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VIDAL-CABECA-COLUNA

Ramones eterniza o punk

09/04/2025

Depois de ter assistido ao show do Marky Ramone e sua banda em Curitiba, me veio a lembrança de como eu gostava muito dos Ramones. Principalmente do seu 11º álbum, Brain Drain, lançado em 1989. Entre brigas, conflitos e muito punk, a banda ainda tinha lenha para queimar. Lançou um álbum cru, visceral, porém adaptado a realidade da época. Marcou a volta de Marky depois de seis anos. A produção ficou a cargo de Bill Laswell, Jean Beauvoir e Daniel Rey.

brain drain ramones hojepr

I Believe In Miracles é uma abertura poderosa, com riffs mais pesados e uma vibe quase hard rock. A letra expressa otimismo, mas com um fundo de dor e superação: “I used to be on an endless run, Believe in miracles ‘cause I’m one”. É o Ramones tentando soar mais sério, amadurecido, e ainda assim mantendo o espírito punk. Uma das músicas mais lembradas do álbum.

Em Zero Zero UFO a banda brinca com temas de ficção científica, algo que já haviam feito em outros álbuns. A canção é divertida e acelerada, com toques surf rock e uma letra que fala sobre um encontro com um OVNI. Não é das mais profundas, mas entrega bem a proposta despretensiosa.

Don’t Bust My Chops é punk cru, direto, ríspido. A faixa fala de frustração, de alguém sendo constantemente criticado ou cobrado. “Don’t bust my chops, baby, I’ve had enough”. É quase uma declaração de cansaço, possivelmente refletindo as tensões internas da banda na época.

Punishment Fits The Crime é destaque, por ter Dee Dee Ramone nos vocais principais, o que já traz uma mudança de tom. É uma das faixas mais estranhas do álbum: mistura reggae com punk e uma produção mais limpa, o que dividiu os fãs. A letra traz uma crítica social e reflexões sobre justiça, mas a execução é um tanto irregular. Uma curiosidade interessante mais do que uma faixa memorável.

All Screwed Up volta ao punk rápido e simples, com uma letra sobre desilusão e autodepreciação. “I’m all screwed up, I don’t know what to do”. Tem um ritmo animado, mas a sensação de desespero no fundo da faixa deixa um contraste interessante entre forma e conteúdo.

Palisades Park é um cover da música de Freddy Cannon, que a banda transforma em uma versão agitada e barulhenta. Fala de um parque de diversões onde o narrador viveu momentos marcantes. É nostálgica e divertida, e combina com o lado mais lúdico da banda.

Pet Sematary é o grande sucesso do álbum. Escrita por Dee Dee Ramone e Daniel Rey, foi composta a pedido de Stephen King para o filme homônimo. Uma canção com clima sombrio, melodia mais contida, quase pop, mas com peso. A letra é sobre morte e renascimento. “I don’t want to be buried in a Pet Sematary, I don’t want to live my life again”. Um sucesso comercial e um dos últimos grandes hits da banda.

Learn To Listen é curta, agressiva, direta. Um verdadeiro soco punk. A faixa mais rápida do álbum. A letra é sobre ignorância e falta de comunicação. Não tem sutilezas, apenas gritos e distorção. Lembra as primeiras gravações da banda, mas com uma raiva renovada.

Can’t Get You Outta My Mind tem uma quebra de tom. A canção é mais pop punk, com refrão melódico e uma pegada romântica, no estilo Ramones, claro. “I can’t get you outta my mind, I can’t kiss you goodbye”. Uma balada energética sobre obsessão e saudade, com Johnny mandando muito bem na guitarra.

Ignorance Is Bliss fala sobre alienação e conformismo. Musicalmente, é pesada e arrastada, com riffs que remetem ao metal dos anos 80. Mostra uma banda que está experimentando um som mais sombrio e menos juvenil, reflexo do fim da década de 80 e dos conflitos internos.

Come Back Baby traz um clima meio garage rock. Não é tão memorável quanto outras, mas tem um ar de despedida e arrependimento. “Come back baby, Don’t break my heart in two”. É como se a banda estivesse olhando para trás, cansada, mas ainda tentando se reconectar.

Merry Christmas (I Don’t Want To Fight Tonight) é uma faixa natalina que virou clássica. Mistura humor, amargura e um pouco de ternura. A letra fala sobre tentar manter a paz durante o Natal, mesmo em meio a brigas. “Where is Santa and his sleigh? Tell me why is it always this way?”. Um encerramento inusitado, mas sincero e com a cara dos Ramones.

Brain Drain é um álbum mais sombrio e pesado do que os clássicos dos Ramones, refletindo o desgaste e as transformações internas da banda. Ainda assim, traz momentos marcantes. Mostra uma banda tentando evoluir e lidar com seus próprios fantasmas. Mas mostra, também, o punk rock. O rock’n’roll. O bom e velho rock’n’roll.

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