Após o fim de uma das bandas mais queridas do Reino Unido, o The Smiths, seu vocalista e principal compositor, Morrissey, lançava o seu primeiro álbum solo, Viva Hate, em 14 de março de 1988. Este álbum marca o início de uma nova fase na carreira do cantor, mantendo sua essência lírica melancólica e introspectiva, mas com uma sonoridade que explora novos caminhos. A produção ficou a cargo de Stephen Street, que também toca baixo no álbum e Vini Reilly, da banda The Durutti Column é o responsável pelas guitarras.
Alsatian Cousin já mostra que Morrissey não está mais no The Smiths, mas ainda carrega a mesma intensidade emocional. A letra é cheia de ironia e críticas veladas, com um tom de desilusão. A guitarra de Vini Reilly é marcante, com linhas melódicas que se entrelaçam com a voz suave e dramática de Morrissey. A faixa é energética, mas com um clima sombrio que permeia todo o álbum.
Little Man, What Now? é uma das faixas mais introspectivas do disco, com letras que refletem sobre a passagem do tempo e a sensação de inadequação. A instrumentação é mais contida, com um arranjo de cordas que adiciona uma camada melancólica. Morrissey canta com uma doçura amarga, questionando o sentido da vida e o lugar do indivíduo no mundo.
Um dos maiores clássicos da carreira solo de Morrissey, Everyday Is Like Sunday, é uma ode à melancolia e ao tédio das cidades litorâneas inglesas. A letra é poética e ao mesmo tempo desesperançosa, com versos icônicos como “Come, come, nuclear bomb”. A melodia é sensacional, e o arranjo de cordas dá um tom épico à canção. É uma das faixas mais acessíveis do álbum e um marco na carreira do cantor.
Bengali In Platforms é uma faixa polêmica, com letras que foram criticadas por supostamente perpetuar estereótipos culturais. Morrissey canta sobre a dificuldade de adaptação de um imigrante bengali, mas a abordagem foi considerada insensível por alguns. Musicalmente, a faixa é interessante, com uma batida pulsante e guitarras que criam um clima denso.
Angel, Angel, Down We Go Together é uma balada melancólica, com letras que falam sobre solidão e desespero. A instrumentação é minimalista, com destaque para o piano e as cordas, que criam uma atmosfera dramática. Morrissey canta com uma entrega emocionaal intensa, reforçando o tom trágico da música.
Late Night, Maudlin Street é a faixa mais longa do álbum, com mais de sete minutos, é uma jornada introspectiva e nostálgica. Morrissey reflete sobre o passado, com letras que evocam memórias de infância e juventude. A canção é construída em camadas, com guitarras suaves e um arranjo de cordas que cresce gradualmente. É uma das faixas mais emocionantes do disco.
Outro clássico de Morrissey, Suedehead foi o primeiro single do álbum e um sucesso instantâneo. A letra fala de obsessão e amor não correspondido, temas recorrentes na obra do cantor. A melodia é maravilhosa, e a produção de Stephen Street é impecável, com guitarras brilhantes e uma batida contagiante. É uma das faixas mais acessíveis e memoráveis do álbum.
Break Up The Family é mais introspectiva, com letras que exploram temas de isolamento e conflito familiar. A instrumentação é mais contida, com destaque para o baixo e as guitarras suaves. Morrissey canta com uma doçura melancólica, criando uma atmosfera íntima e emocionalmente carregada.
The Ordinary Boys critica a mediocridade e à falta de ambição. A faixa tem um tom mais sarcástico e mordaz. A canção é mais animada, com guitarras energéticas e uma batida pulsante. Morrissey canta com uma atitude quase desdenhosa, reforçando o tema da letra.
I Don’t Mind If You Forget Me é uma faixa mais otimista, com letras que falam sobre superação e seguir em frente. A canção é leve e melódica, com guitarras brilhantes e um arranjo de cordas que adiciona um toque de esperança. É uma das faixas mais positivas do álbum, contrastando com o tom geral de melancolia.
Dial-a-Cliche é curta e direta, com letras que brincam com clichês românticos. A música é simples, mas eficaz, com guitarras suaves e uma batida relaxada. Morrissey canta com um tom quase cômico, mostrando seu lado mais irônico.
O álbum fecha com uma das faixas mais polêmicas e impactantes, Margaret On The Guillotine. A letra é uma crítica ácida à então primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, com versos que sugerem violência. A canção é minimalista, com um arranjo de violão e cordas que cria uma atmosfera sombria e perturbadora. É um final poderoso e provocativo para o álbum.
Viva Hate é um álbum que marca a transição de Morrissey de frontman do The Smiths para uma carreira solo bem-sucedida. Apesar de manter muitas das características que o consagraram, como letras introspectivas e melodias melancólicas, o álbum explora novos caminhos sonoros, graças à colaboração de Vini Reilly e à produção de Stephen Street. As faixas variam entre o melancólico, o irônico e o político, criando um trabalho coeso e emocionalmente impactante de rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.
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