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19/05/2024

ENCHENTES NO RS

Com falta de água e comida, Porto Alegre vê fuga em estradas para o litoral

estadão

Ilhados, com falta de luz, pouca água e desabastecimento nos mercados, moradores da Grande Porto Alegre têm partido em massa para os raros municípios menos afetados pela chuva extrema e a enchente que atingem o Rio Grande do Sul há mais de uma semana.

O êxodo ocorre principalmente desde o domingo (5), quando o prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), recomendou a migração temporária daqueles que têm casas na praia (para amenizar o desabastecimento) e, também, com o avanço da inundação em mais bairros da cidade na segunda-feira (6).

Entre aqueles que deixaram a Grande Porto Alegre, há relatos de pessoas que saíram quase repentinamente, ao perceber o avanço das águas perto de casa, assim como daqueles que precisaram de carona diante da inundação da única rodoviária da cidade. Uma família contou ao Estadão que decidiu o destino apenas após sair de casa, quando parou em um estacionamento em uma área seca.

Os gaúchos que conseguiram fugir para áreas mais seguras relatam se sentir “privilegiados” em um contexto de mais de 1,4 milhão de pessoas impactadas, milhares em abrigos e até na rua. A crise humanitária e climática que atinge o Estado deve persistir por tempo indeterminado, diante da lentidão na redução dos níveis da enchente na região metropolitana e previsão de temporais intensos nos próximos dias em grande parte do território gaúcho.

Com diversas vias e rodovias bloqueadas no Estado, a saída em massa gerou congestionamento, tráfego irregular pelo acostamento e trânsito lento nos únicos acessos no caminho para o litoral do Estado e de Santa Catarina, especialmente na ERS-040, na saída de Porto Alegre para Viamão.

A situação se estende por outras estradas. Embora tenham sido atingidas pela chuva extrema, as praias gaúchas e catarinenses não têm sofrido tanto com a enchente histórica quanto outras áreas do Estado.

Em municípios litorâneos, como Capão da Canoa, Torres, Tramandaí e Imbé, os relatos são de um movimento que lembra a temporada de verão. Além de se buscar refúgio em imóveis de veraneio próprios e residências de amigos e familiares, também há aqueles que conseguiram alugar casas e apartamentos de estadia curta, como costuma ocorrer na alta temporada.

Na segunda-feira, com problemas em uma casa de bombas, os moradores dos bairros porto-alegrenses Cidade Baixa e Menino Deus souberam que as águas iriam avançar por meio de uma postagem do prefeito nas redes sociais, na qual sugeria uma evacuação. A publicação repercutiu rapidamente na vizinhança — localizada em uma área de classe média nas proximidades do centro —, gerando grande engarrafamento nas principais vias e preocupação.

As prefeituras do litoral gaúcho têm sinalizado maior movimento de pessoas e algumas medidas para dar suporte em casos de necessidade. Essa parte do Estado tem seis dos dez municípios com mais domicílios de uso ocasional do País.

Nesses locais, imóveis de veraneio e afins superam o total de residências fixas, de acordo com o Censo de 2022, divulgado no ano passado. A lista nacional é encabeçada por Arroio do Sal, com 72,1% dos domicílios com uso ocasional, além das também gaúchas Xangri-Lá, Cidreira, Palmares do Sul (conhecida pela praia de Quintão), Balneário Pinhal e Imbé.

A cerca de 130 km de Porto Alegre, a prefeitura de Imbé apontou ter observado um aumento no fluxo de veículos e recebido relatos semelhantes de comerciantes, especialmente na terça-feira, 7. “As pessoas que estão se deslocando para a cidade, em sua maioria, possuem abrigo em casas de amigos e parentes ou em imóveis alugados”, apontou em nota.

O município destacou que, até o momento, tem conseguido absorver o aumento populacional temporário, como ocorre na alta temporada. “Cabe salientar, contudo, que por se tratar de uma cidade litorânea cuja população aumenta em até 10 vezes na temporada de verão, contamos com uma estrutura que, até o momento, tem se mostrado suficiente para atender a demanda sem qualquer prejuízo à população”, justificou.

A cerca de 150 km da capital gaúcha e um dos principais destinos do litoral norte gaúcho, Capão da Canoa chegou a tratar da migração temporária em uma reunião da prefeitura na tarde de terça. O encontro foi voltado a “discutir sobre a organização e definir o planejamento que irá nortear o trabalho de atendimento às pessoas provenientes de outras cidades, vítimas das adversidades das chuvas”, segundo descreveu o Município.

Em Cidreira, a menos de 60 km de Porto Alegre, foi montado um espaço para destinar doações e prestar apoio a pessoas vindas da região metropolitana que têm familiares, casa de veraneio ou outro vínculo com o município. Segundo a Prefeitura, cerca de 500 pessoas foram atendidas na segunda.

Já Arroio do Sal, a cerca de 180 km da capital gaúcha, tem orientado que as pessoas se cadastrem no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ao chegar à cidade. “Permitirá o acesso a serviços médicos essenciais e possibilitará o recebimento de benefícios adicionais fornecidos pelo Município, como alimentação, roupas e colchões”, informou em rede social.

Embora o Lago Guaíba tenha começado a baixar aos poucos e o fornecimento de água esteja em restabelecimento em parte dos bairros (após cerca de 85% dos imóveis ficarem desabastecidos), a cidade segue em situação de calamidade. Além disso, há o temor dos impactos dos temporais e da onda de frio dos próximos dias, especialmente pelo lago ser um estuário de importantes rios do Estado.

 

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