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COP29 amplia o desacordo entre nações sobre a crise climática

28/11/2024
cop29

O encerramento da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP29) deixou um gosto amargo na boca de quem esperava decisões mais relevantes sobre o enfrentamento da crise climática. O encontro em Baku, no Azerbaijão, ampliou os desacordos entre as nações ricas e pobres e ficou marcada como a pior cúpula da década.

O financiamento climático, principal tema do debate, não atendeu as expectativas de quem mais sofre com os efeitos da mudança do clima. A pedida era de US$ 1,3 trilhão por ano. Houve um acordo para “mobilizar” US$ 300 bilhões anualmente até 2035, para que países em desenvolvimento possam dar conta da mitigação e adaptação aos frequentes desastres naturais.

Não há, contudo, um compromisso de que as nações ricas vão abrir o cofre e transferir o dinheiro. O texto diz que o financiamento virá de “uma ampla gama de fontes e instrumentos, incluindo fontes públicas, privadas e inovadoras, de canais bilaterais e multilaterais”. Para acessar os recursos, alguns países precisarão se endividar ainda mais.

Ao modesto avanço sobre o financiamento climático se somam indecisões sobre um novo compromisso global para cortar emissões de gases de efeito estufa, principalmente de fontes fósseis. A fala do presidente azerbaijano Ilham Aliyev, de que petróleo e gás são um “presente de Deus”, gerou um climão desde o início da conferência. Além disso, a própria condução da COP29 foi bastante criticada e acusada de ser tendenciosa.

Em uma carta aberta, 102 lideranças e especialistas em clima – incluindo o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon e o climatologista brasileiro Carlos Nobre – alertaram que o formato da cúpula do clima não está entregando o que se espera. O grupo sustenta que países que defendem petróleo e gás não devem ocupar a presidência de uma COP, e que a dinâmica do encontro deve se afastar das negociações e passar a cobrar a entrega de ações concretas que permitam segurar o aquecimento global.

Resumindo: parar com a conversa e partir para a prática. Fica para o Brasil, que sedia a COP30 em 2025, a tarefa de restaurar o legado negativo de Baku.

ISO para ESG
A Organização Internacional para Padronização (ISO) liberou para uso gratuito seus Princípios de Implementação ESG. Trata-se de uma orientação para práticas e comunicação de ações ambientais, sociais e de governança. A ISO sustenta que o manual está adequado às regulamentações existentes no mundo, como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), da União Europeia (UE) e os requisitos de divulgação IFRS S1 e S2 da International Sustainability Standards Board (ISSB). “O documento facilita a integração dos princípios ESG na cultura organizacional, permitindo um sistema mais eficaz para desempenho e relatórios”, considera a ISO.

Acordo do plástico (I)
O Comitê Intergovernamental de Negociação sobre Poluição Plástica (INC-5) da ONU se reúne nesta semana para uma tentativa de finalizar e aprovar o texto de um tratado que tenha valor jurídico internacional para enfrentar problemas causados ao clima pela produção, uso e descarte de material plástico. O ciclo do produto é responsável por cerca de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), além de sujar a natureza. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) diz que os oceanos recebem cerca de 13 milhões de toneladas de plástico anualmente.

Acordo do plástico (II)
Uma análise do portal Carbon Brief mostra que, sem um acordo global para reduzir a produção de plástico, que é intensiva no consumo de combustíveis fósseis, fica ainda mais distante a meta de limitar o aquecimento global a apenas 1,5°C acima dos níveis pré-industriais até 2030. Uma das poucas certezas nas negociações sobre o tratado é que haverá uma forte resistência dos países produtores a qualquer medida que afete o consumo de petróleo.

Acordo do plástico (III)
O Brasil é o oitavo país do mundo e o maior poluidor da América Latina quando o assunto é o descarte de plástico no mar. A estimativa é de que 1,3 milhão de toneladas de resíduos são lançadas anualmente na costa brasileira. Os dados são do relatório “Fragmentos da Destruição: impacto do plástico à biodiversidade marinha brasileira”. O trabalho foi realizado pela ONG Oceana, divulgado em outubro.

Restinga carioca
A restauração da restinga das praias de Ipanema e Leblon, no Rio de Janeiro, entrou no rol de iniciativas globais de preservação da Mata Atlântica. A iniciativa passou a fazer parte do Programa de Restauração Cidadã da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA) e se transformou em exemplo de restauração ambiental para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O projeto carioca é realizado pelo Instituto-E. São 28 canteiros em mais de 10 mil m2 de área replantada com cerca de 40 mil mudas de espécies nativas.

Extinção em mar e terra
Para marcar os 60 anos de publicação da Lista Vermelha, que acompanha a evolução da fauna e flora no mundo, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) alertou que 38% das espécies de árvores existentes no planeta correm risco de extinção. A lista considera 166.061 espécies e coloca 46.337 como ameaçadas. Em relação à vida marinha, o relatório mostra que 44% de 892 espécies de corais construtores de recifes podem desaparecer.

Foto: Divulgação/COP29

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