HojePR

Confiança do industrial paranaense cai no primeiro trimestre de 2022

25/03/2022

A pesquisa mensal feita pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que o industrial do Paraná está receoso com o futuro da economia e dos negócios em 2022. Pelo segundo mês seguido, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu. Está em 53,9 pontos, ainda na área de otimismo (acima dos 50 pontos), numa escala que vai de zero a 100. O resultado mostra uma tendência de queda, já que os números caíram 4,8 pontos em relação a janeiro e três pontos na comparação com fevereiro, somando 58,7 e 56,9 pontos, respectivamente.

 

Na comparação com o mesmo período de 2021, a diferença aumenta. Em janeiro do ano passado, o ICEI ficou em 67,8 pontos; em fevereiro, em 63,8; e, em março, segunda onda da covid-19 no Brasil, havia fechado em 53,3 pontos. Embora os números não pareçam favoráveis agora, o indicador ainda está bem acima do registrado no pior momento da pandemia, em maio de 2020, quando caiu a 31,6 pontos.

 

O economista da Fiep, Marcelo Alves, sugere que os resultados de agora já possam ser reflexo do conflito entre Ucrânia e Rússia, no leste europeu, e dos frequentes reajustes no preço dos combustíveis aqui no Brasil. “Nitidamente há uma piora de cenário. A realidade para o empresário, que já era duvidosa com relação à recuperação mais rápida da economia no ano passado, ficou mais incerto porque a guerra tem impactos globais e ainda não se sabe a extensão deles”, resume.

 

Os dois países não estão entre os grandes parceiros comerciais do Paraná no ano passado. A Rússia foi só o 19º maior destino do produtos paranaenses em 2021, respondendo por 1,2% da pauta de exportações, e o sétimo maior nas importações, sendo responsável por 2,8% da pauta. Já a Ucrânia, figura na 67ª colocação entre os destinos das exportações estaduais, respondendo por 0,15% da pauta, e em 71º nas importações, representando 0,02% da pauta em 2021. Mesmo assim, o embate entre os dois países tem impacto expressivo na economia do estado.

 

“Já são mais de 30 dias de conflito e crescem as incertezas com relação ao PIB Mundial porque são muitas sanções e grandes economias estão envolvidas nessa questão. Some-se a isso que o mercado de grãos, fertilizantes, gás e petróleo, dos quais Rússia e Ucrânia são protagonistas, já estão sendo afetados por conta do conflito e isso pode interferir na oferta e no preço desses produtos no mercado internacional”, completa.

 

Não só indústrias que importam insumos e matérias-primas de alta tecnologia e produtos químicos são afetadas pela alta cotação do barril de petróleo no mercado internacional. “É um efeito cascata. Além da produção de itens como plástico, por exemplo, toda a logística de escoamento da produção tem como base o transporte rodoviário. O diesel mais caro aumenta o preço do frete e os custos do empresário que nem sempre pode repassá-los adiante para não perder competitividade”, reforça Alves.

 

Observando a composição do ICEI, tanto o indicador de condições, que avalia a economia e os negócios nos últimos seis meses, quanto o de expectativas, referente aos meses futuros, contribuíram para a queda no indicador de confiança em março. O primeiro ficou na zona de pessimismo, com 45,3 pontos, enquanto o de expectativas chegou a 58,2 pontos. Em fevereiro, o índice de condições estava 48,7 e o de expectativas em 61 pontos.

 

“O empresário tem uma percepção de impacto negativo na sua atividade que é remanescente do início da pandemia, quando houve quebra das cadeias globais de valor e escassez de matérias-primas com posterior atraso nas entregas”, lembra o economista. “A realidade atual imprime ainda mais desconfiança com relação ao transporte e outros impactos que podem vir a sofrer. O momento pré-eleitoral também deve interferir na atividade nos próximos meses e essa desconfiança se reflete na pesquisa”, complementa o economista.

 

Reação na indústria

A alta dos combustíveis se reflete diretamente no custo da produção das indústrias, numa cadeia que se estende desde a matéria-prima até o consumidor. Algumas empresas apostam na criatividade e inovam nas estratégias para conter alta de preços logísticos. A GEMÜ do Brasil, fabricante de válvulas do setor de máquinas e equipamentos, é um exemplo. Tanto na fábrica em São José dos Pinhais (PR) quanto no escritório em São Paulo, o efeito é visível por conta do aumento no custo do transporte de 13,5% desde o início do ano, como explica a gerente de Supply Chain da GEMÜ, Ureo Pereira. “Temos frota própria, mas somente para atendimento regional. Além do envio do produto ao comprador e da logística para recebimento da matéria-prima dos fornecedores, o processo produtivo da GEMÜ engloba também o transporte de peças para beneficiamento – com o envio de materiais a processos em terceiros, como revestimento ou pintura a pó”, enumera.

 

A alta dos combustíveis também gera aumento de preços da matéria-prima, já que os fornecedores da indústria são igualmente impactados, tanto na logística nacional quanto nas importações – onde está o maior gargalo. “Trata-se de uma cadeia, em que os processos de importação e exportação seguem ligados, visto que as companhias aéreas também anunciaram aumento de combustível. Em relação a isso, a estratégia da GEMÜ envolve planejar os embarques e consolidar pedidos para diminuir o volume de envios, além de aumentar os estoques, optando pelo transporte marítimo quando possível”, explica Ureo.

 

Outras estratégias para atuar no novo cenário incluem a análise e revisão de todos os reajustes solicitados e a otimização do uso da frota própria e dos envios de peças a terceiros, de forma a manter a produção enxuta e inteligente. “As conjunturas internacionais são voláteis e torcemos para que acordos de paz em breve reduzam a tendência de inflação”, espera a gerente.

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *