Nessas viagens pelo mundo do vinho você acaba encontrando gratas surpresas. Ao longo dessa minha litragem/rodagem tenho me deparado com diferentes tipos de produtores: grandes, médios, pequenos, minúsculos, gente capitalizada e gente quebrada, pessoas que produzem ótimos vinhos, e pessoas que acham que fazem bons vinhos mas na verdade são ruins. Propriedades paradisíacas e outras que poderiam ser transformadas em cenários cinematográficos.
Na feira da Essência dos Vinhos encontrei um produtor familiar, uma propriedade que está na família faz 200 anos, localizada na região conhecida como Douro Superior, em Torre do Moncorvo, e que desde 1851 produz vinhos. Na bancada estavam pai e filho, duas gerações distintas mas com um mesmo objetivo, promover o vinho do Douro e implementar um projeto de enoturismo para agregar valor à Quinta da Silveira.
Num evento como o que aconteceu no Porto, com mais de 400 produtores, você acaba experimentando de tudo, e quando encontra alguma coisa muito boa, você para e começa a conversar, foi o que aconteceu com os vinhos da Quinta da Silveira. Enquanto Manuel Oliveira Martinho, o pai, cuidava da apresentação dos vinhos do Porto, Manuel Oliveira Martinho Filho tratava de apresentar os brancos e tintos produzidos por eles.
Manuel Filho esteve no Brasil, mas precisamente em Santos, para fazer um intercâmbio de 6 meses no Projeto Erasmo. Neste período acredito que ele ganhou um pouco do espírito brasileiro, ficou mais leve, mais brincalhão. Me ative em dois vinhos, dois tintos. O que mais me chamou a atenção, pelo custo benefício, foi o Quinta da Silveira Reserva, safra 2017. Um ótimo vinho, com preço de prateleira, aquele que é o preço para o consumidor final, na faixa dos 15 euros, que facilmente poderia custar o dobro que estaria muito bem colocado no mercado.
São quatro uvas tipicamente portuguesas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz. Um vinho que passa por barricas de carvalho, que na taça tem uma cor Ruby bem forte, quase negra, com aromas de frutas secas, frutas vermelhas e silvestres, e na boca ele é muito bem equilibrado, com final longo e taninos suaves mas bastante presentes. Um vinho para acompanhar carnes, massas, ou apenas pão e embutidos.
A Quinta da Silveira é uma propriedade “raiz”. Agricultura familiar, colheita manual, eles são contra a mecanização por conta da relação que a família tem com os trabalhadores da propriedade, mecanização significa demissão, e na Quinta da Silveira os trabalhadores fazem parte da família. A maceração das uvas até hoje é feita em lagares de granito, pisa à pé, uma tradição mantida com força e fé. Esse vinho já esteve no mercado brasileiro, mas na pandemia, o importador de pequeno porte não suportou os custos de logística. Você pode encontrar este vinho em lojas on-line de Portugal que enviam para o Brasil. Se tiverem a oportunidade experimentem porque vale cada centavo.
Dica da semana
1 – vinho tinto Quinta da Silveira. Douro DOC Reserva. Safra 2017. Blend de uvas. 14% de teor alcoólico. No site da portugalvineyards.com por EU$ 15,25
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