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VIDAL-CABECA-COLUNA

Dire Straits: a guitarra inglesa é perfeita

25/03/2025

A estreia do Dire Straits é memorável. Com seu álbum apenas intitulado Dire Straits, lançado em 1978, mostrou ao mundo um dos maiores guitarristas dessa geração: Mark Knopfler. Junto com seu irmão David Knopfler, na guitarra, John Illsley, no baixo e Pick Withers, na bateria, completando a banda, mostraram para o mundo um rock’n’roll simples e objetivo porém com muita técnica e melodia. Com um som influenciado pelo rock clássico, pelo blues e pelo country, o disco chamou atenção pela sutileza instrumental e pelo estilo único de Mark Knopfler de tocar guitarra com os dedos (fingerpicking). Produzido por Muff Winwood, vendeu mais de 5 milhões de cópias. Um sucesso extraordinário.

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Down To The Waterline abre o álbum com uma introdução atmosférica, quase cinematográfica, antes de mergulhar em um riff de guitarra cativante. A canção é nostálgica, descrevendo um amor juvenil com imagens vívidas de encontros à beira d’água. A guitarra de Knopfler brilha com fraseados melódicos e toques sutis que remetem a J.J. Cale e Bob Dylan.

Com uma pegada mais voltada ao country-blues, Water Of Love apresenta um ritmo cadenciado e ressoante, acentuado pelo slide guitar. A letra fala sobre solidão e a busca por redenção, evocando uma paisagem árida e desolada. A interpretação de Knopfler, sempre econômica e expressiva, adiciona um tom melancólico à canção.

Em Setting Me Up a banda acelera o ritmo com um rockabilly animado e riffs rápidos de guitarra. A letra trata de decepção amorosa, mas a melodia energética contrasta com o tom resignado da narrativa. A influência de Chet Atkins e do blues de Chicago é perceptível no fraseado de Knopfler.

A minimalista e sensual Six Blade Knife é impulsionada por um groove hipnótico de baixo e bateria. A guitarra de Knopfler segue uma abordagem quase falada, criando um clima de tensão e mistério. A letra sugere uma relação destrutiva, usando a metáfora da faca de seis lâminas como símbolo de algo perigoso e irresistível.
Southbound Again mantém um ritmo acelerado, com um riff repetitivo e uma linha de baixo pulsante. A letra fala sobre estar sempre em movimento, talvez uma referência às turnês ou a uma busca incessante por um destino indefinido. A sensação de deslocamento constante se reflete na instrumentação dinâmica.

Sultans Of Swing é a canção mais icônica do álbum e um dos maiores sucessos da banda. Inspirada em uma apresentação de uma banda de jazz em um bar de Londres. Se destaca pela letra descritiva e pela performance magistral de Knopfler na guitarra. O solo final é um dos mais memoráveis da história do rock, fluindo com naturalidade e precisão. Um clássico inigualável.

In The Gallery é uma crítica social embalada em um blues-rock cadenciado. Knopfler canta sobre um escultor marginalizado pela elite artística, levantando reflexões sobre o valor da arte e a hipocrisia do mercado. O instrumental mantém um groove discreto, deixando a narrativa como protagonista.

Wild West End é uma balada suave e contemplativa que evoca cenas do cotidiano em Londres. O tom introspectivo e a melodia envolvente criam uma atmosfera de nostalgia e ternura. A guitarra de Knopfler brilha nos detalhes sutis e nas pausas estratégicas.

Lions fecha o álbum. É envolvente e mistura elementos de folk e blues. A letra traz imagens abstratas e poéticas, sugerindo uma observação da cidade e de seus habitantes. A progressão de acordes e a guitarra meticulosa dão à faixa um tom sonhador e melancólico.

O primeiro álbum do Dire Straits é uma obra-prima de sutileza e precisão musical. Diferente do rock grandioso e repleto de sintetizadores da época, a banda apostou em um som cru e sofisticado, que valorizava a narrativa e o feeling instrumental. Mark Knopfler se estabeleceu como um dos guitarristas mais distintos de sua geração, com riffs inesquecíveis e técnica absurda. Um verdadeiro guitarrista de rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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