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VIDAL-CABECA-COLUNA

Tom Petty e o country rock perfeito

30/04/2025

Tom Petty foi um dos ícones do country rock moderno. Seu primeiro álbum como artista solo, Full Moon Fever, é simplesmente um primor. Lançado em 24 de abril de 1989, conta com a participação de Roy Orbison, Jeff Lyne e George Harrison, companheiros no projeto The Traveling Wilburys. Sua sonoridade simples e melódica faz com que o country rock seja disseminado por todo o planeta. A produção fica a cargo do próprio Petty, de Lyne e de Mike Campbell, que também participa do álbum tocando guitarra, baixo, teclados, bandolim e banjo. Infelizmente Tom nos deixou em 2 de outubro de 2017.

Full Moon Fever tom petty

O álbum já abre com uma obra-prima. Free Fallin’ é uma das músicas mais conhecidas da carreira de Petty. Com um tom nostálgico e letras sobre a juventude e a liberdade em Los Angeles, a canção é simples mas tremendamente eficaz. A melodia é tão expansiva quanto o tema: a sensação de cair livremente sem medo — ou talvez exatamente com medo. Um hino que captura a sensação de vulnerabilidade e desejo de fuga.

I Won’t Back Down é uma poderosa declaração de resistência. Escrita com Jeff Lynne, a música é direta e otimista, com George Harrison nos backing vocals. O refrão é quase um mantra de perseverança pessoal, lançado num momento em que Petty havia passado por grandes dificuldades, inclusive um incêndio em sua casa.

Love Is A Long Road é coescrita com Mike Campbell. Traz um tom mais urgente, com guitarras vibrantes e um sentimento de busca. É sobre relações difíceis, onde o amor é uma “estrada longa” cheia de provações. Um rock mais acelerado e intenso, ótimo para colocar o álbum em movimento.

Aqui, Petty diminui o ritmo. A Face In The Crowd é melancólica e sutil, falando sobre aquele momento em que alguém comum de repente se torna especial na sua vida. A música é simples, mas cheia de emoção e lirismo. Uma pequena joia romântica, discreta e tocante.

Uma explosão de energia! Com um riff de guitarra hipnótico, Runnin’ Down A Dream fala sobre seguir seus objetivos sem hesitar. O solo de guitarra é um dos destaques do disco. Rock na veia, perfeito para pegar a estrada. Literalmente um clássico para road trips.

Petty homenageia os Byrds, uma de suas maiores influências, com essa versão de Feel A Whole Lot Better, originalmente de Gene Clark. Fiel ao espírito jangle pop, mas com a pegada mais elétrica da produção moderna de Jeff Lynne. Uma releitura amorosa e divertida, mantendo a alma da música original.

Yer So Bad é uma faixa espirituosa e sarcástica sobre relacionamentos e família na cultura americana. A letra é irônica (“Meu irmão se casou com uma mulher do inferno…”) e a melodia é surpreendentemente alegre. Um dos momentos mais bem-humorados do álbum.

Depending On You volta a uma sonoridade mais pop rock. A faixa fala sobre confiança e expectativa nas relações humanas. Simples e eficaz, com harmonias vocais doces. Uma canção de estrutura clássica, que poderia facilmente estar em um álbum dos Heartbreakers.

The Apartment Song é uma canção animada sobre solidão e mudanças. Tem uma vibe folk rápida e quase country. Breve e encantadora, com aquele toque meio “despretensioso porém certeiro” que só Petty sabia fazer.

Em Alright For Now temos uma pausa emocional: uma canção de ninar, praticamente. Só voz e violão, num tom super íntimo. A letra é reconfortante, como uma mensagem de boa noite. Um momento de calmaria no meio do álbum.

A Mind With A Heart Of Its Own volta ao rock básico, com riffs acelerados e uma vibe quase rockabilly. Petty canta sobre contradições internas de maneira leve e divertida. Um Petty mais solto esbanjando energia.

O álbum fecha num clima leve e irônico. Zombie Zoo satiriza a cena dos clubes alternativos de Los Angeles, com jovens fantasiados e poses artificiais. A sonoridade é dançante, quase pop. Uma despedida divertida e zombeteira, cheia de personalidade.

Full Moon Fever é um álbum perfeito. Curto, conciso, cheio de momentos memoráveis. Ele mostra Tom Petty em sua melhor forma: sincero, acessível, com um senso pop incrível e uma reverência pela tradição do rock americano. Cada faixa tem sua identidade própria, e o conjunto flui de maneira deliciosa. O melhor do country rock moderno. Do rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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