Por Isabella Honório
“Psychobilly é uma deturpação do rockabilly, daquele som dos anos 1950, que era uma mistura da música negra e caipira americana. O psychobilly é trazer aquilo até o limite”. É assim que Vlad Urban, vocalista e guitarrista da banda curitibana Sick Sick Sinners e produtor do Psycho Carnival, descreve o psychobilly, gênero musical que mistura elementos dos sub-gêneros rockabilly e punk de forma frenética e flertando com o absurdo.
Curitiba, considerada a capital brasileira do estilo, recebe a partir desta quinta-feira (16), a 22ª edição do Psycho Carnival, maior festival do gênero da América Latina. Até segunda (20) serão 39 shows de bandas nacionais e internacionais, além de uma programação paralela gratuita, oficinas e bate-papos.
Entre os nomes que aparecem no line-up do festival, são oito internacionais. Bandas da Alemanha, Espanha, Países Baixos, Chile e Colômbia sobem ao palco do Jokers Pub, na tradicional Rua São Francisco. O destaque vai para Disturbance e Damage Done by Worms. As nacionais incluem Os Replicantes, do Rio Grande do Sul, e o grupo paulista Kães Vadius, um dos precursores do psychobilly brasileiro. A presença dos curitibanos, como o No Milk Today e o Kráppulas, aparece para representar a cena local.
Apesar do evento, que existe há mais de 20 anos, funcionar como uma amostra do que está rolando na cena do psychobilly, bandas de outros segmentos do underground participam do festival. Nos palcos também vai rolar punk rock, outlaw country e surf music.
A edição de 2023 do Psycho Carnival é dedicada ao baixista do trio curitibano Os Catalépticos, Gus Tomb, que morreu em 2021. A programação inclui várias homenagens ao lendário músico que influenciou instrumentistas de todo o mundo. Os ingressos para dias individuais e pacotes para todo o festival estão disponíveis na plataforma Sympla.
Pra quem não conhece o psychobilly
A ideia é fazer um som exagerado e cômico, adaptando o tradicional rockabilly tocado nas guitarras Gibson e no contrabaixo acústico à referências modernas e letras chocantes. Temas como filmes de terror, ficção científica e serial killers são os mais comuns.
Para Vlad, o psychobilly carrega suas características próprias, mas também absorve tendências externas: “Ele não tem muito problema em se adaptar ao que está acontecendo. Se os membros de uma banda de psychobilly gostam de, por exemplo, Napalm Death, eles podem colocar dentro do som alguma característica do Napalm. É como o Frenetic Trio, que faz um gutural dentro do psychobilly, ou os Catalépticos, que fazem quase um hardcore com metal e trash”.
Apesar de não existir um consenso sobre as origens do psychobilly, o surgimento aconteceu entre Nova Iorque e Londres. Bandas como Meteors, Mad Sin e Nekromantix fazem parte da primeira geração, na década de 1980. Mas claro, The Cramps, da década anterior, já fazia parte da fundação do gênero, com o vocal esganiçado e único de Lux Interior. E é possível voltar mais atrás – a inserção de elementos ligados ao “psycho” datam da década de 1950.
Curitiba é a casa de grandes bandas da cena nacional, como Krápullas, Catalépticos, Ovos Presley e a própria Sick Sick Sinners. A fama da cidade é resultado do esforço das bandas para manter a comunidade viva ao longo dos anos, mas também da potência dos festivais que rolam por aqui. “Não foi aqui em Curitiba que as bandas de psychobilly começaram a tocar no Brasil. Tem a Kães Vadius, de São Paulo, que começou antes de Os Missionários, que é uma banda de Curitiba, por exemplo. Mas o que aconteceu em Curitiba, que é diferente de outras cidades, é que o psychobilly se manteve ativo, s bandas vão mantendo o estilo vivo na capital”, explica o vocalista do Sinners.
O festival de carnaval também se destaca pelas line-ups antenadas no que rola mundialmente: “Em 2000 surge o Psycho Carnival, que acaba virando uma agenda mundial do psychobilly”, encerra Vlad.
Shows gratuitos, oficinas e bate-papos
A programação paralela dá conta de quem quiser ter um gostinho do festival, mas está sem grana. A 22ª edição do Psycho Carnival conta com várias apresentações gratuitas no Teatro Universitário de Curitiba (TUC), no Largo da Ordem. As atrações são Kráppulas, Cigarras, Big Bull & His Selfish Band e o DJ Fabio Zanetti. Já as tardes no Lado B tem Wi-fi Kills, Zabilly e Resistentes.
No TUC também acontece o workshop ministrado pelo produtor visual e fotógrafo Cleiner Micceno. A grade apresenta técnicas de gravação de vídeo com câmeras simples, para incentivar a produção audiovisual independente. A oficina acontece no sábado e na segunda, a partir das 10h.
E para trocar uma ideia sobre a cena underground curitibana e brasileira, o festival promove dois bate-papos com as bandas, também no Teatro. No sábado, às 15h, as bandas Cowboys From Hell, Rat Demons e Diablos Suicidas, além de Angelo Stroparo e Jeff Araújo, do Coletivo das Culturas, e do produtor Fabricio Vitor conversam sobre iniciativas independentes do underground curitibano.. Na segunda, no mesmo horário, é a vez da banda alemã de hardcore Pisscharge falar sobre e intercâmbio cultural e a importância do apoio do poder público às bandas. A entrada é gratuita.
Ainda, pensando na luta pela igualdade de gênero dentro do rock, o Instituto Todas Marias marca presença no Psycho Carnival. O instituto trabalha com acolhimento de vítimas de violência doméstica, principalmente mulheres, crianças e pessoas LGBTQIA+. No festival, uma representante da ONG estará presente no estande “Psycho Carnival e Todas Marias Contra o Assédio”, no segundo andar do Jokers, atendendo quem precisar de orientações sobre assédio.
Confira a programação completa do Psycho Carnival 2023
- Quinta-feira (16)
Jokers Pub – Noite do Esquenta
22h – Hillbilly Rawhide (Curitiba)
21h – Double Shot (Curitiba)
20h – Cavaleiros Temporários (Curitiba)
- Sexta-feira (17)
Jokers Pub – 1ª Noite
01h/2h – Replicantes (Porto Alegre)
0h/0h45h – No Milk Today (Curitiba)
23h/23h45 – 13 Bats (Espanha)
22h/22h45 – Mongo (Curitiba)
21h/21h40 – Tampa do Caixão (Joinville)
20h/20h35 – Cowboys From Hell (Colômbia)
19h/19h30 – Vurtu (Piracicaba)
- Sábado (18)
TUC
10h – Workshop sobre produção de videoclipe – Cleiner Micceno
12h – Cão Véio – Almoço de Confraternização
15h – Eles Mesmos (Curitiba)
Lado B
16h – Wi-fi Kills (Curitiba)
Janaíno Vegan
15h – DJ Jeferson Red Star (São Paulo)
Jokers Pub – Psycho Carnival 2ª Noite
1h/2h – Sick Sick Sinners (Curitiba)
0h/0h45 – Flicts (São Paulo)
23h/23h45 – Frenetic Trio (Londrina)
22h/22h45 – Church Of Confidence (Alemanha)
21h/21h40 – Sangue de Androide (São Paulo)
20h/20h35 – Stompin’ Mutants (Londrina)
19h/19h30 – The Edwoods (São Paulo)
- Domingo (19)
TUC
14h – Kráppulas (Curitiba)
13h – Cigarras (Curitiba)
12h – Big Bull & His Selfish Band (Uberlândia)
11h – DJ Fabio Zanetti
Tarde Lado B
16h – Zabilly (Colombo)
Esquenta no Janaíno Vegan
15h – DJ Kelley Joy (Curitiba)
Jokers Pub – Psycho Carnival 3ª Noite
1h/2h – Ovos Presley (Curitiba)
0h/0h45 – The Mullet Monster Mafia (Piracicaba)
23h/23h45 – Disturbance (Países Baixos)
22h/22h45 – Agrotóxico (São Paulo)
21h/21h40 – Rat Demons (Colômbia)
20h/20h35 – Run Devil Run (São Paulo)
19h/19h30 – Diablos Suicidas (Chile)
- Segunda-feira (20)
TUC
10h – Workshop sobre videoclipe – Cleiner Micceno
Tarde Lado B
16h – Resistentes (Rio Claro)
Esquenta no Janaíno Vegan
15h – DJ Therencio (Rio de Janeiro)
Jokers Pub – Psycho Carnival Última Noite
1h/2h – Damage Done By Worms (Alemanha)
0h/0h45 – Kães Vadius (São Paulo)
23h/23h45 – Red Lights Gang (São Paulo)
22h/22h45 – Billys Bastardos (Londrina)
21h/21h40 – Pisscharge (Alemanha)
20h/20h35 – Fish’n Creepers (Curitiba)
19h/19h30 – Psycho Daime (Curitiba)
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(Foto de capa: Pri Oliveira/ Cartaz: Oscar Hertin)
