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Sobre a beleza

13/02/2024
beleza

Minha coluna de hoje foi inspirada num acontecido doméstico. Já meio sem paciência, devido à inapetência do guri, o pai coloca o sanduiche, preparado com esmero, sem pratinho, sobre a toalha da mesa, diante da criança, para seu lanche de final de tarde, ao que o garoto, de 5 anos, replica indignado diante da cena dantesca! “Ahhhhh nããão… e a beleza?” Todos nós, surpresos, morremos de rir.

 

A gente vai vivendo a vida, no dia a dia, sem perceber o olhar analítico e observador da criança. Criado num ambiente de música e arte, porém sem luxos ou excessos decorativos, a criança descalça, acostumada a brincar na terra, na água, enfim, com uma convivência diária com a natureza, além de muitos livros e gente que se dá o tempo de ler para ele e contar histórias, Pedro é feliz.

 

“Mesa posta para o Natal” (Manoela de Borba Titton – fotografia – Curitiba 2022)

 

Surpresa com a sua observação, fui pensar sobre o significado da beleza e de como esse tema nos afeta no cotidiano. Poderíamos, levianamente, pensar que é um assunto superficial, que diz respeito à juventude ou mesmo aos mais velhos, na busca das melhores soluções, compelidos que somos pela necessidade de parecer bem. Não só fisicamente, mas por todo o status que a beleza acarreta.

 

Ouvi, várias vezes, jovens dizendo que não frequentavam tal ou tal lugar porque tem “gente feia”. Fiquei chocada a primeira vez que ouvi isso, pois não entendi o significado da expressão. Quando entendi, fiquei mais chocada ainda! Fui aos poucos compreendendo a força de uma revista “Caras”, entre outras, que tornam importante saber como OS OUTROS” vivem bem”, ou parecem viver assim, e pior… levando-nos a nos balizarmos por isso, para estabelecermos o nosso próprio modus vivendi – ser “gente bonita”.

 

Deixando a parte da frivolidade e voltando para a nossa surpresa diante do comentário do Pedro, encontrei na internet, no item filosofia do manual do ENEM, publicado por Natália Cruz e atualizado em 28/07/22, em sua introdução: “A palavra estética vem do grego aisthetiké, que significa aquele que nota, aquele que percebe, aquele que possui percepção de algo. A estética é conhecida, também, por ser a ciência do belo, a filosofia da arte que se dedica a estudar aquilo que é belo nas manifestações da natureza e também nas manifestações artísticas.” Daí podemos depreender a importância do assunto para a humanidade, já que existe uma ciência a se preocupar em desvendar os mistérios do belo.

 

“Los nuba de Kau” (Leni Riefenstahl, da obra ‘el arte de la máscara’ – fotografia – Barcelona 1978)

 

Hoje, aqui na nossa coluna “Arte importa?”, deixamos uma sugestão para quem quiser se aprofundar no assunto, buscar nas referências étnicas, o porquê das diversas etnias e culturas se expressarem tão fortemente por meio da arte, do belo – da pintura corporal, em sociedades que não usam roupas, e dos trajes que chamamos “típicos”, com toda a cultura que há por trás deles, naquelas que as usam – a fim de compreender, um pouco melhor, como esse tema está entranhado em nós, não apenas intelectualmente, mas existencialmente, belamente tatuado em nossa pele.

 

A observação do Pedro, que vive em um meio onde a beleza importa, nos levou a pensar sobre o fato dela não ser mero detalhe de decoração, e sim, tão essencial quanto o alimento que se serve à mesa todos os dias. A beleza é parte fundamental de sermos humanos.

 

Imagem de abertura: “Hora do café da manhã” (Hanna Pauli, óleo sobre tela (detalhe) 1887 – Museu Nacional de Estocolmo. Wikimedia Commons)

 

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.

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