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ernani buchmann

Equívocos com automóveis 

25/06/2024

O centro do centro de Curitiba sempre foi a região da Boca Maldita, antigamente conhecida como Cinelândia, apelido copiado da região homônima do Rio de Janeiro, mas que fazia sentido. No entorno da então Avenida João Pessoa, depois Luiz Xavier, ao longo do tempo funcionaram pelo menos 16 salões de cinema, do Avenida ao São João, do Plaza ao Ritz, do Lido ao Rivoli.

As pessoas estacionavam seus automóveis sem grandes preocupações e entravam na fila do cinema, depois de conferirem no saguão de entrada de um ou outro, as atrações que estavam sendo exibidas. O que estavam levando, como meus pais diziam. Não havia Estar, assim como o hábito de furtar automóveis era coisa rara. Podia-se deixar o carro sem trancar as portas.

Porém, os equívocos eram constantes, noite e dia. Certa manhã meu pai deixou apressado a Casa Coelho, onde havia comprado uma gravata para evento que teria aquela noite no Rio de Janeiro e entrou num carro estacionado na Praça Osório, com o motorista a postos. Determinou, já sentado no banco traseiro:

– Toca pro aeroporto!

O sujeito, com toda autoridade, respondeu:

– Não toco!

– E por que você não quer fazer esta corrida?

– Porque não sou táxi, o ponto de táxi fica ali a 20 metros, senhor!

Pior fez um meu colega de turma, no Colégio Estadual e na Faculdade de Direito. Seu pai era advogado e professor, além de deputado estadual. Costumava deixar seu carro estacionado na Praça Osório. O filho costumava vir andando desde a Rua João Gualberto, procurava o automóvel, um modelo norte-americano, grande, e ficava esperando pela chegada do pai.

Certa noite, o deputado tinha uma reunião noturna e deixou o carro no local de sempre. Meu colega saiu do cinema, encontrou o automóvel, acomodou-se no banco de trás e cochilou. Acordou com o motor sendo ligado e voltou ao sono. Em determinado momento notou que algo estava errado. O trajeto tinha ficado longo – a família morava na Carlos de Carvalho – e seu pai estava conversando com uma mulher.

Então o carro estacionou e o casal bateu as portas. Ele levantou o pescoço e se descobriu em uma garagem. Em que lugar da cidade, não fazia ideia. Saiu pé ante pé, abriu a porta encostada da garagem, pulou o muro da casa e escafedeu-se. Foi descobrir que aquele casal morava na Colônia Argelina, um pequeno bairro em torno da estação de trem do mesmo nome, logo acima do Graciosa Country Club.

A solução foi voltar a pé para casa, porque havia gasto sua mesada comprando a entrada do cinema e um pacote de Mentex. O que fez, mastigando pelo caminho o último gomo da guloseima.

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