Banda punk da periferia de São Paulo, formada em 1981 por integrantes de outras duas bandas, Restos De Nada e Condutores De Cadáver. Liderados por Clemente, os Inocentes estrearam numa coletânea chamada Grito Suburbano, junto com Cólera e Olho Seco, que formavam o alicerce do punk paulista. Depois de lançarem dois mini-LP’s, assinaram com uma grande gravadora e, com produção de Geraldo D’Arbilly e Pena Schmidt, “expeliram” o grandioso álbum Adeus Carne, de 1987. Um manifesto punk-hardcore num Brasil esculhambado.
A guitarra e o baixo que iniciam a maravilhosa e rebelde Pátria Amada são sensacionais. Os vocais de Clemente são raivosos com a situação vivida pelo país (e mudou?). A letra é um hino punk que deve ser vociferado por todo brasileiro. “Pátria amada, você me decepcionou. Quando te pedi justiça, você me negou!” O final com tiros e bombas é arrasador.
A levada de Eu é matadora. O baixo nervoso e os pequenos solos de guitarra são hardcore. O vocal se destaca novamente, com Clemente declamando uma letra punk e poética.
Morrer Aos 18 é rápida e muito mais hardcore. Sua guitarra é pesada. Clemente declama novamente um poema contra as forças armadas, com sua revolta habitual. As viradas da bateria são formidáveis.
A levada da guitarra em Não Sei Quem Sou é meio hard. Mas bateria e baixo seguram essa levada e Clemente solta a voz, com um refrão gritado em coro. A bateria se destaca novamente. Digno do punk inglês dos anos 80.
Tambores começa com violões e uma batida bem hard rock. A letra é um lamento contra a escravidão. Contra todo o tipo de escravidão. “Tambores à noite, não se calam jamais.” E tem um solo de guitarra curto e preciso. Sem dúvida a melhor faixa do álbum.
Não É Permitido começa com um baixo forte e uma guitarra distorcida. O discurso falado de Clemente é retrógrado e reacionário. E irônico, é claro!
Em Pedaços é a mais hardcore do álbum. Rapidez e peso, com uma letra gritada. “Momentos de angústia, momentos de dor.”
Cidade Chumbo começa com um piano. Sim! Um piano. Mas a levada é mais leve e descontraída. Sem perder a revolta da letra.
Na Sarjeta começa com um baixo e mais distorção de guitarras. A bateria sempre pesada cadencia a canção. Peso e fúria numa letra curta e voraz. E mais guitarras. E mais guitarras.
Pesadelo é peso punk, “Quando um muro separa, uma ponte une. Se a vingança encara, o remorso pune.” Muita guitarra e uma bateria que leva a música até o final.
Por fim, a instrumental Adeus Carne. Lenta parecendo punk industrial. Trent Reznor iria adorá-la. Descamba para uma batucada no fim.
Canções rápidas, punks, melódicas, pesadas, hardcore, tudo misturado. Bem misturado. E bem tocado. E bem vociferado. Punk e hardcore dignos. Dignos da vertente mais raivosa do rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.
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