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VIDAL-CABECA-COLUNA

Offspring coloca o punk californiano no topo

16/04/2025

O punk californiano sempre foi uma incógnita. As vezes empolga, as vezes incomoda. Mas sejamos honestos. Quando se trata do Offspring, a coisa muda. Seu terceiro álbum, Smash, lançado em abril de 1994, marcou uma geração com hits sensacionais, com um hardcore/punk avassalador e coeso. Dexter Holland (vocais e guitarra), Noodles (guitarra), Greg K (baixo) e Ron Welty (bateria) lançaram um petardo que vendeu mais de 11 milhões de cópias.

offspring Smash

Time To Relax, um spoken word introdutório, parodia aqueles álbuns de autoajuda ou sessões de relaxamento. A trilha calma e o narrador sereno contrastam completamente com o que vem a seguir, criando um efeito irônico e sarcástico. “You are now ready to begin your journey through the world of music…”. E aí o caos começa.

Nitro (Youth Energy) começa com um riff explosivo e já dá o tom do álbum. É uma ode à adrenalina da juventude e à sensação de imortalidade típica da adolescência. A bateria acelerada e os vocais de Dexter Holland exaltam essa energia, quase como um chamado à ação. O refrão é daqueles que gruda: “Our time has come, We’re gonna break out the rules”.

Bad Habit é uma das faixas mais polêmicas do álbum. Fala sobre “road rage” (raiva no trânsito), com uma letra carregada de xingamentos e violência. O clima tenso cresce até explodir no famoso trecho em que Dexter grita: “You stupid, dumbshit, goddamn motherfucker!”. Aqui, a banda satiriza comportamentos impulsivos e agressivos, numa crítica ácida mas envolta em sarcasmo.

Gotta Get Away, mais introspectiva, essa faixa trata de ansiedade e a sensação de estar sendo pressionado por forças externas, algo que muitos jovens se identificam. A linha de baixo e os riffs marcantes criam uma atmosfera opressiva que combina com a temática da canção. O refrão, “I gotta get away from me”, diz muito sobre crises internas.

Genocide é uma crítica feroz ao conformismo social e à alienação. A banda questiona o papel da sociedade em produzir violência e destruição em massa, mesmo em tempos de paz. Musicalmente, é uma pancada, rápida, agressiva e com vocais alternando entre melódicos e gritados. É uma faixa que remete às raízes hardcore da banda.

Something To Believe In tem riffs cortantes e uma linha de bateria intensa. Fala sobre desilusão com figuras de autoridade e a constante busca por algo em que se possa acreditar, seja religião, política ou ideologia. O vocal vem em um tom quase desesperado, refletindo o vazio de confiar e ser traído.

Come Out and Play (Keep ‘Em Separated) é o grande hit do álbum e um dos maiores sucessos da carreira da banda. Mistura punk com um certo groove oriental no riff de guitarra. A música fala sobre violência nas escolas e gangues juvenis, com o icônico refrão falado: “You gotta keep ’em separated!”. Crítica social feita com inteligência e ritmo viciante.

Self Esteem é outro clássico, com um tom mais melódico e letra confessional. Fala de um relacionamento abusivo e da baixa autoestima, que sabe que está sendo manipulado, mas não consegue sair. A honestidade crua da letra é sensacional.

It’ll Be A Long Time traz de volta a velocidade e agressividade. Questiona o futuro da humanidade com um senso de urgência: “When will we laugh again? When will we dance again?”. A faixa toca em temas como destruição ambiental, corrupção e guerra, tudo embalado em um instrumental acelerado e visceral.

Killboy Powerhead é um cover do grupo The Didjits. Cover curto e direto, com pegada punk/hardcore pura. A banda injeta energia na canção original, mostrando seu apreço pelas influências do underground e pelo espírito “faça você mesmo”. Não traz a profundidade lírica das demais, mas funciona bem como descarga de adrenalina.

What Happened To You? é um ska/punk. Tem um ritmo mais leve, quase dançante, mas ainda carrega crítica. Fala sobre autodestruição, vícios e mudanças negativas de personalidade, com ironia: “You used to be such a sweet, sweet thing, But now you seem so sincere”. Funciona como um respiro antes do final arrasador.

So Alone tem um pouco mais de 1 minuto, mas com impacto. Hardcore clássico, rápido e furioso, quase uma explosão de angústia e alienação. Serve como uma transição caótica para o encerramento.

Not The One aborda o sentimento de não se encaixar, de não ser aquele que os outros esperam que você seja. Tem um ritmo mais cadenciado, mas ainda energético, e questiona valores impostos socialmente. A sonoridade acompanha essa tensão, com guitarras mais abertas e refrão que contrasta com os versos.

Smash, a faixa-título, é a mais longa e funciona como um fecho reflexivo. Dexter canta sobre se libertar de amarras e reconhecer seu próprio valor. O instrumental cresce aos poucos, alternando peso e melodia. A frase “I just want to smash it up for everyone” sintetiza a atitude do álbum: destruir convenções e se afirmar no caos.

Time To Relax (Reprise) encerra o álbum retomando a narração da faixa 1. A mesma voz tranquila agradece por ouvir o álbum, encerrando com um tom sarcástico. Um toque final que reforça o senso de humor ácido do disco.

Smash é um álbum coeso, crítico, energético e sincero. Consegue unir velocidade, atitude punk, letras afiadas e momentos melódicos sem perder a força. É um trabalho que capturou o espírito de uma geração desencantada e mostrou que bandas independentes podiam alcançar o topo das paradas com integridade. Um verdadeiro marco dos anos 90. Um marco no rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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