Com pouco mais de um ano de atividade, a Cooperativa de Agricultores Familiares dos Municípios da Amenorte (Cooanorte) colhe os frutos dos esforços de 65 dos 130 cooperados, que decidiram abraçar um projeto de produção de maracujá e contam com apoio e assistência técnica do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná).. Eles começam este mês a primeira colheita e o abastecimento da Polpanorte, empresa paranaense de Japurá que se transformou em uma das maiores produtoras de polpa do Brasil.
O contrato prevê a compra de toda a produção, com preço mínimo garantido. Inicialmente serão 850 mil quilos. “Garantimos a compra de todo volume produzido nas regiões parceiras da Polpanorte, logo o quesito comercialização não será um problema”, afirmou o agrônomo e especialista agrícola do Grupo Zeppone/Polpanorte, André Luiz Ferreira.
Os primeiros volumes da fruta começam a ser entregues no final de fevereiro, com o pico em março e abril. A previsão da empresa é consumir 5 mil toneladas de maracujá este ano, abrindo grande espaço para os produtores do Estado.
A Cooanorte propõe um novo fomento para a cadeia, assim como fez com acerola e morango. Nos maracujás, a Polpanorte também deve subsidiar o fornecimento das mudas aos associados. Após a entrega, elas se transformam em polpa de frutas, frutas IQF (método em que cada uma é congelada individualmente, garantindo mais qualidade), blend com açaí, cremes, sorbet e outros que possam ser demandados, industrializando a matéria-prima do campo.
As administrações dos municípios que compõem a Associação dos Municípios do Médio Noroeste do Estado do Paraná (Amenorte), que tem Cianorte como polo regional, fornecem infraestrutura como tela, arame, palanques e adubo. A ajuda delas é importante ainda para a ampliação da logística de transporte com a instalação de entrepostos em diversas cidades.
A Cooanorte se comprometeu a também ajudar na assistência técnica, nas tratativas para comercialização e na logística. “O produtor tem apenas o trabalho de conduzir a cultura e produzir”, salientou o gerente da cooperativa e agrônomo Ériques Hilário. “O convencimento foi tranquilo, divulgamos e os produtores nos procuraram pela curiosidade, pela vontade de entrar em um campo diferente”.
Preço mínimo
O atrativo maior para a produção foi a garantia de compra e a fixação de preço mínimo. “Muitas vezes plantavam bastante e não tinham para quem vender, ou o preço baixava muito no mercado”, ponderou Hilário. Segundo ele, foi realizada pesquisa de mercado e o preço ficou bom para todos. “Não é fixo, é para garantir o preço caso haja uma queda grande, e a empresa garante o valor de mercado caso suba”.
No primeiro ano os custos para os produtores devem ser mais elevados devido à instalação da infraestrutura. “Mas depois se estabiliza e tende a ser mais rentável a cada ano, então é um cenário bem interessante para trabalhar com a fruta”, salientou o gerente da Cooanorte.
A espécie escolhida é a maracujá FB 300, uma qualidade rústica da fruta, mais direcionada para a indústria em razão do alto rendimento. Mesmo apresentando frutos não uniformes em tamanho, cor e formato, tem alta produtividade, com preenchimento bom de polpa.
O chefe do Núcleo da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento em Cianorte, Francisco Cascardo Neto, foi um dos idealizadores da cooperativa. “A agricultura familiar de nossa região tem uma vocação para a horticultura e o IDR-Paraná presta um grande serviço de assistência técnica, o que ajuda na produção, mas tínhamos um gargalo na comercialização”, disse.
Diante disso, foi conversado com as prefeituras dos 12 municípios que formam a Amenorte e elas incentivaram a junção de várias pequenas associações para a criação da Cooanorte. “Com a cooperativa conseguimos regularidade, quantidade e qualidade para atender contratos”, destacou. Já são atendidos programas sociais com 32 produtos diferentes. “Queremos e podemos transformar a região em um grande polo de fruticultura do Estado”.
Entusiasmo
O entusiasmo dos dirigentes contagiou os produtores. “O plantio de maracujá caiu como uma luva para mim”, afirmou Cláudio Amaral, que juntamente com a esposa Fátima cultiva 400 mudas na propriedade em Cianorte. Ele espera tirar 4 mil quilos nesta primeira colheita. “Neste plantio inicial tivemos a ajuda da prefeitura de Cianorte, mas o lucro que conseguir nesta safra vou destinar ao aumento”, anunciou.
Cláudio trabalhou com vendas por quase 30 anos. Após uma conversa na Secretaria de Agricultura do município, parou com aquela atividade. E em outubro do ano passado iniciou com o maracujá, juntando à produção de hortaliças, atividade desenvolvida nos finais de semana desde que adquiriu a propriedade há cerca de 12 anos.
“Quando ouvi, gostei da proposta e já me inscrevi para iniciar o projeto. O que mais me levou a plantar e cultivar a cultura, além do projeto da prefeitura, é a garantia de venda na parceria com a Polpanorte”, destacou. “Também tive apoio do pessoal da Emater (IDR-Paraná), que é extremamente comprometido, sempre que preciso de orientação está presente”.
O Grupo Zeppone/Polpanorte é uma empresa familiar, com 29 anos de atuação no processamento de 20 tipos diferentes de frutas. São mais de 130 produtos no portfólio e 40 mil pontos de venda. Atualmente é líder de mercado nacional na produção e venda de açaí.
Produção
O maracujá é uma fruta típica da América Tropical, que inclui o Brasil, hoje o maior produtor mundial com aproximadamente 700 mil toneladas – 70% das pouco mais de 910 mil toneladas produzidas no mundo. Os dados do IBGE de 2022 apontam que a fruta alcançou Valor Bruto de Produção (VBP) de R$ 1,9 bilhão.
No Paraná o VBP do maracujá naquele mesmo ano foi de R$ 71 milhões. A fruta esteve presente comercialmente em 243 municípios, ocupando 1.143 hectares. Nos municípios que formam a Amenorte, o Valor Bruto do maracujá foi de pouco mais de R$ 1 milhão.
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