“Não basta que os conservadores ganhem eleições. Se vamos resgatar o país das garras da esquerda radical, precisamos tanto de uma agenda de governo quanto das pessoas certas no lugar, prontas para executar essa agenda no primeiro dia da próxima administração conservadora”.
Esta é uma breve definição dos propósitos do Projeto de Transição Presidencial de 2025, liderado pela Heritage Foundation, para preparar uma mudança de rumo do governo dos Estados Unidos no caso da vitória de Donald Trump nas eleições deste ano. O plano está sendo construído desde 2023 e propõe alterações radicais em vários setores da administração federal americana, com impacto direto sobre políticas ambientais e de transição energética.
Uma das medidas previstas é a revogação da Lei de Redução da Inflação e da Lei de Empregos de Investimento em Infraestrutura, criadas para permitir investimentos em geração de energia renovável, eficiência energética e descarbonização. A proposta também prevê o aumento da exploração de petróleo e gás em terras públicas.
O documento republicano já é bem conhecido e tem quatro pilares principais: retomar o conceito de família como centro da vida americana; desmanchar as estruturas de Estado consideradas intervencionistas, inclusive as agências reguladoras; defender a soberania e as fronteiras dos EUA; e garantir direitos para que a população possa viver livremente.
Os conservadores americanos são sabidamente contrários à agenda ESG, por considerar as práticas negativas à economia doméstica, principalmente em relação às aplicações financeiras consideradas verdes. Em outra frente negacionista, uma pesquisa divulgada no ano passado pela PEW Research Center informa que apenas 23% dos eleitores republicanos entendem a mudança climática como uma grande ameaça.
Com o Projeto 2025, e suas propostas de eliminar medidas governamentais para o enfrentamento ao aquecimento global e combate aos efeitos da crise climática, o impacto do conservadorismo pode ir muito além do território americano, com reflexos diretos sobre a agenda global do clima e sobre as metas mundiais de reduções de emissões de gases de efeito estufa.
Carbono sem crédito (I)
Em contagem regressiva para a COP30, o Brasil ainda não tem um marco regulatório de créditos de carbono. A legislação deveria ter sido aprovada no primeiro semestre, mas segue travada no Congresso Nacional. São dois projetos em tramitação. O Senado quer aprovar o PL 414/2022, que passou pelas comissões da casa no ano passado. Na Câmara dos Deputados a preferência é pelo PL 2148/2015, com adendos da matéria já apreciada pelos senadores.
Carbono sem crédito (II)
A Aliança Brasil NBS, uma entidade que representa as empresas que atuam no mercado de carbono, cobra uma solução e estima que a implementação da legislação pode levar até três anos. A ideia é ter uma norma semelhante à da União Europeia (Cap na Trade), com cotas de emissões para setores regulados. Quem emitir menos carbono poderia vender créditos para quem ultrapassou os limites. Um dos setores que mais emitem gases de efeito estufa no País, o agronegócio foi excluído do processo regulatório.
Mundo em fogo
Atualmente, os incêndios florestais atingem entre 340 milhões e 370 milhões de hectares da superfície da Terra, de acordo a FAO, organismo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentos. A organização diz que a tendência é de queimadas extremas cada vez mais frequentes por causa de secas intensas, elevação das temperaturas e ventos fortes. É um ciclo que se retroalimenta, porque cada incêndio gera grandes emissões de gases de efeito estufa, que sustentam as mudanças climáticas. A FAO relançou um documento com recomendações sobre gerenciamento de riscos de fogo em florestas. A publicação atualiza diretrizes divulgadas há duas décadas e incorpora novos conteúdos para enfrentar os desafios da atual crise climática.
Prioridade para a água
A segurança hídrica deve ter prioridade máxima na agenda da Comissão Europeia. Essa é a advertência feita por 21 dos 26 países que formam o bloco em comunicado entregue às principais autoridades da União Europeia. O alerta é de que a crise da água já não é uma anomalia e sim um fenômeno presente. De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, 20% do território europeu e 30% dos europeus sofrem anualmente de stress hídrico. As perdas econômicas somam 9 bilhões de euros por ano, sem contabilizar os danos aos ecossistemas.
Mais biodegradáveis
A Insight Ace Analytic, uma empresa indiana especializada em consultoria e pesquisas sobre tendências de setores econômicos, divulgou uma projeção da evolução do mercado global de plásticos biodegradáveis. Em 2023, este segmento movimentou US$ 10,5 bilhões no mundo, e a estimativa é de que até 2031 o valor alcance US$ 40,9 bilhões por ano. O salto, avalia a empresa, é por conta da crescente consciência ambiental dos consumidores e uma resposta à poluição plástica.
Construção sustentável
Em outra análise, a Insight Ace Analytic estima que o setor de construção sustentável vai crescer 8,91% ao ano entre 2024 e 2031. Isso significa a injeção global de US$ 1,5 trilhão neste segmento. A projeção de alta é sustentada por causa de regulamentações ambientais cada vez mais rigorosas, que exigem o cumprimento de novos códigos construtivos e melhoria da eficiência energética, além do expressivo aumento da demanda por edificações verdes em todo o mundo.
Foto: Marek Studzinski/Unsplash
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