“Otelo” de Willian Shakespeare, “Dom Casmurro” de Machado de Assis, “O Primo Basílio” de Eça de Queirós não seriam grandes sucessos sem uma série de traições e mal-entendidos que dão o molho às suas histórias. A punhalada na costas e a puxado do tapete, ainda que moralmente questionadas, são tão importantes na política como são na literatura.
Um exemplo é a disputa ao Senado, em que até dedo no olho é permitido. Pois tudo começa com o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que um dia foi o querido do presidente Jair Bolsonaro (PL), passando a odiado. Depois foi protegido pelo senador Alvaro Dias (Podemos), que o queria torná-lo seu pupilo. Mas foi passado para trás e virou adversário ao migrar para o União Brasil.
Segue com Alvaro, que foi rejeitado pelo governador Ratinho Jr., refutado por alguns partidos, como o MDB, e hoje faz dobrada política com candidatos de partidos fora da sua coligação. Mas nada seria possível sem antes Alvaro ter convidado Cesar Silvestri Filho ao Podemos. Silvestri pulou para o ninho tucano, que teve sua candidatura ao governo estadual cancelada pelo PSDB nacional. E viu sepultada a sua chance ao Senado, num acordo de Alvaro com a alta cúpula tucana.
Agora Silvestri Filho apoia Sérgio Moro e leva com ele lideranças jovens como a Fernanda Viotto, empresária de Londrina e presidente do PSDB Mulher.
E do lado de Paulo Martins (PL) as rasteiras continuam. Paulo Martins foi o ungido pelo PL, com apoio do presidente Jair Bolsonaro e do governador Ratinho Junior. Viu a ação do Palácio Iguaçu, que tirou o PSC e o Patriotas da sua base de apoio, dando para Alvaro Dias. Em troca ganhou o apoio do PP, de Ricardo Barros, mas perdeu a maior estrela do partido, o prefeito Marcelo Belinati, abraçado com Alvaro Dias.
A continuar até o fim da eleição, essa campanha ao Senado terá mais traições que novelas mexicanas. Há um título de Nelson Rodrigues que cabe muito bem com essa série de pequenas deslealdades. É o: Perdoa-me por me traíres.