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VIDAL-CABECA-COLUNA

L7 e o rock feminino de atitude

12/03/2025

Com o Dia Internacional da Mulher, não poderia deixar de falar de uma das melhores bandas compostas somente por mulheres na história do rock’n’roll. Estou falando das californianas do L7. O seu terceiro álbum de estúdio é espetacular. Bricks Are Heavy foi lançado em 14 de abril de 1992 e, imediatamente foi um sucesso. Formado por Donita Sparks (vocais e guitarra), Suzi Gardner (vocais e guitarra), Jennifer Finch (vocais e baixo) e Dee Plakas (bateria), a banda mostrou ao mundo como mulheres de atitude, criatividade e musicalidade conseguem fazer rock da melhor qualidade.

 

L7 - Bricks Are Heavy

 

Wargasm abre o álbum com tudo: um riff sujo e distorcido que te arrasta para o universo cru e político da banda. A letra é uma crítica ácida à glorificação da guerra, com um tom sarcástico e provocativo. “War for profit, what a patriot’s dream” é um soco no estômago, questionando as motivações por trás dos conflitos. A energia é contagiante, e a voz de Donita Sparks carrega uma raiva que parece vir das entranhas. Um começo perfeito para um álbum que não tem medo de cutucar a ferida.

 

Scrap é uma ode à autodestruição e ao caos, com um ritmo acelerado e uma guitarra que parece arranhar os ouvidos. A letra fala sobre se sentir descartável, como um “resto” da sociedade, mas há uma revolta latente que transforma essa fragilidade em força. A bateria de Dee Plakas é implacável, mantendo a faixa em um ritmo frenético. É uma música que te faz querer quebrar tudo, mas também refletir sobre como o sistema nos reduz a “sobras”.

Pretend We’re Dead, o hit do álbum, é um hino definitivo dos anos 90. A melodia é cativante, mas não se engane: a letra é uma crítica mordaz à apatia e à conformidade. “They don’t really care, they just pretend” é um refrão que ecoa até hoje, questionando quantas vezes nós mesmos fingimos que está tudo bem para não enfrentar a realidade. A produção de Butch Vig é impecável, equilibrando a sujeira do grunge com uma pegada pop que conquistou as rádios. Uma faixa que é ao mesmo tempo dançante e profundamente reflexiva.

 

Em Diet Pill a banda aborda a pressão sobre as mulheres para se encaixarem em padrões de beleza irreais. A canção é pesada, com um riff que parece arrastar você para o fundo do poço, refletindo a angústia e a raiva do tema. A letra é direta e sem rodeios, com linhas como “I’m not a size 5, and I’m never gonna be” sendo um grito de libertação. É uma faixa que fala sobre resistência e autoaceitação, mas sem perder a ferocidade que define a banda.

Everglade é uma das faixas mais sombrias do álbum, com uma atmosfera pesada e introspectiva. A guitarra é lenta e arrastada, criando uma sensação de desespero e claustrofobia. A letra fala sobre sentir-se perdido e sufocado, como se estivesse afundando em um pântano emocional. É uma mudança de ritmo bem-vinda no álbum, mostrando que a banda não tem medo de explorar diferentes tons e texturas.

Slide é pura energia, com um riff que te empurra para frente e uma letra que fala sobre se libertar das amarras. A voz de Jennifer Finch é poderosa, e a bateria mantém um ritmo que parece uma corrida contra o tempo. É uma música sobre movimento, sobre não ficar parado e continuar lutando, mesmo quando tudo parece desmoronar. Uma das faixas mais subestimadas do álbum, mas que merece atenção.

A banda mostra seu lado mais sarcástico e irônico em One More Thing. A canção é uma crítica à cultura do consumo e à obsessão por posses materiais. A letra é cheia de frases cortantes, como “I need one more thing to make my life complete”, que soam como um tapa na cara da sociedade capitalista. O riff é simples, mas eficaz, e a energia da faixa é estonteante. É uma música que te faz rir e refletir ao mesmo tempo.

Mr. Integrity é uma das faixas mais políticas do álbum, com uma letra que ataca a hipocrisia e a corrupção. A guitarra é pesada e distorcida, e a voz de Donita Sparks carrega uma raiva que parece vir da alma. A canção é um chamado para questionar as figuras de autoridade e não aceitar as coisas como elas são. É uma faixa que continua incrivelmente relevante, infelizmente.

Monster é uma explosão de raiva e frustração, com um riff que parece um monstro saindo do armário. A letra fala sobre sentir-se preso e oprimido, como se algo estivesse te devorando por dentro. A energia é brutal, e a bateria parece estar sempre à beira de um colapso. É uma canção que te faz querer gritar junto, liberando toda a raiva acumulada.

 

 

Shitlist é uma faixa curta, direta e extremamente poderosa. A letra é uma lista de coisas que a banda está de saco cheio, e a energia é tão intensa que você quase pode sentir o suor e a raiva transbordando. É um hino de revolta e insatisfação.

This Ain’t Pleasure começa com um riff de guitarra pesado e arrastado, que imediatamente cria uma atmosfera densa e opressiva. A letra é uma exploração crua e honesta de um relacionamento abusivo, onde a dor emocional e a confusão são retratadas sem rodeios. A linha “This ain’t pleasure, this is pain” é um golpe direto. A voz de Donita Sparks carrega raiva transmitindo a complexidade emocional da situação. A guitarra é suja e distorcida, refletindo o caos interno descrito na letra, enquanto a bateria de Dee Plakas mantém um ritmo implacável.

Bricks Are Heavy é um álbum que reflete a raiva, a revolta e a energia dos anos 90, mas que continua incrivelmente relevante hoje. O L7 conseguiu criar um trabalho que é ao mesmo tempo pesado e melódico, político e pessoal, caótico e coeso. Cada faixa é um tijolo nessa construção, e juntas elas formam um monumento ao poder do rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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