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28/04/2024



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Contrabanda – primeira parte

 Contrabanda – primeira parte

Neste ano de 2012 faz 40 anos que a música paranaense conheceu uma das bandas mais emblemáticas de sua história. Com o nome pomposo de Contrabanda Enterprise Corporation e Limitadas Companhias, o grupo era formado por Ferreira, violonista, Rodrigo Barros, vocalista, Sérgio Viralobos, também vocalista e letrista, Walmor Douglas, guitarrista, Foguinho, baterista, Renato Quege, baixista e Fernando Tupan, que era o empresário e uma espécie de sétimo membro do grupo. Uma turma de compositores obcecados com a produção e apresentação de suas canções, uma raridade na época em solo curitibano e faziam um som que era um mix de pop rock com MPB dos anos 70 e da vanguarda paulistana capitaneada por nomes como Rumo, Premeditando o Breque, Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé. O grupo tinha uma proposta estética que beirava o “new romantic”, sob o comando de sua figurinista portuguesa Branca Aurora e dos penteados da japonesa Amélia, a cabeleireira mais ousada da cidade. As letras de poesia sofisticada com temas tabu, como incesto e drogas, forjaram a maneira de compor da geração seguinte em Curitiba.

O grupo teve uma passagem meteórica nos dois anos de vida. Tocou no litoral paranaense, no carioca e no catarinense. Foi a primeira banda curitibana a apresentar-se no místico Circo Voador e conquistou respeito para nossa música ao encantar artistas cariocas da cena dos anos 80, como Herbet Vianna (Paralamas do Sucesso), Paula Toller e Leoni (Kid Abelha), Roberto Frejat (Barão Vermelho), entre outros. As composições eram válvulas de escape para uma realidade irrespirável do início dos 80 e que acabou dando no fim da ditadura militar e na eleição do primeiro presidente civil, que nem tomou posse. Nesse período de ebulição cultural e social, a Contrabanda apareceu com canções como Cauwin Caótico, Capivarinha de Condão, Relance, Volta ao Mundo Em Sete Quedas, Lê Manso entre tantas outras que fizeram a capital paranaense despertar para uma nova estética musical. A influência da Contrabanda na música curitibana é evidente. De suas entranhas nasceram o Beijo AA Força, Maxixe Machine e Opinião Pública, bandas de bastante sucesso em sua época.

A primeira apresentação foi no Festival de Música da Escola Técnica, onde a Contrabanda ganhou todos os prêmios disponíveis. Depois desse começo auspicioso, precisavam de um lance ainda mais espetacular: naquele ano de 1982, a nova moda londrina era o new romantic. Com a produção de Moema Zucherelli, figurino de Branca Aurora e direção do cineasta Fernando Severo, o grupo montou um show no miniauditório do Teatro Guaíra, chamado “Por Um Novo Incêndio Romântico”. Para a surpresa dos seis integrantes: lotação esgotada em todas as noites. A partir daí, foi uma sucessão de apresentações nos principais bares da cidade e excursões para o interior do Paraná, litoral de Santa Catarina e Rio de Janeiro.

O show no Circo Voador foi possivelmente a melhor apresentação da Contrabanda e a repercussão foi tão boa que o grupo quase ficou por lá mesmo. Não se estabeleceu por falta de grana dos garotos e acabou retornando pra casa depois de uma série de shows como Dá-me a Honra Dessa Contrabanda, Por Um Novo Incêndio Romântico e Revólver. Após se apresentarem no bar Let It Be, em Copacabana, e no Circo Voador, a então crítica Ana Maria Bahiana escreveu na revista “Pipoca Moderna”: “… são verdadeiras esponjas musicais…”, referindo-se à fusão de referências musicais e poéticas do grupo. Na volta fizeram outro show memorável no Graciosa Country Club, de onde afanaram um grande troféu de ouro, que serviu de fogareiro pra esquentar as noites frias de ensaio, até seu completo derretimento.

 

 

Ao longo desse período de intensa criatividade, o grupo deixou mais de cinquenta músicas compostas e apenas cinco gravadas em estúdio. Além de haver vários compositores na Contrabanda, recebiam letras e músicas de Alberto Trindade, Paulo Leminski, Marcos Prado, José Buffo, Thadeu Wojciechowski e Retamozzo . Veja as letras de três músicas de sucesso da Contrabanda:

 

Drive-in-blues
(Retamozzo e Rodrigo Barros)

O fio de nylon
Que gargalha no seu sorriso
Está esticado
Muito mais do que é preciso
O silicone dos teus seios
Quero acariciar no meio

Coração de plástico
Não me faça sofrer
Vamos viver sempre assim
Fudendo no drive-in

 

Pé frio
(Sérgio Viralobos, Ferreira e Rodrigo Barros)

Quero seu hímen, malaia
Escalar três montanhas
Antes que o sol se caia

E do alto daquela neve
Soltar meu berro abominável
Para aquela a quem
Todo meu ser serve
Pedra suspensa enorme
Sobre o meu só
Coração mole

Fama de mau
(Sérgio Viralobos e Walmor Douglas)

Minha braçada
Dos pés à cabeça
É peso pesada
Minha manchete:
Cortadas de graça
Saca, meu chapa!

Minha saída
É ganhar a partida
Pole position invicta
Se não gostou
Não insista
Dê a volta
E faça a pista

 

O crítico musical Sandro Moser disse: “Para quem não compartilhou com eles o turbulento período entre dezembro de 1981 e junho de 1983, a história da Contrabanda parecia uma lenda boêmia recontada pelos bares a respeito de uma banda inovadora e ousada, que unia inconsequência juvenil à pretensões artísticas improváveis, que seriam vanguarda até na Curitiba dos dias atuais “.

Seu último e polêmico show aconteceu no Guairão e causou o fim controverso de um grupo em pleno apogeu. Na segunda parte deste artigo publicarei depoimentos inéditos de algumas pessoas que conheceram por dentro esta história.

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