Com força e emoção, a escritora moçambicana Paulina Chiziane abriu na noite desta quarta-feira (27) o aguardado I Festival da Palavra de Curitiba. O Memorial de Curitiba, palco principal do evento, ficou lotado de fãs da autora que estavam ansiosos para conhecer de perto a primeira mulher negra africana a receber o prestigioso Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa.
A convidada de honra nasceu em Manjacaze, em 1955. Paulina Chiziane é uma das vozes literárias mais influentes de Moçambique. Em 1990, ela lançou Balada de Amor ao Vento, tornando-se a primeira mulher moçambicana a publicar um livro. Suas obras são repletas de protagonistas femininas fortes e carregam muitas referências à história de Moçambique.
“A palavra é o lugar onde tudo começa, ela tem alma. A literatura é esse espaço de lutas que vou usando para reconstruir o mundo”, disse Paulina, assim que subiu ao palco para o primeiro bate-papo do festival, que contou com mediação de Sandra Stroparo.
Pouco antes, a Fundação Cultural de Curitiba preparou uma surpresa para a abertura do festival. Um grupo de artistas declamou trechos de poesias e textos dos autores homenageados do festival: a uruguaia Ida Vitale e o curitibano Dalton Trevisan.
A presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro, enfatizou a importância do Festival da Palavra para as questões afirmativas da sociedade.
“Este festival comprova a força da voz feminina na literatura e amplifica temas como a questão de gênero e da igualdade racial. No entanto, o universo da palavra vai além. Poesia, história, literatura infanto-juvenil, incentivo à leitura, ativismo e especialmente muita criatividade estarão aqui por meio da palavra de grandes nomes da literatura estrangeira, brasileira e paranaense”, destacou Ana Castro.
Arma da libertação
No encontro com o público curitibano, Paulina falou brevemente sobre as diferenças culturais entre o Norte e o Sul de Moçambique, sobre a força da mulher africana, dos preconceitos, e destacou a descolonização, afirmando que o maior crime histórico cometido pelos colonizadores europeus foi escrever sobre o povo africano.
“Com a palavra, o ocidente suicidou os povos africanos”, declarou a autora. Por outro lado, ela enfatizou a força que as palavras têm para reconstruir o mundo. “A palavra é a arma da libertação”, ressaltou.
Para a médica curitibana Nádia Almeida, a escritora moçambicana representa a história de muitas mulheres afrodescendentes. “Eu me reconheço em cada palavra que ela falou aqui. Estou muito emocionada”, disse.
A bióloga e professora da Universidade Federal do Paraná Claudemira Lopes compartilhou seu entusiasmo: “Senti um orgulho enorme de morar em Curitiba. A programação desse festival é tão incrível que é difícil até escolher. Quem teve a ideia desse festival está de parabéns, está realmente impecável.”
Até domingo (1º/10), o I Festival da Palavra de Curitiba receberá cerca de 150 escritores e escritoras nacionais e internacionais para conversas, lançamentos de livros, oficinas. O evento tem ainda sessões de filmes, saraus, exposição e promete continuar emocionando e inspirando o público com mais encontros literários, debates e apresentações ao longo da programação.
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