O Paraná adicionaria cerca de R$ 1,6 bilhão a sua economia anualmente se as condições de infraestrutura do Estado fossem adequadas para atender com eficiência a demanda do setor produtivo. A estimativa foi apresentada pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) nesta segunda-feira (8), durante reunião do Conselho Temático de Infraestrutura da entidade que debateu o panorama atual e perspectivas da logística de transportes do Estado. Durante o encontro, que teve participação de embarcadores, representantes do Poder Executivo estadual e parlamentares paranaenses, o presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), desembargador Luiz Fernando Tomasi Keppen, anunciou a criação de uma comissão interinstitucional com o objetivo de buscar soluções para eventuais impasses no âmbito do Judiciário que estejam travando projetos de infraestrutura.
O presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos, ressaltou que a reunião faz parte de uma mobilização promovida pela entidade, desde abril, para discutir o planejamento da infraestrutura paranaense, tendo como foco as projeções de crescimento do setor produtivo. “O que chamou a atenção nessas reuniões prévias é que os industriais colocavam uma previsão de crescimento muito grande até 2030. Então, se estamos tendo problemas atualmente, isso pode se agravar nos próximos anos, por isso é fundamental planejar a infraestrutura logística portuária, retro portuária, ferroviária e rodoviária necessária para suportar esse crescimento”, explicou.
Para Vasconcelos, a falta de uma previsibilidade sobre os projetos de expansão da infraestrutura logística pode inclusive inibir novos investimentos produtivos no Estado. “Ou nós entendemos o que realmente o setor produtivo precisa, ou teremos que mandar um sinal para o setor produtivo parar de produzir. Então, precisamos calibrar o entendimento entre aquilo que o setor produtivo está projetando e aquilo que temos de planejamento a médio e longo prazo na infraestrutura”, completou.
Diferença bilionária
Para ter mais subsídios sobre essa demanda por infraestrutura, a Fiep contratou um estudo com o objetivo de mapear o transporte de cargas atual no Paraná e as perspectivas de crescimento nos próximos anos. Um dos cálculos apresentados durante a reunião pelo consultor Luiz Henrique Dividino mostra que, atualmente, o produtor paranaense gasta cerca de US$ 97 para exportar uma carga de 1 tonelada para a Ásia – um dos principais mercados dos produtos paranaenses. Desse valor, 62% se referem ao custo logístico interno, para levar essa carga do interior até os portos, enquanto os outros 38% são do transporte do porto até a Ásia.
Nas projeções, caso o Paraná possuísse uma logística de transporte intermodal eficiente, os custos para exportar essa mesma carga cairia para US$ 82. Levando em conta o montante total exportado pelo Paraná via Porto de Paranaguá em 2023, a economia gerada por essa melhoria na infraestrutura poderia chegar a praticamente R$ 1,6 bilhão ao ano. “Esse dinheiro ninguém ganha, esse dinheiro é jogado fora todo ano”, destacou Dividino.
Entre os segmentos que sentem na prática o impacto desse custo logístico está o das cooperativas. Presente na reunião, o superintendente do Sistema Ocepar, Robson Mafioletti, destacou que as cooperativas paranaenses movimentam anualmente em torno de 40 milhões de toneladas de cargas. “São produtos de médio e baixo valor agregado, então a logística tem que estar funcionando adequadamente, não ter nenhuma interrupção, para que a gente possa escoar no mercado interno, mas principalmente para exportação”, disse, ressaltando ainda que as cooperativas vêm em constante crescimento. “O cooperativismo tem um plano de crescimento desde a década de 1970. Agora em 2023 chegamos a R$ 200 bilhões de faturamento conjunto e temos projetos enormes de agroindústrias. Se não houver investimentos em infraestrutura, podemos ir mais devagar”, explicou.
De acordo com o estudo encomendado pela Fiep, entre esses investimentos necessários estão aqueles já previsto no novo modelo de concessão de rodovias do Paraná. Além disso, outros projetos precisam ser debatidos profundamente e com urgência. Entre eles, a ampliação e melhoria de eficiência da estrutura ferroviária, convergindo os investimentos que devem ocorrer com a renovação ou nova licitação da chamada Malha Sul com as ações da Ferroeste. Além disso, considera fundamental a liberação da construção de três portos privados no litoral do Paraná, projetos que ainda esbarram especialmente em questões de licenciamento.
Destrava Logístico
Durante a reunião do Conselho Temático de Infraestrutura da Fiep, o presidente do TJPR, desembargador Luiz Fernando Tomasi Keppen, informou que o Tribunal vai lançar uma iniciativa para, justamente, tentar dar mais agilidade às questões ligadas à infraestrutura que sejam alvo de ações judiciais. “Vamos criar uma câmara, um fórum de soluções para esses problemas logísticos. Vamos tentar a mediação dessas questões com o projeto Destrava Logístico do Tribunal de Justiça”, afirmou. “Vamos convidar vários segmentos para que estejam conosco a fim de que a gente possa conhecer essa realidade e, a partir dela, propor soluções no sentido consensual em torno de projetos de interesse do Estado. Nós vamos buscar, através de um diálogo interinstitucional, a construção de um caminho possível para a solução daquela situação”, completou.
Para o desembargador, essa iniciativa pode trazer efeitos práticos para a economia do Paraná em curto prazo. “Eu vejo que nós precisamos sempre pensar que temos uma população em crescimento, o que demonstra uma economia pujante. E, sobretudo, a gente tem que pensar também nos empregos, na renda e que isso pode alavancar progresso e desenvolvimento. Então, o Poder Judiciário se coloca como um elo que, a partir de um diálogo, vai promover a possibilidade de encontrar soluções para problemas difíceis e graves do estado do Paraná”, destacou.
Representatividade política
A reunião desta segunda-feira teve, ainda, teve as presenças dos secretários de Estado da Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, e da Indústria, Comércio e Serviços, Ricardo Barros, além dos diretores-presidentes da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, da Ferroeste, André Gonçalves, e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), Fernando Furiatti Sabóia. Também participaram o deputado federal Toninho Wandscheer, coordenador da bancada do Paraná em Brasília, e os deputados estaduais Luiz Claudio Romanelli, Luiz Fernando Guerra, Pedro Paulo Bazana, Requião Filho e Fabio Oliveira.
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