Depois de reunir uma multidão que fez fila para garantir um lugar no Teatro Guaíra, o cineasta Francis Ford Coppola teve seu primeiro compromisso na capital paranaense na manhã desta quinta-feira (31). O americano, diretor de clássicos como a trilogia “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now”, ministrou uma masterclass sobre cinema em parceria com a Universidade Tuiuti no palco do teatro.
O encontro ocorre 21 anos depois de sua primeira visita a Curitiba. Coppola está na cidade para o lançamento do filme “Megalópolis”, que teve a capital paranaense como inspiração, e também para receber a comenda da Ordem do Pinheiro, a mais alta honraria do Estado.
Na plateia do Guaíra, formada principalmente por estudantes de cinema, a primeira a chegar foi a estudante de 19 anos, Clara Trentino. “Cheguei às 6h, muito animada. Os filmes dele mudaram minha perspectiva sobre o cinema. Nunca imaginei ter essa oportunidade de aprender com Coppola sobre cinema”, falou, empolgada.
Quem também madrugou para conseguir um bom lugar na plateia foi a estudante Sofia Farhat Prá. “Dormi meia-noite e acordei às 5h30, fiquei na fila. É uma sensação de realização. Trouxe meu DVD de O Poderoso Chefão, porque vai que consigo um autógrafo? Ele revolucionou o cinema, tudo nele é inspirador. É emocionante poder vê-lo tão de perto”, disse.
Além dos estudantes de cinema, o público geral também aproveitou a oportunidade. Com quase seis décadas de carreira, a atriz Regina Vogue, importante personalidade do teatro curitibano, estava igualmente empolgada com a aula de Coppola. “É o poderoso chefão, quem não vai querer ver?”, brincou. “Fico muito feliz de ver essa moçada, porque é também com o novo que a gente aprende. É uma sorte para Curitiba e para o Paraná”.
Coppola subiu ao palco do Guaíra e, esbanjando simpatia, avisou de imediato que estava ali para conversar sobre cinema e tirar dúvidas dos jovens estudantes. Com 25 filmes na carreira, cinco Oscars e tantos outros prêmios, Coppola falou muito pouco sobre si e focou em dividir “segredos” — como ele mesmo chamou — que aprendeu nos mais de 60 anos como diretor.
“Não existe arte sem risco; você precisa mergulhar no desconhecido”, disse. “O cinema é uma arte tão nova que podemos dizer que todos nós que fazemos cinema somos um pouco estudantes”.
A principal dica que deu aos participantes da masterclass foi a de escrever todos os dias. “E nunca volte para ler. Espere alguns dias para isso, senão você vai odiar e vai começar sempre de novo. Também escolha um momento do dia para isso. Eu, por exemplo, escrevo logo cedo, porque de manhã meus sentimentos ainda não foram feridos”, brincou.
Com muita energia, Coppola quebrou o protocolo e, por iniciativa própria, abriu espaço para perguntas e com muita paciência respondeu a cada uma até ser interrompido – pela quarta vez – pela própria produção para dar sequência na agenda programada para o dia.
Mesmo com a agenda apertada, o diretor fez questão de revisitar alguns pontos turísticos de Curitiba. Na sua estadia em 2003, ficou três semanas da cidade e nesta quinta-feira, além de andar pela Rua XV de Novembro, também entrou em uma estação-tubo. O transporte público da cidade foi inclusive citado pelo cineasta durante a masterclass. “Estamos em 2024 e Curitiba segue sendo uma referência, os ônibus daqui [biarticulados] são uma inovação”, salientou.
Ousadia
A aula desta quinta é resultado direto da ousadia de duas décadas atrás da professora Denize Araújo, coordenadora do curso de cinema da Universidade Tuiuti, que, ao saber da presença do cineasta na cidade em 2003, deixou um bilhete convidando-o para uma fala de 30 minutos para seus alunos. “Ele apenas respondeu que meia hora era muito pouco. Foi e ficou três horas”, relembrou.
Ao saber que Coppola voltaria a Curitiba, Denize resgatou a troca de e-mails da época e se lembrou de que a última resposta era dele, dizendo que tinha adorado a oportunidade e que poderiam marcar de novo. “Respondi apenas que agora era a chance dele. Deu certo”, divertiu-se.
Inspiração para “Megalópolis”
Francis Ford Coppola aproveitou a oportunidade para falar sobre o seu mais recente lançamento, “Megalópolis”, e explicou a ligação direta com a cidade de Curitiba. “Quando eu era novo, quis escrever um filme sobre um mundo melhor e comecei a visitar lugares e cidades. E aí cheguei a Curitiba, que deu exemplo de como, com talento e ideias, você pode resolver problemas”, disse.
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(Foto: Roberto Dziura/ AEN)