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Poty faz 100 anos

19/03/2024
poty

Poty me encanta pela simplicidade do traço, pela humanidade dos temas e pela fidelidade a si mesmo na produção da bela obra. A Galeria Studio Krieger está comemorando os 100 anos do nascimento do artista com uma bela exposição de seu rico acervo na loja das Arcadas de São Francisco. Foi muito enriquecedor visitar a mostra, onde podemos observar tantas obras de diferentes períodos e técnicas, desde as primeiras gravuras, passando por desenhos, vitrais, azulejos e peças em cimento.

 

Não o conheci pessoalmente, embora tenha compartilhado de sua presença em um ou dois eventos, sempre com seu jeito simples de chinelo de dedo. Posso, no entanto, me orgulhar de ter tido uma gravura premiada na VI Mostra de Gravura Cidade de Curitiba 84-Pan Americana, tendo no júri da mostra Friederico de Moraes, Marcelo Grassmann, Osmar Pisani, Paulo Mentem e o nosso querido Poty Lazzarotto.

 

Querido sim, pois o artista é uma unanimidade. Nascido Napoleon Potyguara Lazzarotto, no mesmo dia em que aniversaria a nossa cidade, 29 de março de 1924 em Curitiba, faleceu aqui em maio de 1998. É o artista paranaense que mais tem obras em espaços externos em Curitiba. Consta que dezessete por cento de sua produção sejam obras públicas. Tendo sido a primeira, em 1953, o painel de 3 metros por 30, em azulejos azuis e brancos, na Praça 19 de Dezembro, onde figuram a mulher e o homem nus do escultor Erbo Stenzel (1911-1980), cujo relevo em granito figura no verso do painel de Poty. Foi então que começou e não parou mais.

 

Gravura em metal, 1949. Poty. (Coleção Studio R. Krieger)

 

Minha preferência é pelos desenhos, com linhas pretas, às vezes coloridos, usando muita geometria e fundos que se integram e enriquecem a obra. Neles os temas humanos são muitos: os poloneses em suas carroças, os guarda freios em cima dos vagões, jogadores de futebol, homens e mulheres, personagens especiais ou não, na vida cotidiana, com seus trajes que denotam o frio de nossa cidade. Ilustrou importantes livros, dentre os quais “Xingú os índios, seus mitos” de Orlando e Cláudio Villas Boas, editado pela Zahar Editores,1979.

 

As gravuras são maravilhosas, técnica propícia para seu tipo de desenho, ou talvez, o inverso, seu desenho tenha nascido das ricas gravuras dos anos 30. As cores, quando há, em sua maioria chapadas, são fortes e limpas, dão um toque aqui e ali. Aos poucos foram surgindo os painéis em relevo, feitos de cimento, a partir de fôrmas de isopor, sempre contando histórias em uma composição muito rica. São muitos! Cito aqui os do Teatro Guaíra, do Palácio do Governo, do Clube Curitibano, onde figura na parte externa um simpático obelisco com a gralha e seu pinhão. O da praça 29 de março, falando das histórias da cidade de Curitiba, em comemoração a seu aniversário, talvez seja o maior deles, com trezentos metros quadrados.

 

Os murais de azulejo, no centro da cidade, iluminam e alegram a vida dos transeuntes e não nos deixam esquecer nossa cultura, seja pelas araucárias e seus pinhões ou os contemporâneos tubos dos ônibus vermelhos. Poty, com seu talento e persistência, criou, com riqueza de detalhes, a história de uma cidade a céu aberto.

 

Vamos comemorar essa data, visitando os locais de suas obras externas e a rica mostra apresentada nesse momento pelo Studio R. Krieger.

 

Ilustração para o álbum produzido pelo Estado do Paraná 1980. Poty. (Coleção Studio R. Krieger)

 

Imagem de abertura: Ilustração para o mito Kamaiurá “O Tapir: a anta e as estrelas” – 1970. Zahar Editores 1979. Poty.

 

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