As notícias nos jornais, as mensagens de aplicativos de conversa e os conteúdos em redes sociais são apenas uma parte da quantidade imensa de informações a que adolescentes e jovens são expostos diariamente em diversos meios. O equilíbrio e o filtro desses materiais, no entanto, são as peças-chave para que a relação entre o indivíduo e a mídia seja proveitosa.
Em fase de formação tanto física, quanto intelectual, os estudantes do ensino médio são bombardeados com mensagens a todo tempo. Por um lado, o desenvolvimento enquanto cidadãos aproxima os jovens dos cenários político, econômico e social. Por outro, a necessidade de análise crítica apresenta limitações para o entendimento e para o manuseio de tantas plataformas.
Viviane Ongaro, professora dos cursos de Comunicação e Tecnólogos do Centro Universitário UniOpet e doutora em educação na linha de pesquisa de Mídia-Educação, ressalta que a compreensão do fluxo comunicacional na sociedade contemporânea e dos meandros que envolvem a proliferação das informações tornou-se um exercício obrigatório em todas as etapas da vida.
“A fase que corresponde ao Ensino Médio é ainda mais característica, já que os jovens estudantes, neste período, buscam seu lugar na sociedade e constantemente expõem suas opiniões – algumas vezes sem uma reflexão prévia – aos seus pares, utilizando, para isso, os recursos ofertados pelas ferramentas digitais”, complementa. Vista a intensidade desse contato, Ongaro adverte também sobre os perigos do universo tecnológico.
Para ela, camufladas pelo direito à liberdade de expressão, as informações que circulam livremente precisam, na verdade, de uma análise crítica antes de serem disseminadas, curtidas ou compartilhadas pelas redes já que, sem essa filtragem, os conteúdos podem causar prejuízos incalculáveis a terceiros. Por isso, se torna indispensável o entendimento da construção da informação, seu alcance, a credibilidade de quem publica, a importância e a consciência de responsabilização do que se é postado e compartilhado.
A influência do meio
A tecnologia para eles, claro, não é um problema. O assunto em questão é a capacidade de selecionar a qualidade e a quantidade de informações e, a partir disso, compreender e absorver os conhecimentos úteis, seja para o lazer, seja para o estudo. Para fazer essa ponte, a educação midiática é indispensável para complementar as matérias presentes nos currículos escolares e dar subsídio para esses estudantes enfrentarem a era da tecnologia com um senso crítico apurado.
Adriana Karam, diretora de Ensino Superior do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR) e especialista em Inovação em Educação, aponta que boa parte da comunicação dos jovens, hoje, é feita por meios digitais. “A comunicação estabelece o relacionamento entre as pessoas e esse relacionamento constitui a identidade delas, promove a inserção social e a constituição enquanto ser humano. Isso tem sido mudado pela tecnologia”, observa.
A especialista explica que a tecnologia pode potencializar o processo de aprendizado e oportunizar relações que vão além do mundo analógico. No entanto, é preciso entender o papel dessas ferramentas e fazer escolhas para garantir uma integração estratégica das plataformas no projeto pedagógico das instituições.
“Por outro lado, existem plataformas que entram no ambiente escolar sem pedir licença, pois fazem parte de um movimento social, como é o caso da inteligência artificial de linguagem generativa. Então, a escola precisa conhecê-las e integrá-las. Fazer de conta que essas tecnologias não existem ou, então, proibir o uso delas sem entendê-las não é um caminho produtivo”, orienta.
A mudança de cenários
Sem o devido treinamento, profissionais ficam à deriva na tarefa de orientar e estimular a interação raciocinada com todos os tipos de mídia. Uma vez que esse olhar para a educação midiática não fez parte da formação nas décadas anteriores, professores e gestores podem enfrentar as mesmas dificuldades dos jovens na relação com a mídia.
Sem o entendimento da participação das tecnologias no ambiente escolar, não é possível estimular suas potencialidades no ensino. “Tecnologia por tecnologia não faz sentido. Ela faz sentido enquanto desenvolve e apoia as competências que precisam ser desenvolvidas nos nossos estudantes”, reforça Karam.
A partir dessa compreensão, Ongaro aponta o treinamento dos docentes como o primeiro passo para a mudança desse cenário. “A formação continuada dos profissionais é fundamental para que possam compreender o fluxo comunicacional numa sociedade altamente midiatizada para orientar, assim, os jovens estudantes sobre temáticas que envolvem tanto o uso consciente das tecnologias digitais quanto os riscos que permeiam o universo de notícias inverídicas disseminadas sem filtro e sem controle”, comenta.
Para ela, o segundo passo também parte das instituições de ensino, que devem perceber a educação midiática como um processo constante e presente no currículo escolar. “Temas envolvendo a mídia-educação devem navegar naturalmente entre as disciplinas, fazendo com que os estudantes, que convivem diariamente com as tecnologias e com a informação, possam compreendê-las de forma crítica, consciente e responsável”, acrescenta.
Assim, unindo as tecnologias ao conhecimento de professores e orientadores, as instituições podem promover uma relação equilibrada entre os estudantes e a mídia, além de contribuir para a formação de uma sociedade mais consciente e apta a acompanhar as velozes mudanças do mundo digital.
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