Fernanda almejava há pouco mais de 2 anos uma vaga na empresa onde trabalhava, mas tinha uma dificuldade imensa em se posicionar e não sabia o que fazer para alcançar seu objetivo. No mês passado ela estava presente numa das reuniões da empresa e viu a oportunidade de apresentar uma ideia que poderia levá-la a uma posição de destaque. Desde o início da reunião, começou a ensaiar como poderia fazer essa apresentação, aguardando o momento certo para isso. Durante dois momentos pontuais, Fernanda teve a oportunidade, mas deixou passar, com medo de ser inconveniente e seu gestor invalidar sua ideia. O tempo passou e na última semana seu colega de trabalho Carlos, se posicionou durante uma das reuniões e pasmem, apresentou uma ideia muito semelhante à da Fernanda. Carlos não apenas enxergou a oportunidade, como colocou em prática algo que ela há muito tempo pensava em fazer e confessou para a equipe no final da reunião que iria se colocar à disposição quando houvesse a vaga tão almejada por Fernanda.
Histórias como essa repetem-se frequentemente no ambiente de trabalho. Profissionais excelentes tecnicamente e com grande potencial de crescimento, falham na hora de se expressar e se posicionar diante de suas escolhas. Segundo um artigo de psicologia, “determinadas atitudes são evidenciadas por traços de caráter ou personalidade, o que, mais do que um currículo, faz a diferença na hora de tomar decisões”. Diante dessa informação, é possível avaliar que crenças disfuncionais estão presentes no dia a dia de muitas “Fernandas”, como, por exemplo, pensar que certa atitude pode ser inapropriada e avaliar erroneamente os riscos que sua expressão pode gerar no grupo. De acordo com um artigo da Revista FGV, “confiança e medo são as forças motrizes que levam a comportamentos de voz e silêncio”, o que também pode ser determinado por características comportamentais. Um artigo sobre liderança feminina mostra que “as mulheres são comumente consideradas comunais e os homens agênticos, como sinônimo de bom líder, por suas características de pró-atividade, dinamismo, pragmatismo e ênfase em resultados.” Esse estigma pode ser o principal bloqueio de tantas mulheres que hoje almejam altos cargos, mas não se sentem suficientemente preparadas para assumi-los.
Em virtude dos fatos mencionados acerca do comportamento e diante das oportunidades no mercado de trabalho, vale refletir sobre o quanto temos nos privado, duvidando de nossa capacidade e autoridade sobre um determinado assunto, e todas as consequências geradas a partir de atitudes passivas e temerosas. Quantas vezes nossa conduta omissa irá nos cegar diante de ótimas possibilidades e por quanto tempo ainda julgaremos uma ação como inconveniente quando, na verdade, é justa e assertiva?
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REFERÊNCIAS
APPEL, Zélia Malinverni; PUCCI, Viviane Rodrigues. Comportamento pessoal versus comportamento organizacional. Psicol. Am. Lat., México , n. 9, abr. 2007 . Disponível aqui.
FELIX, B. O Self que (não) fala: um modelo baseado em identidades sobre voz e silêncio de empregados. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, RJ, v. 18, n. 3, p. 557–571, 2020. Disponível aqui.
MILTERSTEINER, R. K.; OLIVEIRA, F. B. de; HRYNIEWICZ, L. G. C.; SANT’ANNA, A. de S.; MOURA, L. C. Liderança feminina: percepções, reflexões e desafios na administração pública. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, RJ, v. 18, n. 2, p. 406–423, 2020. Disponível aqui.