Por Jaine Vergopolem
As galerias comerciais de Curitiba surgiram como uma solução inovadora para o comércio urbano, especialmente em uma época em que as ruas eram a principal opção para compras e lazer. Elas não só abrigaram (e ainda abrigam!) uma variedade de lojas, mas também se tornam refúgios para os pedestres nos dias frios e chuvosos da capital paranaense. Surgindo a partir da década de 1950, as galerias rapidamente se proliferaram, principalmente ao longo da Rua XV de Novembro, interligando com a Marechal Deodoro.
Karin Romanó, uma estudiosa das memórias de Curitiba, compartilha suas impressões pessoais sobre as galerias. Segundo ela, esses espaços foram sem dúvida os precursores dos shoppings modernos. “O que eu tenho a dizer nunca tem muito valor histórico, são mais impressões minhas que mesclo com informações que pinço por aí”, disse Romanó, lembrando com nostalgia das famosas galerias da cidade. Cada galeria deixava uma impressão marcante: “a Galeria Lustosa, por exemplo, era conhecida pelo médico otorrino que atendia no edifício, a banca de jornais do Jaimito e o Café Alvorada, onde homens se reuniam para tomar café e ler a lista de falecidos do dia”, conta ela.
A primeira galeria de Curitiba foi a Galeria Andrade, que ligava a Praça Generoso Marques com a Rua Presidente Faria. Outra galeria que merece menção é a Galeria Minerva, com sua iluminação ampla e estrutura larga, dava a impressão de um leve desnível em relação à Rua XV, onde os visitantes pareciam descer ao adentrar.
O Plano Agache
O desenvolvimento urbano de Curitiba e a inclusão de galerias comerciais remontam ao Plano Agache, de 1943. Alfred Agache, um renomado arquiteto e urbanista francês, foi o responsável por elaborar esse plano. Ele foi escolhido para desenvolver o projeto de Curitiba devido à sua visão abrangente e inovadora, que propunha organizar o crescimento urbano de forma ordenada, prevendo não apenas a infraestrutura necessária, mas também a criação de espaços modernos e funcionais como as galerias comerciais.
De acordo com Guinski (2002), o Plano Agache previa a implementação de galerias em prédios centrais, assim como mercados municipais, uma cidade universitária, um hipódromo, um centro de exposições, a remodelação de praças e a criação de parques. Guinski é um autor que estudou o impacto e as especificidades do Plano Agache, analisando como essas diretrizes influenciaram o desenvolvimento urbano de Curitiba.
Para incentivar a construção dessas galerias, o Decreto Nº 184 foi instituído, oferecendo incentivos para a implantação de galerias comerciais e edifícios de uso habitacional na Zona Central. O decreto estabeleceu condições específicas, como a localização da galeria no pavimento térreo e o acesso transversal ao logradouro público, além de estipular que as lojas ocupassem pelo menos dois terços da extensão da galeria.
Essas galerias comerciais, além de promoverem o comércio local, também foram um marco na modernização urbana de Curitiba, oferecendo um ambiente organizado e funcional. Conforme destacado por Carollo (1999), outro estudioso do Plano Agache, o plano também codificou as edificações e estipulou o recuo obrigatório dos prédios para ampliar calçadas e ruas, uma prática ainda observada na Curitiba contemporânea.
Na próxima semana, vamos falar sobre o impacto das galerias comerciais no urbanismo da cidade de Curitiba, não perca!
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