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VIDAL-CABECA-COLUNA

Neil Young: o folk rock canadense

08/01/2025

O Canadá sempre produziu boa música. Um dos seus maiores representantes é Neil Young. Tanto sua carreira nas bandas Buffalo Springfield e Crosby, Stills, Nash & Young, quanto na sua carreira-solo, sempre foram espetaculares. Seu quarto álbum solo, Harvest, é um primor. Lançado em fevereiro de 1972, definiu muito o country rock e o folk rock de hoje. E de sempre. Vendeu mais de 10 milhões de cópias. Um sucesso absoluto.

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Out On The Weekend, a faixa de abertura, apresenta o tom melancólico e introspectivo que permeia o álbum. O arranjo, com a steel guitar discreta e o vocal relaxado de Neil Young, evoca uma sensação de solidão e busca emocional. A letra aborda a dificuldade de conexão e o anseio por algo que parece sempre fora de alcance. Uma introdução perfeita que prepara o ouvinte para a jornada emocional que virá. O uso da harmônica dá um toque nostálgico.

A faixa-título, Harvest, é um country-folk com um toque delicado de romantismo e ambiguidade. Com arranjos simples e uma melodia calorosa, Young explora as nuances de relacionamentos e vulnerabilidade emocional. O piano e a pedal steel criam um ambiente íntimo. A letra sugere uma dualidade entre o conforto e a dificuldade em abrir o coração.

Em A Man Needs A Maid Young mistura minimalismo com grandiosidade, alternando um piano solo com arranjos de cordas exuberantes, Gravado com a London Symphony Orchestra. A letra reflete sobre solidão, medo de intimidade, misturando vulnerabilidade com um comentário social sutil. Uma faixa polarizadora, com versos que podem soar antiquados hoje, mas que revelam a crueza emocional de Neil na época.

Heart Of Gold é o maior hit do álbum. Essa canção folk acústica mostar o desejo de pureza e autenticidade. Com a harmônica marcante e participação de James Taylor e Linda Ronstadt nos vocais de apoio, é uma das composições mais acessíveis e universais de Young. Embora simples, a faixa é carregada de emoção. É um momento de conexão direta com o ouvinte, explicando seu sucesso duradouro. “I wanna live, I wanna give, I’ve been a miner for a heart of gold, It’s these expressions I never give, That keep me searching for a heart of gold, And I’m getting old, Keep me searching for a heart of gold, And I’m getting old.”

Are You Ready For The Country? tem um toque descontraído e um piano marcante, A canção oferece uma pausa mais leve no álbum. A letra é enigmática, mas parece discutir a dualidade entre a vida rural e a urbana. Um momento divertido que reflete a influência do country no trabalho de Young. Tem a participação de David Crosby e Graham Nash nos vocais.

Uma das faixas mais sensacionais do álbum, Old Man é uma reflexão pessoal que Young escreveu sobre o caseiro de sua propriedade. A canção explora temas universais de solidão, envelhecimento e busca por conexão, embalados por uma melodia delicada. A combinação de banjo, guitarra acústica e vocais emocionais é brilhante. Uma obra-prima lírica e melódica. Linda Ronstadt participa nos vocais e James Taylor toca banjo e faz vocais de apoio.

Com arranjos orquestrais imponentes, There’s A World se destaca como um momento mais teatral no álbum. A letra reflete otimismo e uma curiosidade sobre o mundo e seu potencial. A orquestração fica por conta da London Symphony Orchestra novamente.

Uma crítica social direta, Alabama denuncia a história de racismo no sul dos Estados Unidos. A letra provocativa gerou controvérsias, incluindo a resposta dos Lynyrd Skynyrd em “Sweet Home Alabama”. Uma faixa poderosa e sem rodeios. David Crosby e Stephen Stills fazem os vocais com Neil. “Alabama, you got the weight on your shoulders, That’s breaking your back, Your Cadillac has got a wheel in the ditch, And a wheel on the track.”

The Needle And The Damage Done foi gravada ao vivo no Royce Hall, na UCLA. Essa canção é um tributo sombrio à devastação causada pelo vício em heroína, inspirada por amigos de Young que lutaram contra a dependência. Uma das faixas mais emocionais do álbum, com um impacto visceral. A simplicidade do arranjo amplifica sua mensagem.

Co mais de seis minutos, Words (Between the Lines of Age), é experimental e introspectiva, encerrando o álbum com um tom mais enigmático. A instrumentação prolongada, incluindo guitarras e mudanças de ritmo, cria uma atmosfera quase psicodélica.

Harvest é uma obra-prima que mistura introspecção com comentário social e musicalidade sofisticada. Cada faixa contribui para um retrato multifacetado de Neil Young, explorando solidão, crítica social e busca por conexão. O equilíbrio entre simplicidade acústica e arranjos orquestrais é espetacular. O verdadeiro folk rock. O verdadeiro rock’n’roll. O bom e velho rock’n’roll.

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