(Dedicada à minha Rosane que, como costumo dizer, não desiste de tentar me consertar)
Isolado após teste positivo para Covid e recolhido à clausura recomendada por Médicos e controlada por palpiteiros, aí incluídos os filhos, fui admoestado por minha mulher em razão do hábito há muito adquirido de não largar o celular.
Leitor com boa média de títulos da juventude até a idade madura, a era tecnológica me seduziu e me fez prisioneiro das redes digitais e de seus instrumentos, especialmente o celular. Se de um lado a adicção me mantém atualizado sobre as notícias, boas e más, de outro me fez abandonar o saudável costume da leitura.
Não estava alheio a essa realidade, mas há poucos dias isso explodiu na minha mente com o convite para entrevista cuja primeira pergunta foi (e continua sendo, porque ainda não a respondi) a indefectível “Que livro você está lendo?”
Lembrei do personagem do Jô Soares – “fica vermelha, cara sem-vergonha” -, mas isso teria caído no esquecimento destinado aos pensamentos inconvenientes, não fosse a bronca da patroa.
Voltando ao início: estava eu posto em sossego, no sacrossanto refúgio do meu isolamento, curtindo o resfriado que o Coronavírus me trouxe (efeito reduzido que as 4 doses de vacina me proporcionaram, um viva ao SUS!), quando a Rosane me questionou.
Tentei usar o Blog como muleta para contrariar a acusação de não dar nenhum trabalho ao cérebro e até, fraqueza das fraquezas, argumentei que jogo Paciência no celular. Antes não tivesse lançado mão de recurso tão ignóbil, tal foi a expressão de desprezo que ela arremessou na minha cara, felizmente de longe, separada pelos vários metros exigidos pela Covid.
Hoje, ao acordar, e com aquele impulso de inteligência que nos ocorre eventualmente, fui procurar em nossa minguada Biblioteca um título que justificasse o retorno à leitura e, voilà, encontrei o “47 Contos de Isaac Bashevis Singer”.
Primeiro pensamento: “bendita seja a Rosane, pela bronca, e a pessoa que me presenteou essa maravilha, porque não lembro de tê-la adquirido“.
Desde sempre fui absolutamente apaixonado por esse notável escritor judeu, que, poucos sabem, mesmo radicado há muito nos EUA, escrevia em iídiche. Penso ter lido todas as obras traduzidas para o português e sempre que mergulhei nelas tive a sensação de me transportar para a rua Krochmalna, no velho bairro judeu de Varsóvia. Lamentei não ter ido conhecer a rua quando a Rosane e eu estivemos lá.
Mas surpresas matinais não se esgotaram: o prefácio é do Moacyr Scliar, o notável escritor gaúcho que nos deixou há algum tempo e com o qual costumo dizer que tenho uma prima em comum, a querida Vera Scliar Sasson. Aliás, o “Mico“, como era carinhosamente chamado em família, ao me autografar um de seus livros na Fundação Cultural de Curitiba, escreveu “Ao Gerson, meu parente“.
Bom, leitura iniciada.
O isolamento vai acabar, mas espero que o hábito da leitura persista.
Como sempre muito inteligente!! Sou tua fã incondicional 🥰