Aos 74 anos, Gene Simmons guardou a maquiagem e pendurou a armadura. Isso não quer dizer, contudo, que sua máquina de guerra interna parou de funcionar. Para o lendário roqueiro, há vida após o (suposto) término do Kiss. Em entrevista ao Estadão, por telefone, Simmons revelou detalhes dos projetos futuros da banda, que incluem um filme da Netflix e um espetáculo de avatares; o fim do rock; de sua relação com Donald Trump e a duradoura ligação com o Brasil.
A primeira apresentação do baixista após o fim do Kiss será no festival Summer Breeze, que ocorre entre os dias 26 e 28 de abril na capital paulista. “Vamos nos divertir, tocar as músicas que todo mundo conhece e outras que nunca foram executadas ao vivo. Será um som mais pesado e direto. Terei grandes músicos comigo e estou ansioso em retornar a São Paulo”, conta Gene, destacando a qualidade de sua banda de apoio, formada pelos guitarristas Brent Woods e Jason Walker, e pelo baterista Brian Tichy.
A relação do linguarudo com o Brasil vem de longe. O Kiss estreou no País em 1983, quando shows internacionais eram raros. “Não havia muitas bandas que tocavam em estádios, foi algo importante. Nossa segurança foi feita pelo exército brasileiro, que nos levou em tanques. Em São Paulo, a energia do estádio acabou e tivemos que entrar dos tanques para nos protegermos. Foi sensacional”, relembra.
Desde então, os norte-americano donos de hits como Rock And Roll All Nite e Detroit Rock City animaram diversas capitais brasileiras ao longo dos últimos 30 anos. “Você não consegue entender o Brasil indo a apenas uma cidade e depois voltar para casa. As culturas são diferentes, as pessoas, o gosto das comidas, os sotaques, a aparência das cidades”, explica o músico, que disse gostar do Sepultura.
Durante a turnê de despedida End Of The Road, um show sob o calor intenso de Manaus quase derrubou o astro do rock – vestido dos pés à cabeça com o traje típico. “O que aconteceu foi que não bebi água o suficiente. Estávamos perto da selva amazônica. Comecei a desmaiar no palco, não conseguia respirar, mas me recusei a sair, eu não paro. Então puxaram uma cadeira para mim durante a música Makin’ Love, que Paul [Stanley] cantava. E eu pedi para a banda continuar enquanto recuperava o fôlego. Nunca se renda!”.
Mas os dias de pirotecnias, fantasias, fogo e sangue falso chegaram ao fim. Em dezembro de 2023, o Kiss se despediu dos palcos no Madison Square Garden, em Nova York, cidade onde o grupo foi formado. “Ficamos muito orgulhosos porque poucas bandas duram 50 anos e também por parar enquanto estávamos no nosso melhor momento, sem precisar sair numa cadeira de rodas. Mas também há tristeza, por uma série de fatores. Chorei no palco”, revela Simmons.
“É o fim do Kiss, mas também é o início do Kiss. É como uma lagarta: quando parece que ela está morta, ressurge e se transforma em borboleta”, compara Gene, sem revelar detalhes da futura cinebiografia da Netflix sobre o quarteto. “Não posso dizer muito, mas está a caminho. Também teremos um show na Broadway, uma animação e muito mais”.
Ninguém discute que o Kiss também é uma referência empresarial no showbusiness. A banda enriqueceu aos montes e valorizou sua marca licenciando milhares de produtos de publicidade, desde videogames e bonecos a caixões e camisinhas – sofrendo críticas por isso até hoje.
Ao ser questionado sobre o novo projeto de shows de avatares da banda, criados com inteligência artificial sob investimento de R$ 200 milhões, e por quais motivos as pessoas sairiam de casa para assistir a um espetáculo digital, Gene apenas respondeu: “Espere e veja”.
Se o Kiss está renascendo, para Simmons o rock já morreu e quem o matou foram os fãs. “Entre 1958 e 1988, você teve Elvis, Beatles, Stones, Bowie, Prince, U2… De 1988 até hoje, são quase 40 anos, quem é o próximo Elvis?… E isso começou quando o Napster surgiu e os fãs começaram a baixar músicas de graça. Se você tem uma banda nova, não consegue sobreviver”, reafirma, numa declaração recorrente do artista.
Com o Kiss fora do mercado de shows, ele opinou sobre as melhores performances da atualidade: “A P!nk é muito boa, fora do comum. Rammstein é incrível. Sempre gosto de ver o Metallica. E o show da Taylor Swift também é muito bom”, destaca, antes de revelar algumas ideias para sua carreira solo. “Anos atrás, eu e o Tony Iommi, do Black Sabbath, falamos de montar um trio chamado ‘The Monsters’. Também tenho outra banda de apoio em que posso fazer material novo, mas não estou planejamento muito adiante, só curtindo.”
Por fim, o roqueiro diz acreditar que Trump retornará à Casa Branca. “Não é o que a América precisa nesse momento, mas não há alternativa. Biden é um bom homem, mas é muito velho. E conheço o Trump desde antes da política. Tivemos uma relação social, de clubes, garotas, essas coisas… A política, em muitos países, inclusive no Brasil, sobe e desce. E muitos presidentes que não deveriam ser presidentes se tornam presidentes, se é que você me entende”.
Para mais notícias acesse HojePR.com
(Foto: Reprodução)
(Estadão Conteúdo)