Se no passado admitir ter depressão ou qualquer outro tipo de doença mental era algo inimaginável, hoje é comum que as pessoas mencionem esses quadros em conversas rotineiras ou vídeos na internet. Inclusive, não é raro ouvir o termo “deprê” para se referir aos momentos de tristeza. Mas, afinal, como diferenciar uma fase mais melancólica de uma depressão propriamente dita?
Em primeiro lugar, é importante entender que a tristeza é um sentimento natural. Em geral, ela aparece como resposta a uma situação difícil envolvendo perda, decepção ou desafios.
Já a depressão é uma condição médica que afeta cerca de 15% dos brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde. Muito mais do que uma tristeza passageira, a depressão é acompanhada por uma sensação persistente de desânimo, desesperança e falta de interesse por atividades que já foram consideradas prazerosas. Também afeta o sono, o apetite, a concentração e a energia do indivíduo.
Em resumo, os especialistas apontam que duração, intensidade e causa são os aspectos mais decisivos para diferenciar a tristeza da depressão.
“Episódios de tristeza são normais e têm um fator desencadeante: seja algo do momento ou uma recordação de uma vivência do passado”, define o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno, diretor do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
A síndrome depressiva até pode ser motivada por um gatilho específico, como um estresse exacerbado. Mas, com o tempo, a doença não depende desse aspecto para se instalar. Por exemplo: ao perder um ente querido, é normal que a tristeza faça parte do seu dia. Mas, se o tempo passar e esse sentimento só crescer ou você não voltar a sentir prazer com coisas que antes te faziam bem, é a hora de suspeitar da depressão – e buscar ajuda.
Cabe destacar ainda que a doença psiquiátrica traz um prejuízo funcional para a pessoa, como interrupção da vida profissional, além de perda de raciocínio e oportunidades. Isso não quer dizer que seja fácil trabalhar durante momentos de tristeza, como ao enfrentar um luto ou problemas em casa. Mas, embora isso exija um esforço muito grande, de certa forma até pode servir como uma distração. A depressão, pelo contrário, paralisa. Em termos de duração, os sintomas devem durar, no mínimo, 15 dias para se cogitar o diagnóstico da doença.
“Depressão não é expressão de um momento da vida. Isso é tristeza”, reforça Moreno. Nesses casos, o médico comenta que, após o fator desencadeante, o humor habitual tende a voltar e, por isso, a situação não exige tratamento – embora o acompanhamento psicológico seja interessante para ajudar a lidar com as emoções. Para a depressão, por outro lado, o tratamento é crucial. Conduzido por psiquiatras, ele geralmente depende de medicamentos e terapia. Um dos objetivos é auxiliar a pessoa a voltar à rotina e ter qualidade de vida.
“A experiência humana faz com que a gente se depare com uma série de emoções, incluindo a tristeza. O problema é quando isso piora com o tempo. Nesses casos, podemos pensar em depressão”, comenta Giana Bitencourt Frizzo, psicóloga e membro da Sociedade Brasileira de Psicologia. “Lidar com a tristeza faz parte de um amadurecimento pessoal. Isso envolve se permitir ficar triste e se apoiar em outras relações para superar esse sentimento”, completa a especialista.
Quando o mau humor é indício de depressão
Não é só a tristeza que pode mascarar um quadro depressivo: o mau humor e a insatisfação também podem ser sinais de atenção. Nesses casos, trata-se de um subtipo de depressão conhecido como distimia.
O diagnóstico pode ser um desafio porque, muitas vezes, acredita-se que esses sintomas são, na verdade, traços de personalidade. Os especialistas contam que os pacientes apresentam irritação contínua e personalidade difícil.
“O indivíduo com distimia tem uma sensação mais ou menos constante de inadequação, de desconforto ou uma baixa tolerância. São pessoas que reclamam muito, mas, por outro lado, funcionam relativamente bem”, descreve Moreno.
Além disso, os sintomas são menos intensos do que na depressão e seu curso é prolongado – normalmente dura mais do que dois anos. “Não há início abrupto como nos outros episódios depressivos”, explica o psiquiatra.
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