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28/04/2024



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Flores em vida

 Flores em vida

Além de poetas, músicos, teatrólogos e cineastas, nossa turma tem artistas gráficos do calibre de um Solda e de um Cesar Marquesini. Numa bela iniciativa da dupla de produtores do Radiocaos – Rodrigo Barros e Samuel Lago – o projeto “Flores em Vida” é uma homenagem aos muitos artistas ativos de Curitiba, que merecem reconhecimento já, como na música do Nelson Cavaquinho. O começo dessa série, que se pretende levar adiante, é “Flores em Vida – Solda & Marchesini “, um livro de cartuns, experiências gráficas e digitais, com projeto gráfico do artista plástico Guinski.

O ilustrador Cesar Marchesini tem uma longa trajetória como publicitário. Passou por algumas grandes agências de São Paulo, a partir de 1973: JW Thompson, FBA & Levi, Proeme, CBBA Castelo Branco e DPZ, onde atendeu, entre outros, os seguintes clientes: Zorba, Calvert, Rede Zacarias, Garbo, Phillip Morris, MobilOil, Editora Abril e Banco Itaú. De volta a Curitiba, formou a primeira equipe da Exclam Propaganda e trabalhou, também, em diversas agências locais, entre elas: Umuarama Comunicação, Heads e Casulo. Atendeu clientes como Bamerindus, Prefeitura de Curitiba, Governo do Paraná, IBC, Banestado, Vogue, Móveis Oggi, O Boticário e Grupo Prosdócimo. Conquistou diversos prêmios locais, nacionais e internacionais, entre eles o primeiro Leão de Ouro de Cannes da propaganda paranaense e uma Estrela de Prata do Clube da Criação/SP, além do Colunistas Nacional de 1977 com o filme “Esquimó”, da Refrigeração Paraná este premiado novamente em 1999 como o melhor do milênio.

 

 

Apesar desta carreira de sucesso, Marchesini sempre desejou se dedicar à criação de cartuns. Em 2010, aos 60 anos, foi convidado por Benett para entrar no time de cartunistas da Gazeta do Povo, junto com Paixão, Thiago Recchia e Felipe Lima. Sua coluna fixa de humor perdurou até 2016 e desde então, Cesar publicou em dezenas de jornais de todo o Brasil. Como ilustrador e artista gráfico participou de diversas exposições locais, nacionais e internacionais. As ideias para as tirinhas são retiradas de leituras, filmes e, principalmente, de observações do cotidiano. “Se venho da padaria, faço uma tira sobre padaria. Se lembro da morte que, aliás, está me espreitando, faço uma sobre a morte. O humor não tem freio, sai”, brinca Marchesini.

Já Luiz Antonio Solda conheci no início dos anos 80, primeiro como poeta. Ele tinha lançado um livro de haikais chamado 69 em parceria com Thadeu Wojciechowski , num formato gráfico bem peculiar: era tão pequeno que acabei perdendo meu exemplar. Ele nunca parou de poetar, tanto que neste livro há uma ala chamada “Ostras Parábolas” com seus poemas visuais. Solda se autodefine como cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga . Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo “Se não for divertido não tem graça”.

A paixão pelo desenho começou quando Solda ainda era criança. O menino Luiz Antonio morava em uma rua de terra batida e nessa época, junto com um amigo chamado Sapo, desenhava figuras com jatos d’água no chão. Já era uma espécie de Bansky da época.

Trabalhou em quase todos os jornais do Paraná, entre eles o “Diário do Paraná”, “Estado do Paraná”, “Correio de Notícias” e “A Voz do Paraná”. O trabalho politizado e cáustico de Solda o transformou em um dos grandes do cartum brasileiro.

Foi premiado em vários salões pelo país; venceu duas vezes o “Salão de Humor de Piracicaba” (SP). Com o dinheiro que ganhou no salão comprou um Fusca e um guarda-roupa.

 

Carrasco – quarto Lugar no Salão de Humor de Piracicaba de 1975

 

Depois de ler estas duas baitas biografias, resta degustar “Flores em Vida – Solda & Marchesini “, que será lançado em outubro próximo na Biblioteca Pública do Paraná. Maiores detalhes do lançamento serão publicados aqui no HojePR.

O autor das duas geniais Apresentações do livro é o poeta Roberto Prado. Ninguém pra conhecer melhor o Solda, casado que é com sua irmã Vera. Finalizo então esta resenha com o Beco apresentando o Solda:

 

O outro ao lado

– Você aí, tá rindo de que?

De vez em quando, ressoa essa ameaça disfarçada de pergunta que o outro, sempre ele, o cara pálida, traz na ponta da língua dividida, quando imagina que a piada é ele.

Aí você escapa com alguma dificuldade pela enorme tangente bombada do brutamontes e aponta para o Solda, que, nesse momento, estará quieto lá no canto dele, sossegado, matutando seus outros mesmos assuntos:

– A piada é dele, meu negócio é dar risada.

O humor do Solda – que pilota um espaço nas redes não por acaso batizado de Solda Cáustico – tem, como matéria-prima, justamente, a graça involuntária de todos os tipos de fortões de dedo em riste.

Porém, não ria agora. Pelo menos não assim tão depressa: os outros dele somos todos nós. O próximo pode ser você, nos piores momentos de estúpido narciso escorregando em câmera lenta nas pequenas áreas da vida. E que atire o primeiro ego magoado aquele que dentre vós nunca rolou nesse pântano de almas gemendo de fratura exposta no osso do próprio ridículo.

Mas os outros, como as pombas do Raimundo Correia, são muitos. E o Solda é um só. Vai-se outro e outro mais e mais outro, enfim dezenas de milhões de outros que se alvoroçam e levantam voo a qualquer comando do gato mestre do fabulista Perrault, lembra dele? Isso, o felino falante que “ameaça, lisonjeia, engana e furta para fazer de seu dono o senhor do reino”.

Por isso mesmo o Solda não tem dó na hora de expor e, rindo além, tacar uma pimentinha nas feridas daqueles que, em seus arroubos de falsa moralidade, se multiplicam como cogumelos nessas vésperas de fim do mundo. Denunciar o vexame é sua forma de amar. Cáustica.

É tão engraçado que dói. É de chorar de rir. É de rolar. É de se aplaudir de pé:

– É com você mesmo, por que, vai encarar?

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