de clara transformado em São Longuinho. Entre outros tantos, dois pequenos bronzes, um múltiplo de Calabrone, adquirido com sacrifício, quando era ainda muito jovem e uma mulher repousando em sua poltrona, criado e executado por uma jovem artista que frequentava meu atelier de escultura.

 

Muitas são as origens das obras e, mais diversos ainda, os valores de mercado delas. A minha pequena coleção não tem fins comerciais e não foi composta por outra razão qualquer além da paixão. Paixão pelos criadores, pelas cores, pelas formas, pelos significados, pelas lembranças, pela estética em geral. Então, voltando a Merleau-Ponty, na afirmação inicial, posso dizer que sim, quando contemplo e vivo as obras que me rodeiam, dou a elas um novo significado, todo próprio, a partir da minha cultura, dos meus referenciais, que imagino serem completamente diferentes daqueles dos artistas que as criaram, fechando, assim, um ciclo.

 

Eu estaria bem mais sozinha se as quatro paredes e as prateleiras de minha sala estivessem vazias. Minha vida se expande na vida, no olhar e na produção do outro.

 

“São necessários dois para se conhecer a unidade”. (Gregory Bateson).

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

 

 

 

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